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São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2003

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QUESTÃO AGRÁRIA

Decisão, aprovada em assembléia do grupo, deve ser seguida por outros acampamentos; Incra já pede antecedentes

Em Ribeirão, MST exige ficha criminal de sem-terra

AFRA BALAZINA
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO

Os sem-terra do acampamento Mário Lago -que é do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), em Ribeirão Preto- tiveram de tirar um atestado de antecedentes criminais a pedido do próprio grupo.
O acampamento de Ribeirão Preto, que abriga hoje 425 famílias, foi o primeiro do MST a pedir a ficha dos sem-terra. A decisão foi aprovada em assembléia do grupo e agora deve ser seguida em outros acampamentos.
A exigência já é feita pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) na entrevista para a seleção das famílias que receberão o lote de terra.
De acordo com Edivar Lavratti, 26, da direção estadual do movimento, o atestado é importante para mostrar à sociedade que o grupo não é formado por bandidos e para diminuir o preconceito contra os sem-terra.
Isso também evitaria que pessoas que tenham problemas com a Justiça se infiltrem no grupo. Para o MST e para o Incra, quem já pagou o que devia à Justiça e que se enquadra nos critérios de seleção pode ser assentada.
De acordo com estatísticas nacionais do Incra, cerca de 5% dos interessados em terras são desclassificados pelo fato de não terem a ficha limpa.
O militante Sirlei Moreira, 34, diz que quatro homens que pretendiam acampar em Ribeirão acabaram tendo de ir embora porque não estavam em dia com a pensão dos filhos. Um deles teria sido preso ao tentar pegar o atestado, já que o crime é inafiançável.
Moreira concorda com a exigência do MST. "É uma forma de provar que não somos um bando de baderneiros", disse.
Aparentemente, a maioria dos acampados aprovou a idéia. Eles tiveram de entregar o atestado para a coordenação, junto com cópia do CIC e do RG.
"É importante saber com quem a gente está vivendo. Tem gente boa e gente ruim nesse mundo. Precisamos saber a conduta da pessoa para não virar bagunça e entrar marginal no meio da gente. Estamos aqui para lutar pela terra e não temos o que esconder", afirmou a acampada Izabel Beloti Gomes, 50.
Alguns deles, apesar de afirmarem que concordam com a exigência, ainda devem a ficha. É o caso de Maria de Fátima Borges, 30. "Não tirei ainda, mas vou tirar, com certeza", afirmou.
"Eu sempre vou para a cidade porque trabalho lá como pedreiro e foi fácil tirar o meu", disse o marido de Fátima, Milton Borges, 38.



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