São Paulo, quarta-feira, 09 de novembro de 2005

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CONVERSA DE VIZINHOS

Kirchner elogia o Brasil em discurso; jornais do país vizinho haviam criticado postura do país em relação às negociações com americanos

Brasil e Argentina trocam elogios para evitar mal-estar

FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES

Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva colhe elogios dos EUA, o seu colega Néstor Kirchner fez um discurso ontem contra Alca e a favor do Mercosul -uma defesa do duro posicionamento argentino em relação ao presidente norte-americano George W. Bush na 4ª Cúpula das Américas, encerrada no último sábado.
Kirchner afirmou que os quatro países do Mercosul estão unidos e que não aceitarão a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) como proposta pelos EUA. Ele afirmou que o zona de comércio segue forte, ainda que com assimetrias internas. Ao defender seu diálogo "cru" com Bush, o argentino afirmou que não irá a cúpulas "entregar suas convicções".
A defesa do Brasil e do Mercosul por Kirchner ocorreu depois que reportagens da imprensa argentina consideraram a simpatia de Lula com Bush no Brasil uma mudança de tom em relação ao acordado pelo Mercosul na cúpula. Mas mandou um recado: "Prefiro ficar só a não defender os interesses dos argentinos".
Ontem, uma entrevista de Marco Aurélio Garcia, assessor para assuntos internacionais do presidente Lula, ganhou a manchete do "La Nación". O diário argentino deu eco à proposta de Garcia pelo "relançamento" do Mercosul. O assessor também falou a outros órgãos de imprensa, sempre elogiando Kirchner e tentando desfazer a percepção de que o Brasil deixou a Argentina isolada no embate com os EUA.
Um dos principais diários econômicos, o "Ambito Financiero" deu manchete para a reportagem "Cresce a impressão que o Brasil usou a Argentina". Nela, eram comparados o texto final da Cúpula das Américas, que evitou fazer referências a Alca, e o texto do comunicado conjunto Brasil e EUA, bem mais favorável à posição americana.
Numa sinalização de que a relação Brasil-Argentina está bem, o chanceler argentino Rafael Bielsa deu coletiva à imprensa confirmando para semana quem vem encontro com seus colegas do Mercosul no Uruguai para acertar detalhes da posição que defenderão na reunião da OMC (Organização Mundial do Comércio) no mês que vem. Anunciou também reunião bilateral com o Brasil em 30 de novembro.
Kirchner trava também, desde o final da cúpula, um duelo verbal com o presidente do México, Vicente Fox. O mexicano acusou o argentino de dificultar acordos. "Que o presidente Fox se ocupe do México, que eu me ocupo dos argentinos", disse ontem. E completou: "Queremos uma integração com justiça, não a a favor do grande". México foi um dos mais atuantes defensores dos EUA e da Alca na Cúpula das Américas.
Em declarações reproduzidas por jornais mexicanos, o chanceler do país, Luis Derbez, classificou os países do Mercosul mais Venezela e Cuba de "nanicos", numa crítica à recusa à Alca. Para ele, EUA, México e Canadá são os "titãs" dos continentes. A tensão entre os países diminuiu quando Derbez afirmou que ligaria para o colega Bielsa e relativizou as críticas de Fox a Kirchner.


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