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TRANSIÇÃO
Assessor de FHC acredita, porém, que conselho proposto por Lula pode produzir "consensos" úteis ao Congresso
Governistas temem criação de "quarto poder"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na avaliação de partidos e de
integrantes do governo o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social proposto pelo PT
tanto pode atrapalhar como ajudar a governabilidade. E será um
desastre se cair na tentação de se
transformar em uma espécie de
quarto poder.
O conselho seria uma espécie de
órgão consultivo, vinculado à
Presidência da República, para
tentar "consensos mínimos" para
as reformas e políticas de desenvolvimento econômico e social no
futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Ajuda à medida que estabelece
consensos sobre temas gerais,
mas atrapalharia no caso de dissensão, pois estreitaria a margem
de manobra do Congresso para
resolver o tema sobre o qual houver impasse, como acredita o assessor especial da Presidência da
República, Eduardo Graeff.
Ele faz questão de ressaltar que
fala na condição de cientista político, e não na de assessor do presidente Fernando Henrique Cardoso, que não quer o atual governo
envolvido em polêmica sobre
projetos do governo eleito. "Se a
dissensão for aparente, ficará difícil aprovar projetos até por maioria simples", afirma.
Mas o contrário também é verdade. "O Congresso é sempre sensível a consensos", afirma. Num
Congresso no qual a tônica será a
do equilíbrio das forças políticas,
diferente da ampla maioria forjada por Fernando Henrique, o fórum seria benéfico para o novo
governo, nesse caso.
Espécie de curinga de FHC,
Graeff passou praticamente todos
os dois mandatos do presidente
na articulação política com o
Congresso. Opinião parecida com
a dele tem o presidente do PMDB,
deputado Michel Temer (SP), que
é professor constitucionalista da
PUC de São Paulo.
Para Temer, até hoje ninguém
elaborou uma fórmula mais perfeita para o sistema político democrático que o filósofo francês
Charles de Montesquieu (1689-1755), assentada na divisão dos
três Poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário.
"O fórum poderá ser muito útil,
se funcionar como instrumento
de avaliação e sugestão, que depois serão apreciadas e valoradas
pelo órgão apropriado, que é o
Legislativo", diz Temer. Mas será
negativo se se constituir em "instrumento de pressão, porque estabeleceria o litígio".
"O que não pode é se criar um
quarto poder. O Congresso é o
melhor lugar para revelar as tendências sociais, tanto as dos partidos, como as das representações
corporativas e nacionais. É o
amálgama da sociedade."
Pressão
Para José Aníbal (SP), presidente nacional do PSDB, se o conselho proposto pelo PT enveredar
pelo caminho da pressão "será
desastroso". Ele considera o conselho anunciado pelo PT um "arremedo" de pacto social. "Se essa
fosse a intenção, eles teriam chamado os outros partidos", diz.
Graeff acha que é uma idéia que
"pode dar certo", principalmente
se o conselho se ativer a temas gerais como a fome, meio ambiente
e Aids, por exemplo.
O risco de o conselho vir a ser
instrumentalizado pelo PT, como
críticos do partido alegam que
ocorre na elaboração do Orçamento participativo em algumas
prefeituras petistas, é minimizado
pelo cientista político. "No plano
nacional, é muito difícil de acontecer", afirma Graeff.
Anteontem, Lula apresentou
para cerca de 150 empresários,
sindicalistas e integrantes de movimentos sociais um esboço do
conselho.
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