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Memorando "congela" discussão sobre tarifa
EM SÃO PAULO
Os presidentes George W.
Bush e Luiz Inácio Lula da Silva
chegaram a um acordo tácito
para jogar para segundo plano a
delicada questão da taxação do
álcool combustível brasileiro
nos EUA: como a lei que estabelece essa taxação vence naturalmente em 2009, basta ter
paciência até lá.
Sendo assim, nem Bush precisou se desgastar com o Congresso e os produtores agrícolas norte-americanos, admitindo publicamente a discussão do
fim da taxação, nem Lula teve
que transformar a questão num
ponto de discórdia e de enfraquecimento da visita de Bush.
Pela lei em vigor, os EUA taxam o álcool combustível brasileiro em R$ 0,30 por litro, além
de 2,5% de imposto alfandegário. Como 2,5 bilhões dos 3,5
bilhões de litros que o Brasil exportou no ano passado foram
para o país, o peso é considerado enorme.
No memorando de entendimentos sobre biocombustíveis
assinado pelo ministro Celso
Amorim (Relações Exteriores)
e a secretária de Estado Condoleezza Rice, que tomaram café
da manhã juntos, os temas relacionados com comércio doméstico e tarifas devem ser tratados "em outros foros multilaterais, regionais e bilaterais".
Segundo Amorim, isso significa que os subsídios e as tarifas
dos EUA sobre o álcool poderão
ser discutidas, por exemplo, no
âmbito de negociações mais gerais na OMC (Organização
Mundial do Comércio).
No final do dia, Amorim destacou o ponto mais importante
de toda a visita: "O presidente
dos EUA com o capacete da Petrobras? Não precisava de mais
nada. Só isso já valia a viagem
inteira". E Lula, que na véspera
havia classificado o protecionismo dos EUA de "nefasto",
ontem preferiu tratar o assunto
muito "en-passant".
No memorando, os dois países se comprometem a cooperar com o "desenvolvimento de
recursos energéticos baratos,
limpos e sustentáveis" e estabelecem a difusão dos biocombustíveis em três níveis: bilateral, com terceiros países e global. No primeiro nível, o bilateral, os países "devem avançar
na pesquisa e no desenvolvimento da tecnologia para biocombustíveis".
Também foi formalizada a
intenção de trabalho em conjunto para levar a tecnologia do
etanol a outros países, previamente selecionados "por meio
de estudos de viabilidade e assistência técnica que visem a
estimular o setor privado a investir em biocombustíveis".
Segundo o memorando, EUA
e Brasil devem iniciar a os trabalhos de expansão da tecnologia pela América Central e pelo
Caribe, inclusive porque o Brasil já tem acordos nessa área
com a Jamaica e El Salvador.
Citado duas vezes por Bush
no primeiro discurso do presidente norte-americano e chamado de "querido" por Lula no
segundo discurso, o presidente
da Petrobras, Sérgio Gabrielli,
disse depois que o Brasil tem
várias vantagens sobre os EUA
na área do etanol, inclusive
uma área plantável que permite o país desenvolver a produção sem afetar o plantio de alimentos nem ferir o ambiente.
(ELIANE CANTANHÊDE)
Leia a íntegra do memorando
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