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INVESTIGAÇÃO
Agora no Desenvolvimento, Márcio Fortes de Almeida é investigado por irregularidades no Ministério da Agricultura de FHC
Governo Lula mantém suspeito de fraude
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento,
Márcio Fortes de Almeida, 61, está
sendo investigado pelo MPF (Ministério Público Federal) por suspeitas de irregularidades em contratos que firmou no governo Fernando Henrique Cardoso.
Almeida exerceu as mesmas
funções no Ministério da Agricultura durante o governo FHC,
quando a pasta tinha como titular
Marcus Vinicius Pratini de Moraes (setembro de 1999 a dezembro de 2002).
Diplomata de carreira, permaneceu no governo Luiz Inácio Lula da Silva convidado pelo ministro Luiz Fernando Furlan para ser
o seu braço direito na pasta do
Desenvolvimento.
Em junho passado, o MPF requisitou à Polícia Federal que Almeida fosse ouvido em inquérito
policial aberto para apurar supostas fraudes na contratação, sem licitação, da Poliedro Informática e
da TBA Informática, em 1999.
Em dezembro último, Almeida
foi acusado, em sindicância interna, de ter direcionado o processo,
permitindo a duplicidade de contrato para serviços considerados
desnecessários.
A Poliedro e a TBA Informática
foram contratadas a título de evitar problemas nos computadores
do ministério por ocasião do chamado "Bug do Milênio".
A ameaça do bug -erro nos
programas na virada do milênio- não se confirmou. Mas, segundo o MPF, serviu de pretexto
para a pasta adquirir computadores e permitiu às duas empresas,
contratadas por cerca de R$ 11,5
milhões, receber somas indevidas
por serviços não prestados e por
equipamentos não fornecidos.
Depois de várias auditorias, a
Poliedro está sendo obrigada a
ressarcir aos cofres públicos R$
2,25 milhões. A TBA tem de devolver R$ 1,7 milhão.
O secretário diz que as sindicâncias foram feitas por determinação sua. E que autorizou a devolução dos pagamentos indevidos.
Público e privado
Almeida adotou práticas que
sempre foram motivos de crítica
violenta do PT. Ele acumulou a
função de diplomata, um serviço
público, com atividades privadas
na AEB (Associação de Comércio
Exterior do Brasil), da qual foi secretário-executivo e vice-presidente (1988 a 1992 e 1993 a 1999).
Pratini de Moraes foi presidente e
Furlan é vice-presidente (licenciado) da AEB.
A Folha apurou que o diplomata também podia ser encontrado
no escritório da empresa Pedras
Altas, trading do ex-ministro Pratini de Moraes, no Rio de Janeiro.
Procurado pela Folha para explicar sua situação funcional naquele período, Almeida disse que
isso foi possível "através de entendimento operacional havido com
o Ministério das Relações Exteriores para apoiar estudos e programas de exportações". Ele disse
que, "posteriormente, entrou no
quadro especial do Itamaraty".
O secretário-executivo de Furlan diz que "foi sócio da empresa,
o que é compatível, nunca tendo
sido gerente ou funcionário". O
Ministério das Relações Exteriores, consultado formalmente pelo
jornal na última segunda-feira,
não se manifestou. Procurado,
por meio de sua assessoria, Furlan
não se pronunciou.
Inimizades e disputas
Almeida foi aluno brilhante do
Colégio Militar, no Rio de Janeiro.
É bacharel em Ciências Jurídicas e
tem doutorado em direito público. Entre 74 e 77, foi chefe do serviço de promoção social da Embaixada do Brasil em Madri.
É tido como um burocrata centralizador. Em cargos semelhantes ao que ocupa hoje, serviu em
ministérios nos governos Médici
(pasta da Indústria e Comércio),
Fernando Collor (Minas e Energia) e FHC (Agricultura), sempre
acompanhando o ex-ministro
Pratini de Moraes.
Segundo assessores, essa atuação contribuiu para angariar inimizades ao longo do tempo.
Em setembro de 1999, o então
secretário paulista da Agricultura,
deputado Xico Graziano (PSDB-SP), enviou ao ministro Pratini de
Moraes dossiê sobre irregularidades supostamente praticadas por
dois diretores da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), Homero Rodrigues Leite (finanças) e
Miguel Appolonio (operações).
O caso foi repassado para Márcio Fortes de Almeida, então presidente do Conselho de Administração da Ceagesp.
O presidente da empresa, Fuad
Nassif Barulla, indicado por Graziano, foi afastado (segundo o deputado tucano, por conivência
com as irregularidades).
Os dois outros diretores só foram exonerados em novembro de
2001. Graziano atribui a demora
ao fato de eles terem sido indicados para os cargos pelo deputado
Delfim Netto (PPB-SP).
Depois de afastado, Appolonio
entraria na justiça com três ações
populares apontando supostas irregulares, como contratos superfaturados, no período em que Almeida presidiu o conselho.
O Ministério Público Federal
considerou essas acusações parte
da estratégia do grupo ligado a
Appolonio para defender-se das
denúncias atacando.
Lobby da cana
Em setembro, às vésperas das
eleições presidenciais, Márcio
Fortes de Almeida assinou despacho, como ministro interino da
Agricultura, permitindo o pagamento de R$ 400 milhões a produtores nordestinos de cana-de-açúcar, a título de equalização dos
custos de produção e cultivo de
cana-de-açúcar.
O programa fora suspenso na
safra de 98/99, quando o MPF denunciou irregularidades na concessão desses subsídios.
Havia fortes indícios de que a
medida atendia ao lobby dos usineiros, para reforçar os caixas de
campanha eleitoral no Nordeste e
dificultar a campanha do candidato Luiz Inácio Lula da Silva.
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