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DÍVIDAS
Governo paulista susta o pagamento de desapropriações de terras em áreas de preservação ambiental
SP vê fraude de R$ 2 bi em precatórios
THOMAS TRAUMANN
da Reportagem Local
O governo de São Paulo suspendeu o pagamento de desapropriações de terras em áreas de preservação ambiental afirmando ter
achado fraudes que atingem R$ 2
bilhões nos processos judiciais.
Tenta assim reverter seguidas
derrotas nos tribunais que o condenaram a pagar indenizações
aos proprietários que tiveram
suas áreas tomadas para a criação
de parques estaduais. São os chamados precatórios ambientais.
Estudos feitos por técnicos da
Secretaria do Meio Ambiente e
procuradores do Estado acusam
irregularidades graves em 13 precatórios. No total, o governo de
São Paulo deve R$ 2,6 bilhões em
89 precatórios ambientais. Os
procuradores acreditam que, com
recursos e revisões, a dívida pode
ser reduzida para R$ 900 milhões.
Os pareceres técnicos para verificar a possibilidade de fraude nos
precatórios ambientais estão sendo realizados há quase três anos.
No ano passado, os procuradores
começaram a usar esses laudos
para brecar o pagamento de algumas dívidas judiciais. Funcionou.
Agora o governo vai usar a denúncia de fraude como manobra
sistemática para não pagar as dívidas que considera suspeitas.
O governo paulista usa dois argumentos para tentar provar suas
suspeitas de fraude. O primeiro é
que, em algumas áreas, há dúvidas sobre a propriedade da terra
desapropriada. A segunda denúncia é que, na média, a perícia
judicial quadruplicou o valor da
terra e a indenização da madeira
que poderia ser tirada da floresta.
Na ação de desapropriação de
uma área da Copebrás, a diferença entre a perícia judicial e a reavaliação do governo é de 116 vezes. Cada hectare do terreno desapropriado em 1985 para a criação
do Parque da Serra do Mar foi
avaliado em US$ 0,98. A perícia
judicial usou como parâmetro o
preço do hectare de chácaras de
lazer na região metropolitana de
São Paulo. Mas o terreno da Copebrás fica próximo da zona industrial de Cubatão, uma das regiões mais degradadas do país.
Em outubro de 1998, o Supremo
Tribunal Federal deu ganho de
causa à empresa. Ordenou que o
Estado pagasse R$ 80 milhões pela desapropriação. Nas próximas
semanas, a Procuradoria Geral do
Estado entra com ação para rescindir todo o processo.
"Queremos rediscutir o que já
foi discutido. Mesmo que a sentença já tenha passado por todos
os trâmites judiciais, ela não pode
ser veículo da imoralidade. Vamos fazer o que puder para não
pagar estas fraudes", afirmou o
subprocurador-geral do Estado,
José Roberto de Moraes.
É uma posição polêmica. Advogados e um ministro do Supremo
Tribunal Federal ouvidos pela Folha colocam em dúvida o sucesso
desta estratégia. Argumentam
que, se não comprovar que houve
fraude, o governo paulista vai ser
punido com multas e encargos.
Há o risco, portanto, de a dívida
aumentar. Para os proprietários
das áreas desapropriadas, a postura do governo é um "engodo".
Autocrítica
Os recursos em massa em processos que já estão tramitados e
julgados ou em fase de conclusão
são, implicitamente, uma autocrítica na forma como o governo se
defendeu nos casos. Um exemplo
é a indenização de R$ 1,3 bilhão
por terras que pertenciam à Companhia Comercial Dela, o maior
processo ambiental do país.
No seu último recurso, o governo apresentou laudo apontado
que há um sobreposição da propriedade da Dela com outra área
já sido indenizada. Também disse
que a escritura inicial da empresa
aponta dimensões menores do
que a área que foi desapropriada.
Se essas informações forem verdadeiras, é surpreendente que só
tenham sido descobertas pelo governo 15 anos após o início do
processo. "Não se pode falar em
negligência, mas talvez tenham
faltado informações técnicas",
disse o secretário do Meio Ambiente, Ricardo Trípoli.
O caso da Dela também é exemplar sobre como a aplicação das
correções e cobrança de juros
multiplicam o montante da dívida. Em 1988, esse terreno de encosta e floresta entre a Serra do
Mar e o Parque Nacional da Serra
da Bocaina (federal) foi avaliado
pela Justiça em R$ 290 milhões,
em valores atualizados. A isso, foram multiplicados juros compensatórios de 12% desde 1977, juros
moratórios de 6% ao ano desde
1991, custas processuais e honorários de advogados. Juntos, esses
fatores deram mais de R$ 1 bilhão.
Se confirmado o precatório, cada hectare da área da Dela vai custar quase R$ 100 mil, o suficiente
para comprar uma propriedade
de 30 hectares em Ribeiro Preto, a
região rural mais valorizada de
São Paulo. Pelo laudo do governo,
com os juros e correções, o hectare de mata da Dela deveria custar
R$ 5.000. No final das contas, uma
diferença de R$ 1,2 bilhão.
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