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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ A HORA DE DIRCEU
Ex-ministro se reúne com radicais do PT e reitores e promete abrir "front desenvolvimentista" no partido mesmo se for cassado
Dirceu mira política econômica à caça de votos
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em duas reuniões ontem, o deputado José Dirceu (PT-SP) pediu
apoio para se salvar da cassação e
voltou à carga contra a política
econômica, que, para ele, aprisiona o governo. Ele reconheceu méritos, como a geração de empregos e o crescimento, mas deixou
claro a seus interlocutores que,
mesmo cassado, abrirá um front
"desenvolvimentista" no PT.
"Somos prisioneiros de uma visão muito ortodoxa da economia", afirmou ele, segundo um
participante do encontro de quase três horas com 20 reitores de
universidades federais na casa do
secretário-executivo da Associação Nacional dos Dirigentes das
Instituições Federais de Ensino
Superior, Gustavo Balduíno.
Simpatizantes do PT, eles foram
a Brasília para uma reunião e
aproveitaram para se solidarizar
com o ex-ministro da Casa Civil.
Misturando crítica ao governo
com autocrítica por sua passagem
pelo ministério, Dirceu reconheceu que o PT, no poder, não soube
conduzir o debate em várias
áreas. Citou o meio ambiente e,
um de seus pontos favoritos, a infra-estrutura (transportes, energia e comunicações). "O governo
perdeu o debate político-estratégico sobre diversos temas."
Radicais
Pouco antes, em encontro de
cerca de uma hora com oito deputados federais da chamada "esquerda" petista, que têm ataques
ácidos à política econômica, Dirceu já havia feito algumas críticas.
Ele, que no governo se notabilizou como inimigo mortal dos "radicais" do PT, chegou a dar razão
a algumas das ponderações feitas
por seus interlocutores.
"Mesmo com a necessidade de
se manter uma política fiscal e
monetária apertada, havia espaço
para a construção de um projeto
de desenvolvimento", afirmou.
Também nesse encontro ele citou as estradas e elogiou o Projeto
do Biodiesel (incentivo a agricultores para produzir combustível a
partir de vegetais como mamona), ressalvando, porém, que poderia ter sido "mais ambicioso".
Entre os presentes estavam Tarcísio Zimmerman (RS), Walter Pinheiro (BA), Paulo Rubem (PE) e
Orlando Desconsi (RS).
O ex-ministro investiu contra a
nova menina dos olhos da área
econômica, a proposta de aumentar o superávit primário e reduzir
a vinculação orçamentária à área
social. A idéia, uma variação de
proposta feita pelo ex-ministro
Delfim Netto (PMDB-SP), é tachada de "neoliberal" por virtualmente todo o PT. "Não consigo
compreender como se coloca essa
idéia no atual momento, que benefício isso traz", afirmou Dirceu.
Sobre Lula, o ex-ministro adotou um estilo "morde e assopra".
Ele ontem não repetiu a crítica
que teria feito no sábado a Lula,
em encontro fechado, de que o
presidente é "conservador" e não
gosta de decidir. "O Lula governa,
sabe governar, acompanha e é um
grande incentivador das principais ações de governo", declarou.
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