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Sarney nomeou a irmã no próprio gabinete
Exoneração foi por meio de ato secreto; revelação contraria defesa do presidente do Senado no auge da crise que quase o derrubou
"O fundamental é que não se tratava de nomeações feitas por mim, não me cabendo responsabilidade sobre elas", afirmou Sarney em agosto
FILIPE COUTINHO
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP), escondeu
a nomeação de uma irmã no
seu gabinete pessoal. Trata-se
de Ana Maria da Costa Bastos,
que ocupou cargos na Casa entre 2005 e 2008 -quando foi
exonerada por um ato secreto.
O caso derruba o argumento
de defesa usado por Sarney durante a crise que quase o fez
deixar o comando do Senado. O
senador sempre foi enfático ao
dizer que jamais contratou parentes para o seu gabinete.
"O fundamental foi demonstrar que não se tratava de nomeações feitas por mim, não
me cabendo, portanto, responsabilidade sobre elas", disse
Sarney em nota distribuída em
6 de agosto, no auge da crise.
No documento chamado
"Verdades", disponível na página do Senado na internet, também não há nenhuma menção à
contratação de Ana Maria. Única parente diretamente contratada pelo senador Sarney, ela
teve dois cargos como subordinada do irmão mais velho entre
janeiro e julho de 2005.
De acordo com o Código de
Ética do Senado e a Constituição Federal, mentir para os pares é motivo suficiente para a
perda de mandato. Apesar de
ser acusado por corrupção, o
então senador Luiz Estevão
(PMDB-DF) foi cassado em 28
de junho de 2000 por ter mentido para os colegas.
Os senadores entenderam
que faltar com a verdade é "incompatível com o decoro e um
abuso das prerrogativas" -e
Luiz Estevão perdeu o mandato por 52 votos contra 18 (e 10
abstenções). Em depoimento à
CPI do Judiciário (1999), Luiz
Estevão havia negado ser sócio
de uma empresa envolvida em
superfaturamento de obras -o
que não era verdade.
Salário de R$ 7.400
Ana Maria da Costa Bastos,
67, é irmã de José Sarney por
parte de pai. A Folha obteve
acesso à sua ficha cadastral no
Senado. Ela é filha de Sarney de
Araújo Costa e Anatália de Oliveira Furtado, mãe de outro irmão do presidente do Senado
-Ivan Celso Sarney Furtado,
que também teve cargo na Casa
e foi exonerado por ato secreto.
Formada em medicina, ela
foi nomeada no gabinete pessoal de Sarney em janeiro de
2005 com um salário de R$
7.400, como secretária parlamentar. Dois meses depois, foi
rebaixada para a vaga de assistente parlamentar, com vencimentos de R$ 4.900 mensais.
Em julho de 2005, Ana Maria
foi transferida para o gabinete
do senador Edison Lobão (hoje
ministro de Minas e Energia),
aliado histórico de Sarney. Ela
só foi exonerada em outubro de
2008, no mesmo mês em que
dezenas de parentes de senadores foram demitidos, às claras, pela Casa, por conta da súmula do STF (Supremo Tribunal Federal) que proibiu o nepotismo nos três Poderes.
Contudo, o ato da exoneração só foi publicado em 16 de
abril deste ano na rede de intranet do Senado. No mesmo
dia, também foi divulgado o ato
de exoneração de João Fernando Sarney -neto do senador e
primeiro caso de uso de medida secreta para ocultar movimentação de pessoal envolvendo parentes.
Na época, essa estratégia foi
usada para evitar o desgaste de
Sarney, já que diariamente era
divulgada uma lista de casos de
nepotismo.
Cargos no Maranhão
Antes de ter emprego no Senado, Ana Maria trabalhou na
área de perícia médica do INSS
(Instituto Nacional de Seguridade Social) no Maranhão pelo
menos de 2000 a 2003.
Ela chegou mesmo a ocupar
o posto de superintendente regional substituta do extinto
Instituto Nacional de Previdência Social no Maranhão.
Ela não assina como Sarney
porque o nome não era um sobrenome da família até 1965.
Sarney é nome do pai do presidente do Senado. Para fins políticos, o então José Ribamar
Araújo Costa adotou o primeiro nome do pai, tornando-se
José Sarney. Posteriormente,
diversos familiares entraram
na Justiça para se registrar
também Sarney -o que não foi
o caso de Ana Maria.
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