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Ministro recusa pressão e vê exagero em denúncias
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, classificou de "tempestade em copo d'água" a denúncia de que o Brasil se
recusa a permitir inspeções em
usinas nucleares. Segundo ele, "o
programa brasileiro é claramente
pacífico, altamente auditado e
permite fiscalização até em unidades militares".
Campos recusou a pressão do
Departamento de Estado dos Estados Unidos para o Brasil assinar
o protocolo adicional do TNT
(Tratado de Não-Proliferação
Nuclear), alegando que as 35 unidades existentes são abertas aos
inspetores, e uma 36ª, em Resende (RJ), nem está pronta.
Depois, falou em geral: "São
tantos os considerandos a favor
do Brasil que não faz o menor
sentido criar um problema falso, à
toa, sabe-se lá com que intenções", disse à Folha.
Segundo o ministro, só há um
impasse nas negociações com a
AIEA (Agência Internacional de
Energia Atômica) para a inspeção
de Resende: a agência quer inspeções amplas e irrestritas, mas o
Brasil só aceita inspeções das centrífugas à distância, como forma
de defender sua tecnologia de
enriquecimento de urânio.
Campos, o chanceler Celso
Amorim e o assessor internacional da Presidência da República,
Marco Aurélio Garcia, batem na
tecla de que o Brasil já assumiu todos os compromissos de que não
vai desenvolver um programa nuclear com objetivos militares.
Numa solenidade na Embaixada da Argentina, na quarta-feira à
noite, Amorim fez um rápido discurso destacando que o programa
nuclear brasileiro já está bem resguardado, inclusive pela Abacc
(Agência Brasileiro-Argentina de
Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares).
Para Marco Aurélio Garcia, a
discussão não faz sentido: "Quem
quer fazer bomba no Brasil? Nem
o governo, nem a oposição, nem a
direita, nem a esquerda, nem a
academia, nem os militares, nem
a mídia. Ninguém é louco. Então,
isso tudo é ridículo".
A Folha apurou que o governo
já tinha indícios de que haveria
pressões, especialmente americanas, e estava preparado para ter o
mesmo discurso desde o início
das pressões, com a manchete do
jornal "The Washington Post", no
domingo passado, noticiando a
suposta resistência às inspeções.
Na avaliação do governo, as matérias de jornais americanos e a
cobrança do Departamento de
Estado para que o Brasil assine o
protocolo adicional do TNT têm
um forte componente comercial:
a tentativa de forçar os brasileiros
a abrirem sua tecnologia nuclear.
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