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OPERAÇÃO SOCIAL
Presidente estava ao lado de Graziano, idealizador da distribuição de cupons para a compra de alimentos
Lula faz críticas a ações assistencialistas
FÁBIO ZANINI
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva fez ontem, em cerimônia do
programa Fome Zero no Palácio
do Planalto, uma crítica à distribuição de "vales" pelo governo federal, dizendo que é um tipo de
ajuda que "não contribui com as
reformas estruturais de que o Brasil precisa". A seu lado, estava o
ministro José Graziano (Combate
à Fome), idealizador da distribuição de cupons exclusivamente para a compra de alimentos.
O programa sofre críticas de especialistas em combate à fome e
de alguns organismos internacionais, como o Banco Mundial, porque teria caráter "assistencialista", com a vinculação do benefício
à compra de alimentos e a não
exigência de contrapartida, como
a frequência escolar.
Em um discurso durante solenidade de assinatura de um convênio com a Febraban (Federação
Brasileira dos Bancos) para a
construção de 10 mil cisternas no
semi-árido, o presidente defendeu "políticas que signifiquem
mudanças estruturais na vida da
sociedade brasileira".
Ele fez uma crítica genérica à
distribuição de recursos, sem
mencionar especificamente nenhum programa. O presidente citou uma conversa recente que teve em Cabedelo (PB), na qual um
trabalhador rural disse que as
pessoas estavam acostumadas a
receber "muita coisa de favor".
"Ele me contou que antigamente, quando chovia, o povo logo
corria para plantar feijão, milho,
macaxeira, porque sabia que ia
colher alguns meses depois. Mas
tem gente que já não quer mais,
porque fica esperando vale isso,
vale aquilo, as coisas que o governo criou para dar para as pessoas", afirmou o presidente.
Lula emendou: "E eu acho que
isso não contribui com as reformas estruturais de que o Brasil
precisa ter, para que as pessoas
possam viver condignamente à
custa do seu trabalho."
O presidente afirmou que a dignidade só será conquistada quando as pessoas puderem ter uma
fonte permanente de renda.
"Eu sempre disse que não há
nada mais digno para um homem
do que levantar de manhã e trabalhar. Isso é que faz as pessoas andarem de cabeça erguida, a escolher melhor quem é o seu candidato. Isso é que motiva as pessoas
a aprenderem um pouco mais."
Repetindo uma frase que proferiu à exaustão na campanha, o
presidente disse que não se deve
combater a seca, assim como o
governo do Canadá não combate
a neve, mas sim conviver com ela.
"A falta de chuva é fenômeno da
natureza, mas a fome é irresponsabilidade dos governantes", disse. Para Lula, a seca é frequentemente associada à opressão política. "Muitas vezes se utiliza a seca
como instrumento de perpetuação de uma casta."
O presidente se mostrou surpreso com a atitude da Febraban
de doar R$ 13 milhões para a
construção das cisternas. "Até
dois meses atrás, ninguém nesta
sala imaginaria isso", disse.
As cisternas servem para captar
água da chuva. Lula reconheceu
que as 10 mil a serem construídas
são poucas em relação ao 1 milhão
de que o Nordeste necessita.
Lula fez ainda uma referência,
sem citação nominal, ao apresentador Carlos Massa, o Ratinho,
que anunciou a intenção de construir poços artesianos no Nordeste. "De vez em quando vem essa
moda de que fazer poço resolve e
não é verdade, porque muitas vezes a água sai salobra, ou fura e
não acha nada. Até disse isso para
um amigo meu, que tem um programa de TV e saiu falando que ia
construir poços no Nordeste."
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