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Em Itinga, população vive de projetos sociais
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ITINGA
Quase a maioria da população
de Itinga, no Vale do Jequitinhonha (MG), cidade que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visita
amanhã, sobrevive com recursos
dos programas governamentais
estaduais e federais criados na
gestão de Fernando Henrique
Cardoso, além das aposentadorias e pensões pagas pelo INSS.
Não fossem esses recursos, a
maioria dos 13,8 mil habitantes do
município, localizado a 650 km de
Belo Horizonte, teria dificuldades
ainda maiores para se sustentar.
Segundo o Anuário Estatístico de
Minas Gerais, editado pela Fundação João Pinheiro, há três anos
só 421 pessoas, de uma população
economicamente ativa de cerca
de 4.000, tinham emprego formal.
Convivendo com a seca, que se
prolonga por quase dez meses,
praticamente não existe trabalho
para a população -59% dependem do trabalho rural. Por isso os
recursos dos governos estadual e
federal têm sido fundamentais.
A bolsa-escola paga pelo governo de Minas (R$ 70 por família)
ajuda a sustentar 583 famílias; a
bolsa-escola federal (R$ 15 por
criança até o máximo de três por
família), mais 833 famílias.
Além desses programas, há o
Peti (Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil), da União, que
beneficia 300 crianças, sendo que
cada uma recebe R$ 25. As aposentadorias e pensões pagas pelo
INSS eram 2.218 em 2000.
Ninguém recebe a bolsa-alimentação, que substituiu as cestas-básicas, segundo a prefeitura.
Na zona urbana se vê muita
gente sem ter o que fazer. É esse o
retrato que Lula verá dez anos depois de passar por Itinga com a
caravana da cidadania.
A Agência Folha percorreu Itinga ontem e encontrou várias famílias que retratam bem essa situação de dependência.
No povoado de Água Fria, na
zona rural, o agricultor Manoel
Pereira de Souza, 48, depende dos
R$ 115 das bolsas-escola (a do Estado e R$ 45 da União) para sustentar os sete filhos e a mulher,
Manuela Miranda de Souza, 36.
Vivendo há nove anos em uma
casa cedida por um agricultor da
região, a família de Manuel cultiva
uma pequena roça, também cedida, da qual espera extrair neste
ano seis sacas de milho e cinco de
feijão. Se a chuva que começou no
Natal prosseguir até o início de fevereiro, são boas as possibilidades
de a plantação vingar.
Ele plantou em novembro, mas
nada vingou, já que a seca persistiu. "Agora está chovendo, e eu
tornei a plantar. Aqui é assim, a
gente tem de ser insistente", disse
Manoel, que, nesta época de chuvas, consegue trabalho em outras
lavouras por R$ 7 por dia.
Até março, espera faturar por
semana cerca de R$ 40. Após esse
período, o trabalho fica ainda
mais escasso. A seca recomeça.
Maria Alves Miranda, 78, viúva,
ajuda a sustentar, com o salário
mínimo que recebe do INSS, a filha Felismina, 48, e o genro Natalino Pereira de Souza, 49, além
dos quatro filhos do casal, que
não recebe nenhum benefício governamental. Por isso, a ajuda de
dona Maria é de extrema valia.
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