São Paulo, sábado, 10 de março de 2007

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Bush diz que EUA são generosos, mas tarifas não caem

Presidente diz que taxas sobre álcool exportado pelo Brasil para os americanos não serão retiradas ao menos até 2009

Lula afirma que não é preciso discutir ajuda aos países pobres, mas sim projetos que signifiquem desenvolvimento


FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Dizendo que os EUA são uma "nação generosa e cheia de compaixão", que quando vê pobreza "se preocupa", o presidente George W. Bush disse ontem que seu país não retirará a tarifa de R$ 0,30 por litro de álcool brasileiro exportado para o mercado norte-americano.
"Isso não vai acontecer. A lei (que criou a tarifa) vale até 2009 e o Congresso vai analisar o assunto quando a lei terminar. Não vamos perder tempo com essa resposta", respondeu Bush de forma seca ao ser questionado, em entrevista coletiva, sobre pedido do governo brasileiro de revisão do assunto.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que almoçou com Bush, ministros e convidados dos dois países em São Paulo, disse que o acesso do Brasil e demais países pobres ao mercado americano de álcool e biocombustíveis é "fundamental" para o desenvolvimento.
"Não precisamos ficar discutindo ajuda aos países pobres. Temos de discutir projetos que signifiquem desenvolvimento, que a gente veja o resultado do dinheiro investido", disse Lula.
"Estou convencido de que se o programa de biocombustível tiver a maturidade de financiar projetos nos países mais pobres e os países ricos comprarem o biodiesel e o álcool produzidos, vamos ver o investimento dar resultados e gerar empregos. Essa é a grande forma de ajuda que os países ricos podem dar aos mais pobres", disse.

Acordo de cooperação
Pela manhã, em visita a uma unidade da Petrobras em Guarulhos (SP), Lula e Bush assinaram um acordo de cooperação tecnológica entre os dois países para a produção de álcool.
A definição de padrões e normas para biocombustíveis é fundamental para transformar os produtos em commodities, que poderiam ser negociadas em bolsas e ao redor do mundo.
Lula disse que o fim da tarifa sobre o álcool nos EUA depende de "muita conversa e convencimento". "Não acho que um país vá abrir mão das coisas que protegem seu comércio porque outro país está pedindo. Vai chegar um dia em que essa conversa vai amadurecer e chegar num denominador comum que permitirá um acordo."
Bush, por seu lado, em momento nenhum acenou com um acordo sobre tarifa. Mas deixou claro que "é do interesse dos EUA" ter múltiplas fontes de energia. Ele lembrou a meta norte-americana de adicionar, até 2017, 20% de produtos alternativos (cerca de 35 bilhões de galões) a todo o combustível consumido nos EUA.
"O Brasil mostrou que isso é possível. Vamos realizar pesquisas entre nossos países e levantar oportunidades", disse.
Os EUA são o maior produtor de álcool no mundo (18,5 bilhões de litros/ano), produzido a partir do milho. O Brasil produz 17,8 bilhões/ano e é considerado, em função do espaço para o plantio da cana-de-açúcar, o país com maior potencial.
Pelos cálculos do governador José Serra (SP), que também participou do encontro entre Lula e Bush, a proteção contra o álcool brasileiro praticada pelos EUA atinge 100% se somado o subsídio dado aos produtores norte-americanos.
Nos pronunciamentos e nas respostas às quatro perguntas autorizadas (uma delas, da imprensa dos EUA, sobre Iraque), Lula falou, basicamente, sobre álcool e comércio.
Bush foi mais econômico na questão dos biocombustíveis e aproveitou para enaltecer as "qualidades" de seu país. "Minha viagem serve para explicar o mais claro possível que nossa nação é generosa e cheia de compaixão. Quando vemos pobreza, nós nos preocupamos."


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