São Paulo, sábado, 09 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Assessor de FHC acredita, porém, que conselho proposto por Lula pode produzir "consensos" úteis ao Congresso

Governistas temem criação de "quarto poder"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na avaliação de partidos e de integrantes do governo o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social proposto pelo PT tanto pode atrapalhar como ajudar a governabilidade. E será um desastre se cair na tentação de se transformar em uma espécie de quarto poder.
O conselho seria uma espécie de órgão consultivo, vinculado à Presidência da República, para tentar "consensos mínimos" para as reformas e políticas de desenvolvimento econômico e social no futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Ajuda à medida que estabelece consensos sobre temas gerais, mas atrapalharia no caso de dissensão, pois estreitaria a margem de manobra do Congresso para resolver o tema sobre o qual houver impasse, como acredita o assessor especial da Presidência da República, Eduardo Graeff.
Ele faz questão de ressaltar que fala na condição de cientista político, e não na de assessor do presidente Fernando Henrique Cardoso, que não quer o atual governo envolvido em polêmica sobre projetos do governo eleito. "Se a dissensão for aparente, ficará difícil aprovar projetos até por maioria simples", afirma.
Mas o contrário também é verdade. "O Congresso é sempre sensível a consensos", afirma. Num Congresso no qual a tônica será a do equilíbrio das forças políticas, diferente da ampla maioria forjada por Fernando Henrique, o fórum seria benéfico para o novo governo, nesse caso.
Espécie de curinga de FHC, Graeff passou praticamente todos os dois mandatos do presidente na articulação política com o Congresso. Opinião parecida com a dele tem o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), que é professor constitucionalista da PUC de São Paulo.
Para Temer, até hoje ninguém elaborou uma fórmula mais perfeita para o sistema político democrático que o filósofo francês Charles de Montesquieu (1689-1755), assentada na divisão dos três Poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário.
"O fórum poderá ser muito útil, se funcionar como instrumento de avaliação e sugestão, que depois serão apreciadas e valoradas pelo órgão apropriado, que é o Legislativo", diz Temer. Mas será negativo se se constituir em "instrumento de pressão, porque estabeleceria o litígio".
"O que não pode é se criar um quarto poder. O Congresso é o melhor lugar para revelar as tendências sociais, tanto as dos partidos, como as das representações corporativas e nacionais. É o amálgama da sociedade."

Pressão
Para José Aníbal (SP), presidente nacional do PSDB, se o conselho proposto pelo PT enveredar pelo caminho da pressão "será desastroso". Ele considera o conselho anunciado pelo PT um "arremedo" de pacto social. "Se essa fosse a intenção, eles teriam chamado os outros partidos", diz.
Graeff acha que é uma idéia que "pode dar certo", principalmente se o conselho se ativer a temas gerais como a fome, meio ambiente e Aids, por exemplo.
O risco de o conselho vir a ser instrumentalizado pelo PT, como críticos do partido alegam que ocorre na elaboração do Orçamento participativo em algumas prefeituras petistas, é minimizado pelo cientista político. "No plano nacional, é muito difícil de acontecer", afirma Graeff.
Anteontem, Lula apresentou para cerca de 150 empresários, sindicalistas e integrantes de movimentos sociais um esboço do conselho.


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