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São Paulo, segunda-feira, 10 de fevereiro de 2003

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REUNIÃO MINISTERIAL

Presidente justificará aumento da meta de superávit

Lula anuncia cortes e ações pontuais para a área social

Jorge Araújo/Folha Imagem
O presidente na última ministerial, realizada no dia 3 de janeiro


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinará hoje, em reunião com seus ministros na residência oficial da Granja do Torto, em Brasília, um corte geral nas despesas do governo, ao mesmo tempo em que anunciará uma série de medidas simbólicas, destinadas a mostrar que o eixo de seu governo é também social, não puramente econômico.
A principal delas será um aumento do valor da Bolsa-Escola que hoje paga R$ 15 como benefício a famílias carentes que mantêm os filhos na escola, limitado a R$ 45 para até três crianças por família. É provável que o limite seja eliminado e que o benefício suba para até R$ 25 por criança.
O tamanho exato do corte -ou contingenciamento de despesas, como o governo prefere chamar- estava sendo definido ontem ainda pelos ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda), Guido Mantega (Planejamento) e pelo próprio Lula. Deve ser o equivalente a uma redução de 10% a 15% das despesas de custeio, o que significaria um corte de R$ 6 bilhões a R$ 9 bilhões.
O presidente, em seu discurso, que será transmitido por rádio e TV pela estatal Radiobras, justificará a decisão da semana passada de elevar a meta de superávit primário para esse ano a 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto), o que significa uma economia de R$ 68 bilhões para o pagamento de juros neste ano.
Dirá que o sacrifício é necessário em razão da fragilidade da economia brasileira e da retração no fluxo de investimentos internacionais durante a provável invasão norte-americana ao Iraque. A reunião começa às 10h e o discurso deverá ocorrer às 11h.
Ontem à noite Lula teve reunião com o ministro José Dirceu (Casa Civil), Luiz Dulci, secretário-geral da Presidência, Luiz Gushiken, secretário de Comunicação de Governo, André Singer, porta-voz, e Duda Mendonça, publicitário do Fome Zero e que fez campanha eleitoral do presidente. Singer disse que o assunto seria a reunião ministerial de hoje.
O corte deve ficar a cargo de cada ministério. Palocci e Mantega apresentarão a cada pasta um valor e os ministros decidirão como proceder. De acordo com um assessor do presidente e dois ministros ouvidos pela Folha, há um entendimento preliminar de que a regra será cortar em custeio tudo o que for possível e só então sacrificar investimentos. No entanto, deve haver alguma "choradeira" de ministros que tentarão justificar gastos extras, de acordo com a expectativa de um deles.
Áreas como educação, saúde e segurança pública deverão ser preservadas, enquanto novos investimentos em infra-estrutura serão os mais prejudicados.
Haverá resistência a cortes em alguns setores -no de transportes, por exemplo. "Ou cuidamos da recuperação das nossas estradas ou o sistema econômico entra em colapso", afirmou o vice-presidente, José Alencar.
Ele declarou não ter informações sobre o teor do que será divulgado hoje, mas ressaltou ser necessária a montagem de uma "operação de salvamento" das estradas. "Isto tem que ser objeto de prioridade", disse.

Informalidade
Na reunião, cada ministro deverá apresentar alguns projetos que considere prioritários para 2003. As metas baseiam-se em relatórios apresentados por toda a equipe a Lula na semana passada.
Além do aumento na Bolsa-Escola, deverá haver anúncio de projetos na área de segurança pública, estímulo ao microcrédito, à formação de cooperativas e incentivos à agricultura familiar.
São ações mais simbólicas do que de efeito concreto imediato. Apesar de o tom da reunião não ser dos mais otimistas, o presidente deve tentar dar um clima informal ao encontro. Tanto que escolheu fazer a reunião na Granja do Torto, em um arejado salão ao lado da churrasqueira da residência, e não na sala de reuniões do Palácio do Planalto, que achou "impessoal" demais. (FÁBIO ZANINI, LEONARDO SOUZA E RANIER BRAGON)


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