UOL

São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OPERAÇÃO SOCIAL

Presidente estava ao lado de Graziano, idealizador da distribuição de cupons para a compra de alimentos

Lula faz críticas a ações assistencialistas

FÁBIO ZANINI
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem, em cerimônia do programa Fome Zero no Palácio do Planalto, uma crítica à distribuição de "vales" pelo governo federal, dizendo que é um tipo de ajuda que "não contribui com as reformas estruturais de que o Brasil precisa". A seu lado, estava o ministro José Graziano (Combate à Fome), idealizador da distribuição de cupons exclusivamente para a compra de alimentos.
O programa sofre críticas de especialistas em combate à fome e de alguns organismos internacionais, como o Banco Mundial, porque teria caráter "assistencialista", com a vinculação do benefício à compra de alimentos e a não exigência de contrapartida, como a frequência escolar.
Em um discurso durante solenidade de assinatura de um convênio com a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) para a construção de 10 mil cisternas no semi-árido, o presidente defendeu "políticas que signifiquem mudanças estruturais na vida da sociedade brasileira".
Ele fez uma crítica genérica à distribuição de recursos, sem mencionar especificamente nenhum programa. O presidente citou uma conversa recente que teve em Cabedelo (PB), na qual um trabalhador rural disse que as pessoas estavam acostumadas a receber "muita coisa de favor".
"Ele me contou que antigamente, quando chovia, o povo logo corria para plantar feijão, milho, macaxeira, porque sabia que ia colher alguns meses depois. Mas tem gente que já não quer mais, porque fica esperando vale isso, vale aquilo, as coisas que o governo criou para dar para as pessoas", afirmou o presidente.
Lula emendou: "E eu acho que isso não contribui com as reformas estruturais de que o Brasil precisa ter, para que as pessoas possam viver condignamente à custa do seu trabalho."
O presidente afirmou que a dignidade só será conquistada quando as pessoas puderem ter uma fonte permanente de renda.
"Eu sempre disse que não há nada mais digno para um homem do que levantar de manhã e trabalhar. Isso é que faz as pessoas andarem de cabeça erguida, a escolher melhor quem é o seu candidato. Isso é que motiva as pessoas a aprenderem um pouco mais."
Repetindo uma frase que proferiu à exaustão na campanha, o presidente disse que não se deve combater a seca, assim como o governo do Canadá não combate a neve, mas sim conviver com ela.
"A falta de chuva é fenômeno da natureza, mas a fome é irresponsabilidade dos governantes", disse. Para Lula, a seca é frequentemente associada à opressão política. "Muitas vezes se utiliza a seca como instrumento de perpetuação de uma casta."
O presidente se mostrou surpreso com a atitude da Febraban de doar R$ 13 milhões para a construção das cisternas. "Até dois meses atrás, ninguém nesta sala imaginaria isso", disse.
As cisternas servem para captar água da chuva. Lula reconheceu que as 10 mil a serem construídas são poucas em relação ao 1 milhão de que o Nordeste necessita.
Lula fez ainda uma referência, sem citação nominal, ao apresentador Carlos Massa, o Ratinho, que anunciou a intenção de construir poços artesianos no Nordeste. "De vez em quando vem essa moda de que fazer poço resolve e não é verdade, porque muitas vezes a água sai salobra, ou fura e não acha nada. Até disse isso para um amigo meu, que tem um programa de TV e saiu falando que ia construir poços no Nordeste."


Texto Anterior: Operação social: Fome não é problema "isolado", diz ONU
Próximo Texto: Frases
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.