São Paulo, quarta-feira, 09 de novembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ A HORA DE DIRCEU

Ex-ministro se reúne com radicais do PT e reitores e promete abrir "front desenvolvimentista" no partido mesmo se for cassado

Dirceu mira política econômica à caça de votos

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em duas reuniões ontem, o deputado José Dirceu (PT-SP) pediu apoio para se salvar da cassação e voltou à carga contra a política econômica, que, para ele, aprisiona o governo. Ele reconheceu méritos, como a geração de empregos e o crescimento, mas deixou claro a seus interlocutores que, mesmo cassado, abrirá um front "desenvolvimentista" no PT.
"Somos prisioneiros de uma visão muito ortodoxa da economia", afirmou ele, segundo um participante do encontro de quase três horas com 20 reitores de universidades federais na casa do secretário-executivo da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior, Gustavo Balduíno.
Simpatizantes do PT, eles foram a Brasília para uma reunião e aproveitaram para se solidarizar com o ex-ministro da Casa Civil.
Misturando crítica ao governo com autocrítica por sua passagem pelo ministério, Dirceu reconheceu que o PT, no poder, não soube conduzir o debate em várias áreas. Citou o meio ambiente e, um de seus pontos favoritos, a infra-estrutura (transportes, energia e comunicações). "O governo perdeu o debate político-estratégico sobre diversos temas."

Radicais
Pouco antes, em encontro de cerca de uma hora com oito deputados federais da chamada "esquerda" petista, que têm ataques ácidos à política econômica, Dirceu já havia feito algumas críticas. Ele, que no governo se notabilizou como inimigo mortal dos "radicais" do PT, chegou a dar razão a algumas das ponderações feitas por seus interlocutores.
"Mesmo com a necessidade de se manter uma política fiscal e monetária apertada, havia espaço para a construção de um projeto de desenvolvimento", afirmou.
Também nesse encontro ele citou as estradas e elogiou o Projeto do Biodiesel (incentivo a agricultores para produzir combustível a partir de vegetais como mamona), ressalvando, porém, que poderia ter sido "mais ambicioso". Entre os presentes estavam Tarcísio Zimmerman (RS), Walter Pinheiro (BA), Paulo Rubem (PE) e Orlando Desconsi (RS).
O ex-ministro investiu contra a nova menina dos olhos da área econômica, a proposta de aumentar o superávit primário e reduzir a vinculação orçamentária à área social. A idéia, uma variação de proposta feita pelo ex-ministro Delfim Netto (PMDB-SP), é tachada de "neoliberal" por virtualmente todo o PT. "Não consigo compreender como se coloca essa idéia no atual momento, que benefício isso traz", afirmou Dirceu.
Sobre Lula, o ex-ministro adotou um estilo "morde e assopra". Ele ontem não repetiu a crítica que teria feito no sábado a Lula, em encontro fechado, de que o presidente é "conservador" e não gosta de decidir. "O Lula governa, sabe governar, acompanha e é um grande incentivador das principais ações de governo", declarou.


Texto Anterior: Elio Gaspari: Lula, o urso que come os donos
Próximo Texto: Para ex-ministro, defesa feita por Lula foi excelente
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.