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VIAGEM OFICIAL
Ministro das Comunicações ficou em hotel de luxo em Madri
Telefónica paga estadia
para Mendonça de Barros
ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio
ISABEL CLEMENTE
enviada especial a Madri
A Telefónica de España, maior
empresa de telecomunicações do
Brasil, pagou ontem a diária do
hotel mais luxuoso de Madri para
o ministro das Comunicações,
Luiz Carlos Mendonça de Barros.
O ministro chegou a Madri anteontem e foi embora ontem. Segundo ele disse antes de embarcar,
o objetivo da viagem era "acalmar investidores estrangeiros" em
relação ao futuro do país. Depois
de Madri, o ministro foi para Roma e, na sequência, iria para Paris.
Em Madri, hospedou-se no hotel
mais luxuoso da cidade, o Palace.
A multinacional reservou para o
ministro uma suíte de US$ 520 a
diária.
Com a privatização da Telebrás,
a Telefónica se tornou a maior empresa de telefonia do Brasil.
Tem sob seu comando a Telesp
fixa (5,5 milhões de assinantes), a
Tele Sudeste Celular (980 mil assinantes), a gaúcha CRT (1,9 milhão
de assinantes) e ainda participa
acionariamente da Telesp Celular
(1,5 milhão de assinantes) e da Tele Leste Celular (220 mil assinantes).
Mendonça de Barros é um dos
ministros mais fortes do governo.
Depois de substituir Sérgio Motta
nas Comunicações e concluir a
privatização da Telebrás, é cotado
para ocupar o superministério da
Produção, anunciado anteontem
pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
Ele embarcou terça-feira à noite
para Madri, onde chegou no início
da tarde do dia seguinte.
Descansou por algumas horas
no hotel e, acompanhado por funcionários da Telefónica, seguiu
para a sede da empresa, na Gran
Via (centro de Madri), onde o próprio presidente da companhia,
Juan Villalonga, o aguardava na
portaria. Quando a reunião começou, já era noite.
Ao deixar o hotel, na manhã de
ontem, o ministro pagou apenas
as despesas extras (como telefonemas), que somaram US$ 200. O
pagamento da diária ficou por
conta da agência de viagens El
Corte Inglés, que, por sua vez, foi
contratada pelo gerente de relações institucionais da Telefónica,
em Madri, Carlos Sieiro.
As informações sobre quem pagou a diária do ministro foram
checadas pela Folha na recepção
do hotel, na agência El Corte Inglés e na própria Telefónica.
Segundo o Ministério da Administração Federal e Reforma do
Estado, os ministros recebem diária de US$ 330 para pagamento de
hospedagem, transporte local e
alimentação quando estão em viagem oficial na Espanha, França e
EUA. A tabela varia de acordo
com o custo de vida em cada país.
Na terça-feira, antes de embarcar para Madri, o ministro afirmou que iria tranquilizar as empresas de telecomunicações que
investiram no Brasil.
"Os investidores estão meio
nervosos com toda essa situação", afirmou, referindo-se à
crise financeira mundial.
Outro objetivo da viagem, segundo ele, era convencer a Telecom Italia a antecipar o pagamento das ações das empresas Tele
Centro Sul, Tele Sul Celular e Tele
Norte Celular, que adquiriu no leilão da Telebrás, em 29 de julho.
Ou seja, o ministro tentaria repetir com os italianos a operação
que acabara de fazer com a Telefónica de España, com a Iberdrola e
com a Portugal Telecom.
Na quinta-feira da semana passada, as três compraram US$ 3,88
bilhões em títulos de dívida emitidos pelo BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e
Social) como antecipação do pagamento da Telesp fixa, Tele Sudeste e Tele Leste Celular.
Mudança de trajeto
O "Diário Oficial da União"
de sexta-feira passada publicou a
autorização de Fernando Henrique Cardoso para que o ministro
se afastasse do país entre os dias 5
e 15 de outubro. O despacho dizia
que ele participaria de um seminário da UIT (União Internacional
de Telecomunicações) em Minneapolis (EUA), de uma solenidade na Bolsa de Nova York e que
iria a Paris e Roma "tratar de assuntos daquele ministério".
O roteiro publicado no "Diário Oficial" não incluía Madri. O
ministro mudou o programa e desistiu da visita aos Estados Unidos.
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