São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 2000


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SEMINÁRIOS
Presidente de honra do partido promove debates sobre o tema e se reaproxima de intelectuais
PT de Lula tira socialismo do armário

FERNANDO DE BARROS E SILVA
Editor do Painel


Luiz Inácio Lula da Silva, presidente de honra do PT e líder nas pesquisas de opinião sobre a sucessão de Fernando Henrique Cardoso em 2002, decidiu trazer para a sua responsabilidade o debate sobre o socialismo dentro do partido. A iniciativa de Lula é uma resposta aos chamados "radicais" da legenda, que vinham monopolizando internamente a defesa da bandeira socialista.
A pedido de Lula, o crítico literário Antonio Candido, professor emérito aposentado da USP e um dos mais ilustres intelectuais brasileiros filiados ao PT, organizou uma série de seminários, cujo título geral é "Socialismo e Democracia". O encontro, restrito a convidados, começa hoje, na sede nacional do PT em São Paulo, com conferência da filósofa Marilena Chaui. O tema é o "Socialismo no Ano 2000". Estão previstos seis seminários, a cada 15 dias, mas a idéia é retomá-los em 2001.
Na carta que enviou a cada um dos convidados, Lula afirma estar lançando "o desafio de pensar um plano de discussões e reflexões acerca do socialismo" a fim de "retomar entre nós um clima de discussão aberta, onde pudéssemos expor livremente todas as nossas certezas e dúvidas (...), sem as tensões que são inevitáveis quando o assunto é abordado no calor de nossas polêmicas sindicais, partidárias ou do movimento popular como um todo".
O seminário marca a reaproximação de Lula dos maiores intelectuais brasileiros ligados ao PT, tais como Chaui, os economistas Francisco de Oliveira e Paul Singer, além do próprio Candido, os quais, nos anos 80, tiveram participação importante nas grandes discussões ideológicas do PT e, por razões diversas e em graus variados, haviam se afastado delas.
Além disso, o encontro reacende, mas em novo eixo, uma discussão que ficou mal resolvida no 2º Congresso Nacional do PT, ocorrido em novembro último, em Belo Horizonte. Na ocasião, as alas mais radicais do PT criticaram o deputado José Dirceu (SP), então reeleito presidente do partido, por ter dito que se a esquerda apresentasse um programa socialista não teria condições de derrotar FHC. Dirceu foi acusado de "pragmático e oportunista".
A ala mais moderada do partido, por sua vez, liderada pelo deputado federal José Genoino (SP), propôs na época que o foco central do programa do PT deveria ser a "radicalização da democracia", não a defesa do socialismo.
Lula quer agora introduzir nova massa crítica na discussão sobre o socialismo e deslocá-la do embate interno entre as correntes do partido. "Não existe, da nossa parte, concepção prévia de socialismo e de como alcançá-lo. O único pressuposto óbvio é que, para nós, o socialismo não pode ser desvinculado da democracia", diz Lula em sua carta-convite.
Em sua exposição de hoje, Chaui afirma que não irá oferecer "nenhum programa de ação", mas refletir sobre "as novas dificuldades para uma ação e um pensamento socialistas".
Depois de recuperar os termos da discussão nos anos 70 e 80, cujo pano de fundo era o chamado "socialismo real", Chaui chega aos anos 90 para mostrar como o a questão socialista "foi esvaziada pela desestruturação socioeconômica da classe trabalhadora" e passou a ser vista como um "arcaísmo caipira". A palestra termina com uma análise da chamada "terceira via" (formulada pelo ideólogo de Tony Blair, o sociólogo Anthony Guiddens, e encampada no Brasil por FHC) e uma crítica, com ares de demolição, do bordão: "Queremos a sociedade de mercado sem os valores da sociedade de mercado".


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