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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ 2006 À VISTA
Ao comentar entrevista ao "Roda Viva", tucanos repetem que presidente age como se fosse Pedro Álvares Cabral e tivesse descoberto tudo
FHC e Serra ironizam "Lula, o descobridor"
DA REPORTAGEM LOCAL
A piada contada duas vezes. O
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o prefeito de São
Paulo, José Serra, recorreram ontem à mesma ironia ao comentar
a entrevista de véspera do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao
programa "Roda Viva". Os dois
disseram que Lula se comporta
como o Pedro Álvares Cabral -o
descobridor do Brasil- ao assumir a paternidade de todas as benesses praticadas no país.
"O que eu não gosto é dessa história que parece que é Pedro Álvares Cabral: descobriu o Brasil. Tudo é pela primeira vez, pela primeira vez", reagiu FHC, em entrevista à rádio CBN, usando como
exemplo a menção que Lula faz ao
Bolsa-Família. "Ficaria muito satisfeito também se ele dissesse
uma coisa que é verdadeira: "Olha
esse programa Bolsa-Família está
avançando muito, mas ele veio do
programa Bolsa-Escola, de assistência à gestante, de Bolsa-Alimentação"."
Ao falar especificamente dos
números apresentados por Lula
na comparação da atuação dos
dois governos no combate ao desemprego, FHC chamou de deselegante a atitude do presidente.
"Tomara que [a economia] cresça
mais. Estou torcendo a favor. Não
estou torcendo contra, não. O que
não é elegante é ficar comparando
o tempo todo e usando dados
fragmentados para dizer "eu sou o
bacana, sou o melhor". Precisa de
um pouco mais de humildade."
Segundo FHC, "Lula não é bom
em estatística" e repete números
errados sobre os postos de trabalho criados em seu governo. "Alguém tem que dizer "presidente,
preste atenção nos números que
está dando. Não é assim"."
Em Brasília, Serra também sugeriu que o presidente faz bravatas. "Daqui a pouco o Lula vai dizer que quem descobriu o Brasil
não foi Pedro Álvares Cabral, mas
foi ele mesmo. De repente aparece
como autor de tudo", ironizou
Serra, segundo o qual "até as paredes do Congresso sabem que
existiu [o "mensalão']".
Questionado sobre a coincidência, FHC afirmou que não é a primeira vez que faz o comentário.
Serra, por sua vez, brincou: "Pode
mudar para Marechal Deodoro
da Fonseca. Daqui a pouco o Lula
vai dizer que foi ele, não o Deodoro, que proclamou a República".
FHC recomendou "modéstia"
ao presidente para reconhecer os
méritos dos antecessores. "Cada
um puxa um pouco [para si]. Mas
é demais", afirmou.
O tucano chegou a mencionar o
ex-presidente Fernando Collor de
Mello, para ilustrar seu ponto de
vista. Para FHC, a política econômica "é boa" porque "é a mesma"
praticada em seu governo e, hoje,
Lula colhe, direito, os frutos do
passado. "O presidente Lula poderia ter uma certa modéstia.
Nem é modéstia. É veracidade.
Ninguém sai da estaca zero."
"Por exemplo: a Secretaria do
Tesouro foi feita pelo presidente
Itamar Franco, a abertura da economia começou pelo presidente
Collor", lembrou, cometendo um
equívoco: a Secretaria do Tesouro
Nacional foi criada, em março de
1986, no governo Sarney.
Procurado pela Folha, Fernando Henrique Cardoso disse que
foi uma falha cometida.
Na entrevista à rádio CBN, FHC
fez questão de salientar a enfática
defesa de Lula ao ex-ministro José
Dirceu. Ele também acentuou o
fato de o presidente ter se referido
ao ex-tesoureiro do PT como o
"nosso Delúbio" [Soares], dizendo que é bonito.
Segundo FHC, ao assumir a responsabilidade pela crise, Lula se
coloca numa "posição delicada".
"E se se provam que tudo isso que
está sendo dito?", perguntou.
FHC foi irônico ao comentar a visita do presidente americano
George W. Bush à Granja do Torto, em visita ao Brasil. "Os dois
têm boa química, um gosta do outro, qual é o mal nisso? Eu gostava
do Clinton, ele gosta do Bush.
Gosto não se discute."
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