São Paulo, sábado, 10 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Mundo pára" enquanto comboio de Bush passa

Trânsito na via Dutra é interrompido para dar passagem a americano e seus 40 carros

Frustrados, motoristas protestam; agente secreto dos EUA vê exagero e diz que segurança brasileira é "mais realista que o rei"


Apu Gomes/Folha Imagem
Carros da comitiva de Bush passam por favela na avenida Jornalista Roberto Marinho, no caminho da Transpetro para o hotel


SÉRGIO DÁVILA
EM SÃO PAULO

Com só nove anos, Duck já foi três vezes ao Iraque. O pastor alemão farejador de bombas da Aeronáutica norte-americana voou de Arkansas, Estado do ex-presidente Bill Clinton, para São Paulo com seu treinador. Chegou na quarta, parte hoje.
Sua missão é liberar sacolas e mochilas, depois de procurar por vestígios de explosivos. É Duck, também, que dá o pontapé inicial de um rotina que parou São Paulo nos últimos dois dias e deve parar outras cidades latino-americanas, na continuação do giro do presidente George W. Bush pela região. Com bagagens cheiradas e liberadas, a comitiva presidencial pode se movimentar.
A reportagem da Folha participou do comboio de Bush que saiu do terminal de combustíveis Transpetro, em Guarulhos, rumo ao hotel Hilton, na zona sul de São Paulo. É como viajar num mundo paralelo, em que a paisagem está congelada e apenas um estreito corredor blindado se move.
"São essas movimentações, e não a guerra, as maiores responsáveis pela impopularidade do presidente", acredita uma das pessoas da comitiva.
A máquina começa a girar depois que os agentes do Serviço Secreto gritam "clear" (liberado). Todos a postos, Bush decide em qual das duas limusines Cadillac One embarcará. As duas vão juntas, para despiste. Ambas tem a placa de identificação 800-002. Uma terceira, idêntica, o espera no Hilton, para casos de emergência.
Um total de 40 carros se desloca, metade da polícia local, metade dos visitantes. Entre eles, a peça fundamental é um caminhão preto, descrito vagamente como "centro de comunicações". Indagado pela Folha, um agente do serviço secreto responde, brincando: "É nosso caminhão do sorvete".
O furgão centralizará o contato de Bush com o mundo exterior em caso de emergência, acionando inclusive operações independentes de resgate.
A parada sai do terminal e passa por um bairro pobre de Guarulhos. Isolada por soldados do Exército, a população local olha embasbacada o cortejo, e retribui aos acenos de Bush.
Não há manifestações de hostilidade -ainda. Durante o discurso que Bush e Lula fizeram, minutos antes, um único balão conseguiu romper o espaço aéreo e dizia, quase bilíngüe, "Fora Bush", de um lado, e "Out Bush" (sic), do outro.
Até alcançarmos a rodovia Dutra, onde a via contrária foi interrompida para que Bush passe. Pessoas que saíram dos carros parados apontam o relógio no pulso para os que passam em alta velocidade. Nos pontilhões, também parados, alguns até exibem o dedo médio.
Na comitiva, uma americana pergunta ao agente do Serviço Secreto se não é um exagero parar tudo para que os carros passem. "É", diz ele. "Mas, às vezes, as autoridades locais querem ser mais realistas que o rei."


Texto Anterior: Americanas
Próximo Texto: No fim da maratona no Brasil, presidente demonstra impaciência
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.