São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Em Itinga, população vive de projetos sociais

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ITINGA

Quase a maioria da população de Itinga, no Vale do Jequitinhonha (MG), cidade que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visita amanhã, sobrevive com recursos dos programas governamentais estaduais e federais criados na gestão de Fernando Henrique Cardoso, além das aposentadorias e pensões pagas pelo INSS.
Não fossem esses recursos, a maioria dos 13,8 mil habitantes do município, localizado a 650 km de Belo Horizonte, teria dificuldades ainda maiores para se sustentar. Segundo o Anuário Estatístico de Minas Gerais, editado pela Fundação João Pinheiro, há três anos só 421 pessoas, de uma população economicamente ativa de cerca de 4.000, tinham emprego formal.
Convivendo com a seca, que se prolonga por quase dez meses, praticamente não existe trabalho para a população -59% dependem do trabalho rural. Por isso os recursos dos governos estadual e federal têm sido fundamentais.
A bolsa-escola paga pelo governo de Minas (R$ 70 por família) ajuda a sustentar 583 famílias; a bolsa-escola federal (R$ 15 por criança até o máximo de três por família), mais 833 famílias.
Além desses programas, há o Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), da União, que beneficia 300 crianças, sendo que cada uma recebe R$ 25. As aposentadorias e pensões pagas pelo INSS eram 2.218 em 2000.
Ninguém recebe a bolsa-alimentação, que substituiu as cestas-básicas, segundo a prefeitura.
Na zona urbana se vê muita gente sem ter o que fazer. É esse o retrato que Lula verá dez anos depois de passar por Itinga com a caravana da cidadania.
A Agência Folha percorreu Itinga ontem e encontrou várias famílias que retratam bem essa situação de dependência.
No povoado de Água Fria, na zona rural, o agricultor Manoel Pereira de Souza, 48, depende dos R$ 115 das bolsas-escola (a do Estado e R$ 45 da União) para sustentar os sete filhos e a mulher, Manuela Miranda de Souza, 36.
Vivendo há nove anos em uma casa cedida por um agricultor da região, a família de Manuel cultiva uma pequena roça, também cedida, da qual espera extrair neste ano seis sacas de milho e cinco de feijão. Se a chuva que começou no Natal prosseguir até o início de fevereiro, são boas as possibilidades de a plantação vingar.
Ele plantou em novembro, mas nada vingou, já que a seca persistiu. "Agora está chovendo, e eu tornei a plantar. Aqui é assim, a gente tem de ser insistente", disse Manoel, que, nesta época de chuvas, consegue trabalho em outras lavouras por R$ 7 por dia.
Até março, espera faturar por semana cerca de R$ 40. Após esse período, o trabalho fica ainda mais escasso. A seca recomeça.
Maria Alves Miranda, 78, viúva, ajuda a sustentar, com o salário mínimo que recebe do INSS, a filha Felismina, 48, e o genro Natalino Pereira de Souza, 49, além dos quatro filhos do casal, que não recebe nenhum benefício governamental. Por isso, a ajuda de dona Maria é de extrema valia.


Texto Anterior: Agenda social: Caravana de Lula começa em reduto de petistas no Piauí
Próximo Texto: Prefeitura do PT limpa ruas de favela de Recife para receber Lula
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.