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Bush diz que EUA são generosos, mas tarifas não caem
Presidente diz que taxas sobre álcool exportado pelo Brasil para os americanos não serão retiradas ao menos até 2009
Lula afirma que não é preciso discutir ajuda aos países pobres, mas sim projetos que signifiquem desenvolvimento
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Dizendo que os EUA são uma
"nação generosa e cheia de
compaixão", que quando vê pobreza "se preocupa", o presidente George W. Bush disse ontem que seu país não retirará a
tarifa de R$ 0,30 por litro de álcool brasileiro exportado para
o mercado norte-americano.
"Isso não vai acontecer. A lei
(que criou a tarifa) vale até
2009 e o Congresso vai analisar
o assunto quando a lei terminar. Não vamos perder tempo
com essa resposta", respondeu
Bush de forma seca ao ser questionado, em entrevista coletiva,
sobre pedido do governo brasileiro de revisão do assunto.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que almoçou com
Bush, ministros e convidados
dos dois países em São Paulo,
disse que o acesso do Brasil e
demais países pobres ao mercado americano de álcool e biocombustíveis é "fundamental"
para o desenvolvimento.
"Não precisamos ficar discutindo ajuda aos países pobres.
Temos de discutir projetos que
signifiquem desenvolvimento,
que a gente veja o resultado do
dinheiro investido", disse Lula.
"Estou convencido de que se
o programa de biocombustível
tiver a maturidade de financiar
projetos nos países mais pobres
e os países ricos comprarem o
biodiesel e o álcool produzidos,
vamos ver o investimento dar
resultados e gerar empregos.
Essa é a grande forma de ajuda
que os países ricos podem dar
aos mais pobres", disse.
Acordo de cooperação
Pela manhã, em visita a uma
unidade da Petrobras em Guarulhos (SP), Lula e Bush assinaram um acordo de cooperação
tecnológica entre os dois países
para a produção de álcool.
A definição de padrões e normas para biocombustíveis é
fundamental para transformar
os produtos em commodities,
que poderiam ser negociadas
em bolsas e ao redor do mundo.
Lula disse que o fim da tarifa
sobre o álcool nos EUA depende de "muita conversa e convencimento". "Não acho que
um país vá abrir mão das coisas
que protegem seu comércio
porque outro país está pedindo.
Vai chegar um dia em que essa
conversa vai amadurecer e chegar num denominador comum
que permitirá um acordo."
Bush, por seu lado, em momento nenhum acenou com
um acordo sobre tarifa. Mas
deixou claro que "é do interesse
dos EUA" ter múltiplas fontes
de energia. Ele lembrou a meta
norte-americana de adicionar,
até 2017, 20% de produtos alternativos (cerca de 35 bilhões
de galões) a todo o combustível
consumido nos EUA.
"O Brasil mostrou que isso é
possível. Vamos realizar pesquisas entre nossos países e levantar oportunidades", disse.
Os EUA são o maior produtor
de álcool no mundo (18,5 bilhões de litros/ano), produzido
a partir do milho. O Brasil produz 17,8 bilhões/ano e é considerado, em função do espaço
para o plantio da cana-de-açúcar, o país com maior potencial.
Pelos cálculos do governador
José Serra (SP), que também
participou do encontro entre
Lula e Bush, a proteção contra
o álcool brasileiro praticada pelos EUA atinge 100% se somado o subsídio dado aos produtores norte-americanos.
Nos pronunciamentos e nas
respostas às quatro perguntas
autorizadas (uma delas, da imprensa dos EUA, sobre Iraque),
Lula falou, basicamente, sobre
álcool e comércio.
Bush foi mais econômico na
questão dos biocombustíveis e
aproveitou para enaltecer as
"qualidades" de seu país. "Minha viagem serve para explicar
o mais claro possível que nossa
nação é generosa e cheia de
compaixão. Quando vemos pobreza, nós nos preocupamos."
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