São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2004

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DANÇA DOS MINISTÉRIOS

Presidente pede que ministro espere sua volta do México

Amaral se demite em carta; Lula vacila e pede um prazo

Sergio Lima - 3.dez.2003/Folha Imagem
Eduardo Campos, convidado a substituir Roberto Amaral (centro), com apoio de Miguel Arraes (dir.)


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Antecipando-se à reforma ministerial, o ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, pediu demissão do cargo que ocupava por indicação do PSB, em busca de uma "saída honrosa", segundo auxiliares diretos. Sem o apoio de seu partido, Amaral sentiu-se desrespeitado com as reiteradas notícias de que seria demitido do governo federal.
À noite, Amaral conversou durante mais de uma hora com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que dias antes pedira a José Dirceu (Casa Civil) que convidasse o deputado federal Eduardo Campos, também do PSB, para a a pasta da Ciência e Tecnologia.
Na saída, em entrevista concedida ao lado de Dirceu (Casa Civil), Amaral afirmou que Lula marcou uma reunião com ele para a próxima quarta-feira, quando voltará do México. Até lá, ele permanece no cargo.
O ministro disse que fez a carta para facilitar a reforma ministerial. "Eu sou fundamentalmente um militante. Posso colaborar com o governo das mais diferentes formas." Diante da afirmação de um repórter de que muitos ministros estavam na "corda bamba" e nem por isso entregaram seus cargos, Roberto Amaral afirmou: "Não sou equilibrista e não sei andar na corda bamba".
Dirceu disse que Lula recebeu a carta de Amaral "com naturalidade", tanto que, durante a audiência, despachou normalmente com o ministro, aprovando projetos apresentados por ele.
O ministro da Casa Civil reafirmou que o presidente não tem prazo para definir a reforma e negou que o governo esteja paralisado por causa da discussão da reforma. "O governo funciona a pleno vapor", afirmou.
Questionado se Amaral não estava sendo "fritado" pelo governo, Dirceu retrucou: "Pela imprensa, pelo governo não".
Na carta de demissão que enviou às 13h de ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro recorreu a uma linguagem formal: "O compromisso maior com as mudanças, base do grande acordo nacional para a construção de uma sociedade, levam-me à colocar inteiramente à disposição de V. Excia. -como aliás sempre esteve- o cargo de ministro de Estado da Ciência e Tecnologia, ao qual fui alçado pela distinção de sua confiança".
A gota d'água para que Amaral entregasse o cargo foi uma nota de apoio do PSB à sua gestão que ele divulgou no site do ministério. A nota foi desautorizada pelo presidente da sigla, Miguel Arraes (PE). Segundo Roberto Amaral confidenciou a interlocutores, a nota havia sido aprovada por Arraes e por seu neto, o deputado Eduardo Campos (PE), líder da bancada na Câmara.
Amaral queixava-se do "jogo de empurra" entre o Planalto e o partido sobre sua permanência no governo. Sempre que tentava se situar sobre a questão, o Planalto jogava o problema para o PSB e o PSB jogava de volta para o governo. Amaral tornou-se ministro do PSB por indicação do governador de Alagoas, Ronaldo Lessa, e do secretário da Segurança do Rio, Anthony Garotinho, à época filiado ao partido. Garotinho trocou o PSB pelo PMDB, e Lessa foi esmagado por Arraes no último encontro nacional do partido.
Sem padrinhos políticos, Amaral foi entregue à própria sorte. Seu desempenho também é alvo de críticas constantes da comunidade científica.
Dirceu afirmou que Lula pediu a ele que conversasse sobre a reforma com o PP, PTB e PMDB. O PTB já tem um ministério (Turismo), mas quer uma compensação pelo fato de ter perdido a Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária). O PP, segundo Dirceu, estará representado no governo, mas não necessariamente com um ministério.


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