|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SEMINÁRIOS
Presidente de honra do partido promove debates sobre o tema e se reaproxima de intelectuais
PT de Lula tira socialismo do armário
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Editor do Painel
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente de honra do PT e líder nas
pesquisas de opinião sobre a sucessão de Fernando Henrique
Cardoso em 2002, decidiu trazer
para a sua responsabilidade o debate sobre o socialismo dentro do
partido. A iniciativa de Lula é
uma resposta aos chamados "radicais" da legenda, que vinham
monopolizando internamente a
defesa da bandeira socialista.
A pedido de Lula, o crítico literário Antonio Candido, professor
emérito aposentado da USP e um
dos mais ilustres intelectuais brasileiros filiados ao PT, organizou
uma série de seminários, cujo título geral é "Socialismo e Democracia". O encontro, restrito a
convidados, começa hoje, na sede
nacional do PT em São Paulo,
com conferência da filósofa Marilena Chaui. O tema é o "Socialismo no Ano 2000". Estão previstos
seis seminários, a cada 15 dias,
mas a idéia é retomá-los em 2001.
Na carta que enviou a cada um
dos convidados, Lula afirma estar
lançando "o desafio de pensar um
plano de discussões e reflexões
acerca do socialismo" a fim de
"retomar entre nós um clima de
discussão aberta, onde pudéssemos expor livremente todas as
nossas certezas e dúvidas (...), sem
as tensões que são inevitáveis
quando o assunto é abordado no
calor de nossas polêmicas sindicais, partidárias ou do movimento popular como um todo".
O seminário marca a reaproximação de Lula dos maiores intelectuais brasileiros ligados ao PT,
tais como Chaui, os economistas
Francisco de Oliveira e Paul Singer, além do próprio Candido, os
quais, nos anos 80, tiveram participação importante nas grandes
discussões ideológicas do PT e,
por razões diversas e em graus variados, haviam se afastado delas.
Além disso, o encontro reacende, mas em novo eixo, uma discussão que ficou mal resolvida no
2º Congresso Nacional do PT,
ocorrido em novembro último,
em Belo Horizonte. Na ocasião, as
alas mais radicais do PT criticaram o deputado José Dirceu (SP),
então reeleito presidente do partido, por ter dito que se a esquerda
apresentasse um programa socialista não teria condições de derrotar FHC. Dirceu foi acusado de
"pragmático e oportunista".
A ala mais moderada do partido, por sua vez, liderada pelo deputado federal José Genoino (SP),
propôs na época que o foco central do programa do PT deveria
ser a "radicalização da democracia", não a defesa do socialismo.
Lula quer agora introduzir nova
massa crítica na discussão sobre o
socialismo e deslocá-la do embate
interno entre as correntes do partido. "Não existe, da nossa parte,
concepção prévia de socialismo e
de como alcançá-lo. O único pressuposto óbvio é que, para nós, o
socialismo não pode ser desvinculado da democracia", diz Lula
em sua carta-convite.
Em sua exposição de hoje,
Chaui afirma que não irá oferecer
"nenhum programa de ação",
mas refletir sobre "as novas dificuldades para uma ação e um
pensamento socialistas".
Depois de recuperar os termos
da discussão nos anos 70 e 80, cujo pano de fundo era o chamado
"socialismo real", Chaui chega
aos anos 90 para mostrar como o
a questão socialista "foi esvaziada
pela desestruturação socioeconômica da classe trabalhadora" e
passou a ser vista como um "arcaísmo caipira". A palestra termina com uma análise da chamada
"terceira via" (formulada pelo
ideólogo de Tony Blair, o sociólogo Anthony Guiddens, e encampada no Brasil por FHC) e uma
crítica, com ares de demolição, do
bordão: "Queremos a sociedade
de mercado sem os valores da sociedade de mercado".
Texto Anterior: Conheça os processos Próximo Texto: "Brasil não cultivou pensamento radical" Índice
|