São Paulo, quinta-feira, 09 de novembro de 2006

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Perfil da coalizão preocupa ala à esquerda

Sérgio Lima/Folha Imagem
O presidente Lula recebe no Palácio do Planalto os governadores Blairo Maggi (PPS-MT), à esquerda, e Zeca do PT (MS)


MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O novo "centrão" que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva almeja construir no segundo mandato, desta vez com quase a totalidade do PMDB, esbarra num vício de origem que preocupa sobretudo "o lado esquerdo" da coalizão e analistas políticos: estarão todos juntos, do PC do B ao PP, para defender exatamente qual projeto?
PT, PC do B e PSB, que deram apoio integral à reeleição de Lula, já se organizam para compor uma espécie de núcleo programático do "centrão". Os presidentes das três legendas vão se reunir em breve para formular uma agenda, com metas e diretrizes para o segundo mandato. Pretendem fazer um contraponto às legendas que por ora só reivindicam ministérios.
A julgar pela ânsia já demonstrada por partidos como PP e PTB nos primeiros contatos com o presidente, a preocupação central de boa parte dos aliados de Lula permanece sendo o fatiamento do poder.
"É preciso prioridade para programas a partir de metas, de um plano, de onde se quer chegar. Se não existe isso, todas as palavras são vazias. No momento, o que é visível é uma luta por cargos, simplesmente", disse o cientista político Leôncio Martins Rodrigues.
Ele faz um prognóstico pessimista para o novo governo. Considera legítima a luta por cargos, mas lamenta a falta de profissionalismo em postos relevantes. "Os políticos passam de um ministério ao outro com enorme facilidade, como se entendessem de tudo."
Formar maioria parlamentar é , no Brasil, não apenas um fato, mas necessidade. "O Collor, num dado momento, achou que o Congresso não tinha importância. Pagou o preço."
"De fato é um "centrão'", afirma o cientista político Lúcio Rennó, da Universidade de Brasília (UnB). Porém, acrescenta, um "centrão" sem objetivo programático claro, unido só pela idéia de que é preciso mais crescimento e desenvolvimento. "Me parece que não há propostas bem definidas."
Segundo ele, dificilmente Lula conseguirá ter um relacionamento com PP, PTB e PL mais "programático". "Eles continuariam sendo governo, independentemente de quem ganhasse. Mas voltam enfraquecidos pela perda de cadeiras", disse Rennó.
Já a relação com PMDB, pontua o professor, tende a ser mais qualificada, dependendo de quem assuma a interlocução. Ou seja, a qualidade e a clareza da coalizão depende sobretudo das ordens de Lula.
Para o presidente do PSB, Roberto Amaral, a relação de Lula com "centrão" será "mais orgânica e menos de varejo", pois ele assumiu o comando das negociações. Amaral critica os que se "oferecem" por cargos: "A discussão deve ser programática e política".
O presidente do PC do B, Renato Rabelo, considera óbvio que os dois partidos mais importantes da coalizão serão PT e PMDB. Insiste, no entanto, na formulação de um programa.
"Nos sentimos incomodados de participar de um governo que não tenha explicitado de forma nítida quais são suas plataformas e objetivos", disse. E acrescenta: "O PC do B não adota o método de pedir cargos. É incorreto, porque fica a visão de que o problema é retalhar o governo e está tudo resolvido".
Segundo ele, as propostas para o desenvolvimento "têm que estar melhor delineadas", assim como as responsabilidades e compromissos dos partidos. Sem respostas para o crescimento, opina Rabelo, o governo "pode fracassar".


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