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CONVERSA DE VIZINHOS
Kirchner elogia o Brasil em discurso; jornais do país vizinho haviam criticado postura do país em relação às negociações com americanos
Brasil e Argentina trocam elogios para evitar mal-estar
FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES
Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva colhe elogios dos
EUA, o seu colega Néstor Kirchner fez um discurso ontem contra
Alca e a favor do Mercosul -uma
defesa do duro posicionamento
argentino em relação ao presidente norte-americano George W.
Bush na 4ª Cúpula das Américas,
encerrada no último sábado.
Kirchner afirmou que os quatro
países do Mercosul estão unidos e
que não aceitarão a Alca (Área de
Livre Comércio das Américas)
como proposta pelos EUA. Ele
afirmou que o zona de comércio
segue forte, ainda que com assimetrias internas. Ao defender seu
diálogo "cru" com Bush, o argentino afirmou que não irá a cúpulas
"entregar suas convicções".
A defesa do Brasil e do Mercosul
por Kirchner ocorreu depois que
reportagens da imprensa argentina consideraram a simpatia de
Lula com Bush no Brasil uma mudança de tom em relação ao acordado pelo Mercosul na cúpula.
Mas mandou um recado: "Prefiro
ficar só a não defender os interesses dos argentinos".
Ontem, uma entrevista de Marco Aurélio Garcia, assessor para
assuntos internacionais do presidente Lula, ganhou a manchete
do "La Nación". O diário argentino deu eco à proposta de Garcia
pelo "relançamento" do Mercosul. O assessor também falou a
outros órgãos de imprensa, sempre elogiando Kirchner e tentando desfazer a percepção de que o
Brasil deixou a Argentina isolada
no embate com os EUA.
Um dos principais diários econômicos, o "Ambito Financiero"
deu manchete para a reportagem
"Cresce a impressão que o Brasil
usou a Argentina". Nela, eram
comparados o texto final da Cúpula das Américas, que evitou fazer referências a Alca, e o texto do
comunicado conjunto Brasil e
EUA, bem mais favorável à posição americana.
Numa sinalização de que a relação Brasil-Argentina está bem, o
chanceler argentino Rafael Bielsa
deu coletiva à imprensa confirmando para semana quem vem
encontro com seus colegas do
Mercosul no Uruguai para acertar
detalhes da posição que defenderão na reunião da OMC (Organização Mundial do Comércio) no
mês que vem. Anunciou também
reunião bilateral com o Brasil em
30 de novembro.
Kirchner trava também, desde o
final da cúpula, um duelo verbal
com o presidente do México, Vicente Fox. O mexicano acusou o
argentino de dificultar acordos.
"Que o presidente Fox se ocupe
do México, que eu me ocupo dos
argentinos", disse ontem. E completou: "Queremos uma integração com justiça, não a a favor do
grande". México foi um dos mais
atuantes defensores dos EUA e da
Alca na Cúpula das Américas.
Em declarações reproduzidas
por jornais mexicanos, o chanceler do país, Luis Derbez, classificou os países do Mercosul mais
Venezela e Cuba de "nanicos",
numa crítica à recusa à Alca. Para
ele, EUA, México e Canadá são os
"titãs" dos continentes. A tensão
entre os países diminuiu quando
Derbez afirmou que ligaria para o
colega Bielsa e relativizou as críticas de Fox a Kirchner.
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