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São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2003

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TREM DO PARANÁ

Entre os lotados na máquina estadual, estão a mulher e três irmãos do governador; salários chegam a R$ 5,9 mil

Governo de Requião emprega 26 parentes

RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

Mulher, cunhada, três irmãos, dois sobrinhos e dois primos. São pelo menos nove os parentes do governador do Paraná, Roberto Requião, nomeados para a administração direta ou no comando de órgãos públicos importantes.
Mas a prática da gestão familiar não parou por aí. O exemplo do político do PMDB foi seguido por alguns membros da cúpula do seu governo. Caíto Quintana, chefe da Casa Civil e um dos principais auxiliares de Requião, deu emprego a três irmãos e a dois cunhados.
O vice-governador, Orlando Pessuti, colocou a mulher na chefia do seu gabinete. O secretário de Comunicação, Airton Pissetti, tem filha e duas sobrinhas contratadas na administração.
A partir de consulta ao "Diário Oficial", a Folha confirmou a presença de pelo menos 26 parentes de autoridades do governo de Roberto Requião. Os salários oscilam de R$ 1.200 a R$ 5.900.
"Essa cobrança é uma visão pequeno-burguesa", defende Luiz Cláudio Romanelli, presidente da Cohapar (Companhia de Habitação do Paraná).
Romanelli, que tem status de secretário de Habitação de Roberto Requião, colocou a filha de 22 anos, recém-formada em Turismo, para gerenciar dois parques estaduais no IAP (Instituto Ambiental do Paraná).
No comando do porto de Paranaguá (um dos maiores do país), no museu mais badalado do Estado, num simples assessoramento de terceiro escalão da secretaria de Desenvolvimento Urbano ou à frente da mais rica secretaria, o sobrenome Requião de Mello e Silva não sai do noticiário estadual, das TVs e dos jornais.
O irmão Eduardo, candidato derrotado à Prefeitura de Curitiba (PR) na eleição de 2000, controla o segundo mais importante porto público do país e o quinto entre públicos e privados.
Pelo porto de Paranaguá passaram cerca de 27 milhões de toneladas em 2002, gerando uma receita cambial de aproximadamente US$ 4,5 bilhões.
Outro irmão do peemedebista, Maurício, é o secretário de Educação, que comanda um orçamento superior aos R$ 3 bilhões anuais e uma grande massa de funcionários (91 mil professores e outros trabalhadores ligados ao ensino), que representa 51% dos servidores públicos do Estado.
Requião, que se vangloria entre amigos de comandar "o governo mais à esquerda do país", trabalha para colocar Maurício na presidência estadual do PMDB e, assim, pavimentar o apoio do partido para a candidatura do petista Angelo Vanhoni à Prefeitura de Curitiba no ano que vem.

Museu Oscar Niemeyer
Inaugurado sob críticas no ano passado, por causa do custo estimado em R$ 42 milhões, hoje o Museu Oscar Niemeyer, com projeto assinado pelo arquiteto, é a coqueluche da cultura no Paraná.
À frente dele também está um membro da família, a primeira-dama Maristela Quarenghi, que preside a Sociedade dos Amigos do Museu Oscar Niemeyer, uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) criada em maio último. Logo depois, assinou termo de parceria com o Estado para obter pessoal e recursos. A primeira-dama recebe salário pelo trabalho, mas no museu ninguém revelou o valor.
A assessoria informou que só Maristela pode falar sobre o assunto, mas ela passou os últimos dias de folga, recuperando-se de uma cirurgia.
Maristela chamou a própria irmã, Mariane Quarenghi, para trabalhar no museu. A nova assessora cultural do museu é servidora da Prefeitura de Curitiba, mas está licenciada com ressarcimento para a Secretaria de Estado do Meio Ambiente -o governo faz o repasse correspondente ao salário de Mariane no município.
A assessoria do governador afirma que um integrante da família Requião não é remunerado.
Lúcia, irmã do governador, é a presidente da Provopar (Programa do Voluntariado Paranaense), cargo cobiçado por muitos políticos, em razão do elo estratégico que representa com entidades civis e voluntários.
Publicamente, Requião nem sempre pensou assim a respeito da contratação de parentes. Num artigo publicado na Folha em 1994 intitulado "Poder Judiciário ou governo paralelo?", o peemedebista, então no seu primeiro mandato no governo do Paraná, atacou juízes do Paraná que concediam decisões liminares favoráveis a candidatos a cargos no Estado que não obtivessem a nota suficiente em concursos públicos.
Embora não se referisse aos cargos de livre provimento, de confiança, Requião condenava: "Em consequência dessas medidas, o concurso público sério, única forma de profissionalizar o serviço público sem nepotismo, protecionismo ou compadrio, é totalmente desvirtuado".
Na época, fato que passou longe do seu artigo, Requião já empregava pelo menos três parentes: o irmão Maurício, no Instituto de Desenvolvimento de Educação do Paraná, o irmão Eduardo, na Secretaria de Meio Ambiente e de Governo, e o primo Heitor Wallace, na presidência do Banestado (Banco do Estado do Paraná).
Na a última campanha ao governo, em 2002, Requião antecipou que contrataria Maurício para a Secretaria de Educação, se vencesse a disputa. Mas não há registro de que o então candidato tenha avisado previamente o eleitorado sobre os outros cargos entregues a parentes.


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