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Laura Bush ouve poema, samba e história
Em visita a duas ONGs, primeira-dama dos EUA assiste a aula de mentirinha de alfabetização da AlfaSol e não fala com jornalistas
Na Cidade Escola Aprendiz, sob um sol de 34ºC, Laura sorriu para as crianças, conversou um pouco, mas não tocou em nenhuma
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma aula de mentirinha foi
montada na manhã de ontem
no Jardim Paulista, área nobre
de São Paulo. O objetivo era
mostrar para Laura Bush como
funciona um dos mais bem-sucedidos programas mundiais
de alfabetização, o Alfabetização Solidária (AlfaSol).
A atividade era parte da agenda oficial da primeira-dama
americana na cidade. Professora e bibiliotecária por formação, Laura Bush quis conhecer,
além do AlfaSol, outra ONG do
campo educacional: a Associação Cidade Escola Aprendiz.
Terninho cinza com pespontos vermelhos, brincos vermelhos, colar de contas vermelhas,
batom vermelho combinando,
tudo arrematado por escarpins
de couro pretos, Laura Bush
chegou às 10h à AlfaSol.
Depois de conversar com a
direção da ONG, a primeira-dama foi conduzida a uma sala,
onde se encontrou com oito anfabetizados, todos na casa dos
50 anos, negros e pardos,
oriundos de Estados nordestinos e de Minas Gerais, e com
dois alfabetizadores, que simulariam uma aula do programa.
"Minha terra tem palmeiras,
onde canta o sabiá. As aves que
aqui gorjeiam não gorjeiam como lá", a "Canção do Exílio", de
Gonçalves Dias, foi lida em
uníssono.
Fundado por Ruth Cardoso,
mulher do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o AlfaSol completou dez anos e soma 5,3 milhões de alunos atendidos em 2.088 cidades.
Os oito jornalistas que acompanhavam o roteiro da visita
estavam proibidos de dirigir
pergunta a Laura Bush.
Neusa Silva dos Santos, 53,
baiana, vendedora de "comida
afro-brasileira" em São Paulo,
como se apresentou, contou
que escreveu um livro ainda
sem nome e atacou: "Eu gostaria muito que a senhora patrocinasse a publicação dele", pediu, séria. Traduzida a mensagem, a primeira-dama riu.
De lá, o comboio com duas limusines, vans, jipões, ônibus,
carros da Polícia Federal e até
uma ambulância, total de 15
veículos, saiu rumo ao bairro da
Vila Madalena, onde fica o
Aprendiz, ONG que aplica o
conceito de educação comunitária. Chegou às 11h20.
Doze crianças com idades
entre cinco e sete anos, uma
vestida de médico, estetoscópio
de brinquedo examinando uma
boneca, outro com óculos de
aros coloridos sem lente e capacete de operário, mais alguns
brincando de casinha, foram
apresentadas à primeira-dama.
Estavam em um cercadinho,
sob sol forte, quase a pino. A
temperatura era de 34ºC.
Laura Bush sorriu para as
crianças, conversou pouquinho. Não tocou em nenhuma.
Gotinhas de suor porejavam no
rosto da primeira-dama.
Ela foi então levada para o
Café Aprendiz, do outro lado da
a rua cujo trânsito estava interrompido por homens da PM, da
PF, do Exército, além dos armários do Serviço Secreto americano, terno e cabelo escovinha. Tinha também três grandalhões de cabelos mais compridos e sem gravata -eram
mulheres.
O grupo de chorinho Coisa
Linda de Deus, no meio do caminho, tocava "O Samba da Minha Terra", de Caymmi. Laura
Bush foi em frente.
Ouviu a história da ex-menina de rua e ex-usuária de drogas Esmeralda Ortiz. Sete anos
no Aprendiz, Esmeralda abandonou as drogas e as ruas, e se
formou jornalista. No fim, a ex-menina de rua pediu a Laura
Bush uma pós em antropologia
nos Estados Unidos. A primeira-dama ficou de estudar.
Do outro lado da rua, o grupo
de chorinho era entrevistado:
Vocês apóiam a intervenção
americana no Iraque? "Somos
contra." Por que vocês não falaram isso para a primeira-dama? "E pode falar?", respondeu
um jovem. E o grupo continuou
a tocar. Às 12h, Laura Bush voltou ao hotel.
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