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CAMINHO DAS ÁGUAS
Ministro rebate críticas ao projeto e ataca governadores
Na CNBB, Ciro ironiza bispo
e discute com promotores
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No primeiro e mais importante
debate sobre a transposição do rio
São Francisco depois que o Palácio do Planalto decidiu adiar a
obra para rediscutir o projeto, ontem à noite na sede da CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil), o ministro Ciro Gomes
(Integração Nacional) desqualificou parte das críticas ao projeto,
discutiu com promotores, ironizou o bispo de Barra, Luiz Flávio
Cappio, e atacou governadores do
PFL e do PSDB.
No debate, de cerca de duas horas, Ciro também ouviu críticas
ao governo Lula e, ao dizer que
"permanece uma brutal desinformação sobre o projeto", criticou o
ponto de vista defendido pela
conferência acerca do projeto.
Sem citar a CNBB, disse que
aqueles que "defendem a revitalização antes da transposição" só
fazem isso porque "não estão
preocupados" com o rio ou "desconhecem" o que tem sido feito
em termos de revitalização.
A reunião de ontem, solicitada
pelo ministro, era considerada
decisiva para o Planalto, que pretende convencer a CNBB e separadamente o bispo de Barra (BA)
até o final do ano. O objetivo do
governo é começar as obras já no
início de 2006, ano eleitoral. Ontem pela manhã, em reunião no
Planalto, Lula pediu que o ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral)
acompanhasse Ciro no encontro.
Em outubro, o Planalto teve de
adiar o início das obras para que
com Luiz Cappio encerrasse uma
greve de fome contra o projeto. O
bispo de Barra interrompeu um
jejum de dez dias depois que o governo se comprometeu esgotar os
debates antes de iniciar as obras.
Desculpando-se por ser "bocudo" e "às vezes mal-educado", Ciro Gomes ficou de pé em toda sua
fala inicial, de 35 minutos. Ele falou a cerca de 30 bispos do conselho permanente da entidade, além
de convidados, como integrantes
do Ministério Público da Bahia,
que atacaram a "ilegalidade" do
projeto. Ao ouvir as críticas dos
promotores, o ministro passou a
rebatê-las, o que obrigou o secretário-geral da CNBB, dom Odilo
Scherer a intervir na discussão.
O ministro ironizou dom Luiz
Cappio, ao dizer que vetou projetos de irrigação na região de Barra: "Perdoem-me pela ironia. Pequei", disse. "Ouvimos coisas intoleráveis, como a de que o projeto é para beneficiar empreiteiras."
Antes do debate, já havia alfinetado o bispo: "Ele está diante de
uma versão falsa do projeto."
Durante a discussão, o ministro
ouviu críticas em relação à gestão
petista e também fez autocríticas
em relação à atual administração.
Disse que o governo deve "ouvir
com humildade" as críticas, disse
que "não está muito feliz com as
coisas que estão aí" (numa referência à crise) e que se equivoca
quem pensa que este é um governo de "anjos". Criticou atitudes
contra o projeto do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA)
e dos governadores Paulo Souto
(PFL-BA), João Alves (PFL-SE) e
Aécio Neves (PSDB-MG).
Sobre a transposição, fez um comentário final num tom de tudo
ou nada. "Se esse projeto for esvaziado, toda essa conquista vai para o brejo. Não faltam rios ferrados no Brasil", disse. "Nordestino
brigando com nordestino sobre
isso é um equívoco histórico que
vai ficar marcado na história."
Ao final do debate, o presidente
da CNBB, dom Geraldo Majella,
disse que o debate faz parte de um
processo e que pessoas contrárias
à transposição também serão ouvidas pela conferência. "É um
projeto muito complexo e por
certo que numa reunião apenas
que não se vão esclarecer todos as
dificuldades que possam ser apresentadas. Nós temos pessoas a favor e pessoas contrárias."
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