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São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2003

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TERCEIRO MUNDO

Presidente assina acordos de cooperação

Lula contesta críticas e afirma que só constatou o óbvio sobre a África

Marlene Bergamo/Folha Imagem
O presidente Lula se despede de seu colega da África do Sul, Thabo Mbeki, antes de voltar ao país


ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A PRETÓRIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se despediu ontem da África do Sul dizendo que não falou nada de mais ao afirmar que Windhoek, capital da Namíbia, era tão limpa e bonita que nem parecia a África: "Constatei o óbvio", disse em entrevista, desafiando seus críticos a visitarem a África, antes de interpretarem sua declaração.
"Nem tudo que nós falamos é entendido do jeito que nós gostaríamos que fosse entendido pelas pessoas. Vocês [jornalistas brasileiros] estiveram comigo na viagem. Vocês viram a diferença de cada cidade, de cada rua. Eu constatei apenas o óbvio", disse Lula.
A uma pergunta sobre as críticas que recebeu da oposição e de movimentos negros, disse: "Acho que as pessoas que me criticam, em vez de teorizar, deveriam fazer uma visita pela África para ver as diferenças dentro dos países. Aí quem sabe eles não dirão mais nada". Segundo Lula, alguns países conseguiram a paz há mais tempo e por isso tiveram mais tempo "para se dedicar à construção das coisas em que acreditavam".
Tomou como exemplo a África do Sul: "Vamos pegar este país [África do Sul] como exemplo. Poucos países do mundo tiveram a felicidade de ter um líder da envergadura do [Nelson] Mandela assumindo a presidência depois de tanto tempo em que os negros foram marginalizados", acrescentou, ao lado do presidente da África do Sul, Thabo Mbeki. Ontem, os dois presidentes assinaram acordos de cooperação científica e para evitar que cidadãos de um país que morem no outro paguem o Imposto de Renda duas vezes.
Para Lula, Mandela, principal líder das lutas contra o apartheid, "é o símbolo da paciência, da competência e da habilidade política". Acrescentou que sua grande surpresa quando esteve no país em 1994 foi que, para cada ministro negro, havia um adjunto branco e, para cada ministro branco, havia um adjunto negro. "Obviamente, essa política de paz permitiu que este país avançasse muito mais do que outro que teve de dedicar parte do seu tempo a lutas fratricidas internas. Porque, quando muitos queriam vingança, Mandela soube compor. Nenhum branco foi marginalizado."
"Saio da África do Sul com a alma mais limpa, com o sentido do dever cumprido." Disse ter ficado "muito feliz" quando o embaixador em Pretória, Jório Salgado, revelou que em 11 meses de governo vieram mais ministros e personalidades brasileiras à África do Sul do que nos quatro anos anteriores: "Isso significa que estamos fazendo aquilo que acreditávamos antes, durante e depois da campanha, nas nossas alianças estratégicas com os nossos parceiros da América do Sul e da África".
Integrantes negros da comitiva tentaram reduzir a repercussão da frase infeliz de Lula. A mais incisiva foi a ministra de Promoção da Integração Racial, Matilde Ribeiro: "Não podemos gastar nossa energia com uma frase, quando há um contexto muito maior". Para a ministra da Assistência Social, Benedita da Silva, a reação foi exagerada: "Vocês fizeram a mesma análise da pobreza e da miséria. Existem países diferentes".



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