São Paulo, sábado, 10 de abril de 2004

Texto Anterior | Índice

Ministro recusa pressão e vê exagero em denúncias

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, classificou de "tempestade em copo d'água" a denúncia de que o Brasil se recusa a permitir inspeções em usinas nucleares. Segundo ele, "o programa brasileiro é claramente pacífico, altamente auditado e permite fiscalização até em unidades militares".
Campos recusou a pressão do Departamento de Estado dos Estados Unidos para o Brasil assinar o protocolo adicional do TNT (Tratado de Não-Proliferação Nuclear), alegando que as 35 unidades existentes são abertas aos inspetores, e uma 36ª, em Resende (RJ), nem está pronta.
Depois, falou em geral: "São tantos os considerandos a favor do Brasil que não faz o menor sentido criar um problema falso, à toa, sabe-se lá com que intenções", disse à Folha.
Segundo o ministro, só há um impasse nas negociações com a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) para a inspeção de Resende: a agência quer inspeções amplas e irrestritas, mas o Brasil só aceita inspeções das centrífugas à distância, como forma de defender sua tecnologia de enriquecimento de urânio.
Campos, o chanceler Celso Amorim e o assessor internacional da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, batem na tecla de que o Brasil já assumiu todos os compromissos de que não vai desenvolver um programa nuclear com objetivos militares.
Numa solenidade na Embaixada da Argentina, na quarta-feira à noite, Amorim fez um rápido discurso destacando que o programa nuclear brasileiro já está bem resguardado, inclusive pela Abacc (Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares).
Para Marco Aurélio Garcia, a discussão não faz sentido: "Quem quer fazer bomba no Brasil? Nem o governo, nem a oposição, nem a direita, nem a esquerda, nem a academia, nem os militares, nem a mídia. Ninguém é louco. Então, isso tudo é ridículo".
A Folha apurou que o governo já tinha indícios de que haveria pressões, especialmente americanas, e estava preparado para ter o mesmo discurso desde o início das pressões, com a manchete do jornal "The Washington Post", no domingo passado, noticiando a suposta resistência às inspeções.
Na avaliação do governo, as matérias de jornais americanos e a cobrança do Departamento de Estado para que o Brasil assine o protocolo adicional do TNT têm um forte componente comercial: a tentativa de forçar os brasileiros a abrirem sua tecnologia nuclear.


Texto Anterior: Energia política: "Segredo do urânio" é inútil, diz Goldemberg
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.