|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ex-ministros contestam a polícia e a Justiça
FREDERICO VASCONCELOS
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Três ex-ministros da Justiça
condenaram a autorização judicial para a quebra do sigilo de
telefone da Folha, feita a pedido da Polícia Federal.
Paulo Brossard, advogado,
ex-ministro do STF (Supremo
Tribunal Federal) e ministro
da Justiça de José Sarney, diz
que "a Polícia Federal não poderia ter pedido a quebra sem
saber de quem estava pedindo
e o juiz não poderia deferir sem
saber o que estava fazendo.
Não basta que peçam a quebra
do sigilo. Tem que dar um mínimo de elementos para que o
juiz possa concordar com a
quebra. É uma devassa".
"O juiz nem nenhuma autoridade pública nem ninguém
têm o direito de desvendar
qual a fonte de que se valeu o
veículo ou o jornalista para obter informação. Essa proteção
é absoluta", afirma Célio Borja,
ministro da Justiça de Fernando Collor de Mello e ex-ministro do STF.
"Acho estranho que eles [PF
e juiz] não tenham sabido que
o telefone era do jornal", afirma o advogado Fábio Konder
Comparato, presidente da Comissão de Defesa da República
e da Democracia do Conselho
Federal da OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil).
"Ou a companhia telefônica
cometeu uma irregularidade
administrativa grave, não
identificando os telefones, ou
então a PF de fato sabia e não
informou ao juiz que aquele telefone era de jornal ou, então,
informou e o juiz mandou quebrar. Se chegou a esse último
ponto, o juiz também pode ter
cometido um crime", conclui.
O advogado José Paulo Cavalcanti Filho, ministro (interino) da Justiça de Sarney, diz
que houve "uma violência contra a liberdade de imprensa".
Segundo ele, "o juiz nunca poderia ter dado a autorização".
Ex-presidente do Conselho
de Comunicação Social e estudioso da legislação sobre a imprensa, Cavalcanti diz que
"nesses casos, os erros não
acontecem nunca com uma
culpa só. De um lado, ocorrem
em função da atitude imperial
da Polícia Federal: em vez de,
antes, verificar de quem são os
números, requer [a quebra do
sigilo] de todos os números. O
segundo erro é do juiz, que jamais podia dar [a autorização]
sem se informar. Evidentemente, o jornal não participou
do esquema sanguessuga".
Para Cavalcanti Filho, "isso
acontece porque nós temos a
pior Lei de Imprensa do mundo. Num país civilizado, nenhum delegado faria isso, porque as conseqüências econômicas, as indenizações seriam
tão severas que ele seria obrigado a pensar três vezes antes
de requerer", diz.
Texto Anterior: Jornal não é alvo de investigação, afirma delegado Próximo Texto: Frases Índice
|