São Paulo, quinta-feira, 09 de novembro de 2006

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"Fui torturada pelo coronel", diz historiadora

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

As torturas durante o regime militar eram comandadas pelo então major Carlos Alberto Brilhante Ustra, 74, hoje coronel reformado.
A afirmação acima foi repetida ontem, em construções diferentes, pelos cinco ex-presos políticos ouvidos pelo juiz Gustavo Santini Teodoro, da 23ª Vara Cível de São Paulo.
"Eu fui muito humilhada e torturada física e psicologicamente pelo coronel. Até hoje tenho trauma do que me aconteceu", afirmou a historiadora Marly Rodrigues, que ficou de 12 a 15 dias presa com Maria Amélia, uma das autoras da ação.
O também historiador Joel Rufino dos Santos relatou ao juiz uma história parecida. Disse que, após ser preso e levado para o DOI-Codi, foi seviciado pelo próprio coronel.
"Todas as operações de tortura contra presos políticos eram comandadas pelo então major Ustra", afirmou o jornalista Ivan Seixas, que foi preso com o pai em abril de 1971, sob a acusação de agir contra o regime militar.
"Eu fiquei mais de seis anos preso. E vi o coronel Ustra torturando presos. Um deles morreu, era o jornalista Luiz Eduardo Rocha Menino", declarou o jornalista.
Segundo ele, Maria Amélia e o marido estavam muito abatidos na prisão. "Eles mancavam. Depois fiquei sabendo que eles tinham passado por choques elétricos no pau-de-arara e na cadeira do dragão [cadeira de zinco que aumenta a potência do choque]."
Élia Menezes Rola, que também dividiu a mesma cela com Maria Amélia, afirmou que a colega foi muito torturada, que o rosto estava tão machucado que quase não podia reconhecê-la.
Ricardo Maranhão, outro ex-preso político, disse que viu Maria Amélia pela primeira vez quando ela estava na sala de tortura, muito machucada. Afirmou ainda que a irmã dela, Criméia, estava grávida e levava "muitas pauladas na cabeça".
Maria Amélia e o marido César Teles dizem terem sido torturados pelo coronel. Afirmam ainda que, por ordem dele, a casa da família foi invadida e os filhos do casal foram presos ao lado da tia Criméia.


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