|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NOVO PERFIL
Prefeituras superam a dependência do governo federal para assumir áreas como saneamento e transporte
Municípios assumem programas sociais
DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília
De meros "prestadores de conta"
ao governo federal, os municípios
brasileiros são hoje os principais
responsáveis pela execução e pelo
financiamento de programas de
saneamento, proteção ao meio
ambiente e transporte coletivo.
Também participam mais da
execução de programas em educação, saúde e assistência social.
Mesmo em áreas que até pouco
tempo dependiam exclusivamente
do governo federal -como geração de emprego e renda e desenvolvimento local-, as prefeituras
estão ocupando mais espaço.
A mudança no perfil da administração municipal começou com a
promulgação da Constituição de
88, que repassou aos municípios
atribuições que, até então, eram
dos Estados e da União.
Em 1995, os municípios já financiavam 96,4% dos gastos públicos
com saneamento, 25,2% com assistência social, 24,8% com educação e 23,6% com habitação.
Esses dados são de pesquisa do
Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e do BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento), que pela primeira vez levantou os gastos sociais de cada esfera de governo.
A maior autonomia para executar programas que se adequem às
reais necessidades dos municípios
é a principal vantagem trazida pela
descentralização, na avaliação de
prefeitos e entidades municipalistas ouvidas pela Folha.
Já a falta de recursos e o despreparo dos técnicos municipais para
executar os programas são os principais empecilhos encontrados pelas prefeituras para conseguir
cumprir as novas funções.
"As transferências constitucionais, que são a principal fonte de
renda das prefeituras, não cresceram no ritmo esperado. Isso criou
um desnível entre despesa e receita
que não dá para ser compensado
com a arrecadação própria", diz o
economista François Bremaeker,
especialista em finanças municipais do Ibam (Instituto Brasileiro
de Administração Municipal).
É cada vez maior o número de
prefeituras que encontram saídas
para cumprir o novo papel, embora elas continuem reclamando que
o repasse de recursos não tenha
crescido no mesmo ritmo que o
aumento das atribuições.
Criatividade na elaboração dos
programas para reduzir custos, capacitação do corpo técnico e, principalmente, aumento nas parcerias com a população foram os caminhos encontrados pelas prefeituras que conseguiram cumprir as
novas responsabilidades.
"Algumas prefeituras receberam
os novos encargos como se fossem
um fardo. Outras viram mais rápido as vantagens da descentralização e investiram na capacitação do
corpo técnico, além de se articularem com a sociedade civil", afirma
Eliana Marinho, especialista em
avaliação de políticas públicas.
O Ibam executa com o governo
federal avaliação sistemática do
desempenho das prefeituras, além
de manter um banco de boas práticas para que as prefeituras troquem experiências.
"Ao contrário do que muita gente imagina, não são só as prefeituras de cidades de grande porte do
Sul e Sudeste que têm programas
de sucesso. Há municípios pequenos em regiões pobres que estão
conseguindo, com recursos próprios, implantar programas que
estão alterando a vida das pessoas.
O que falta é divulgação", diz Jamil
Restom, superintendente da área
promoção municipal do Ibam.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|