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SOMBRA NO PLANALTO
Senador não nomeia governistas para comissão dos bingos e alega não ter competência regimental
Mesmo sob pressão, Sarney diz que não indicará para CPI
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP), foi submetido ontem a quase quatro horas de
pressão da oposição para instalar
a CPI dos bingos. Os líderes governistas não se manifestaram.
Apesar do bombardeio, Sarney
manteve a decisão de não indicar
os representantes dos partidos
governistas em lugar dos líderes,
o que asseguraria a instalação da
CPI. A oposição anunciou que vai
recorrer à CCJ (Comissão de
Constituição e Justiça) e ao STF
(Supremo Tribunal Federal).
Acusado por senadores de "rasgar a Constituição" e de "violar o
direito das minorias" por não indicar os representantes dos partidos da base aliada, Sarney se defendeu devolvendo aos governistas o ônus da não-instalação.
"Não é um problema da vontade do presidente fazer ou não fazer a CPI. É o jogo político. Eu
concordo com todos os argumentos aqui apresentados, inclusive o
de que é um direito da minoria.
Mas o presidente da Casa não tem
competência de intervir na vida
dos partidos", afirmou Sarney.
Ele e a oposição travaram uma
batalha regimental em plenário.
Sarney repetiu a alegação de que
não tem competência regimental
para fazer as indicações, já que o
regimento do Senado é "claro" ao
atribuir a tarefa aos líderes. De
acordo com ele, além de "ditatorial", uma eventual decisão sua de
indicar os nomes poderia ser contestada pelos partidos no STF e estaria sujeita a ser suspensa.
O senador Jefferson Péres
(PDT-AM) afirmou que a CPI é
um direito da minoria, já que a
Constituição exige apenas as assinaturas de um terço dos integrantes da Casa. Esse direito, segundo
ele, será "esmagado pela maioria", se a CPI não for instalada.
Já o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM) pediu que Sarney fizesse as indicações dos governistas,
com base em interpretação diferente do regimento. Segundo ele,
havendo assinaturas necessárias,
a instalação é obrigatória. "A negativa para a CPI dos bingos certamente haverá de causar natural
estupefação da população, sentimento a que se seguirá descrédito
à instituição parlamentar", disse.
Embora não seja o objetivo da
CPI, o caso do ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência Waldomiro Diniz, filmado
em 2002 pedindo propina a um
empresário de jogos, poderia ser
incluído pela oposição nas investigações. Na época da gravação,
ele presidia a Loterj (Loteria do
Estado do Rio de Janeiro) no governo Benedita da Silva (PT).
Estratégia
A estratégia da oposição de prolongar o desgaste do governo com
o caso Waldomiro foi bem-sucedida. Os debates consumiram boa
parte da sessão de ontem e atrasaram o início da votação da medida provisória do setor elétrico.
O requerimento propondo a
criação da CPI dos bingos foi protocolado pelo senador Magno
Malta (PL-ES) com 36 assinaturas, nove a mais que o exigido pela
Constituição (um terço da Casa).
Hoje, tem 32 assinaturas -quatro senadores voltaram atrás.
Em nota, a OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil) defendeu
ontem a instalação da comissão
com o argumento de que é necessária "para garantir a estabilidade
política e econômica do país".
O presidente da Câmara, João
Paulo Cunha (PT-SP), disse ontem, em entrevista à rádio Jovem
Pan, que não instalaria na Casa a
CPI se a oposição apresentasse requerimento, seguindo o exemplo
de Sarney. O regimento da Câmara, porém, o obriga a indicar os
membros em até 48 horas, se os líderes não o fizerem. Depois, afirmou que falara em tese e que analisaria eventual requerimento.
Colaborou o enviado especial a Brasília
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