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ANÁLISE
Tramitação dos projetos não é transparente
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Desde a sanção da Lei Eleitoral, no último dia 29 de setembro, não param de aparecer
itens cifrados incluídos no texto. Entre as surpresas pós-aprovação estão a redução de
impostos para rádios do interior, a possibilidade de sindicatos fazerem doações indiretas a
políticos e limitação dos poderes de fiscalização do Ministério Público.
No jargão politiquês de Brasília, são "jabutis" colocados
em galhos da legislação. Se estão lá, alguém teve o trabalho
de conduzi-los. Assim como os
quelônios não sobem em árvores, essas emendas não nascem
por geração espontânea.
A gênese do problema é a Lei
Eleitoral ser sempre elaborada
por deputados, senadores e assessores num processo apressado e pouco transparente.
Nesse ambiente poroso, muita
coisa acaba aprovada e poucos
tomam conhecimento.
A pressa decorre da concentração dos debates e da aprovação no mês de setembro, a tempo de a lei valer na eleição do
ano seguinte. As regras precisam estar em vigor, pelo menos, 12 meses antes do pleito.
A falta de transparência se
instala porque muitas vezes a
votação é realizada com base
em emendas verbais -os congressistas e a mídia nem sequer
recebem cópia do texto que efetivamente está sendo aprovado. Aprova-se algo confiando
numa redação a ser preparada
posteriormente.
Noite da votação
Foi o que se passou na noite
de 16 de setembro. A cúpula da
Câmara anunciou a votação da
Lei Eleitoral derrubando todas
as emendas incluídas pelo Senado. A única alteração a ser
mantida seria a liberalização da
internet durante o processo
eleitoral. Era mentira.
Foi incluída uma alteração
equiparando a web ao rádio e à
televisão para efeito de realização de debates eleitorais. Nenhum deputado federal recebeu a alteração por escrito. O
relator do texto, Flávio Dino
(PC do B-MA), leu a emenda ao
microfone no plenário. Poucos
se deram conta. Quando o presidente Lula sancionou a lei,
vetou esse trecho.
Essa votação da Câmara foi
exemplar de como o processo
legislativo muitas vezes é ligeiro. O texto chegou do Senado
para os deputados às 19h01 do
dia 16 de setembro. Às 20h38, o
projeto já estava em votação
em plenário, com as alterações
sendo anunciadas apenas verbalmente. Às 23h10, Michel Temer encerrou a votação, sob
aplausos de todos, dizendo ter
sido "uma noite muito próspera para o Parlamento".
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