São Paulo, quinta-feira, 10 de maio de 2007

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Para ministro, fala de religioso foi "descabida"

VINICIUS ABBATE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirmou ontem que parece "descabido" o apoio dado ontem pelo papa Bento 16 aos bispos mexicanos que desejam excomungar políticos que votaram a favor da legalização do aborto na Cidade do México, no mês de abril.
"É uma expressão. Cada um se manifesta como... Você não pode apenas prescrever dogmas e preceitos de determinada religião para um conjunto da sociedade. Me parece descabido", comentou o ministro, ao comparecer à Comissão de Assuntos Sociais do Senado. Procurado para falar novamente sobre o assunto, ao deixar o Senado, Temporão disse ter "formação católica sólida".
"Cada um professa sua fé, e o Brasil conseguiu garantir o direito à liberdade religiosa. Mas sobre esse comentário [do papa Bento 16], não gostaria de falar", respondeu o ministro. Temporão também disse que a discussão sobre o aborto passa por um "viés machista".
"Acho que as mulheres têm que falar, têm que ser ouvidas nesse processo, não só os homens. São as mulheres que sofrem, mas o julgamento e as leis são feitos pelos homens", afirmou. "Infelizmente os homens não engravidam. Se engravidassem a questão estaria resolvida há muito tempo."
Temporão tem sofrido ataques de setores da sociedade, a Igreja Católica entre eles, por querer trazer ao debate público o tema do aborto.
"O que vamos fazer, como sociedade, como governo, como Estado? As discussões no campo da ética, da religião, são legitimas, mas temos que focar na saúde pública", afirmou ele.
O deputado José Genoino (PT-SP), autor de um projeto que dá o direito à mulher de decidir sobre abortar ou não, disse que a ameaça do papa Bento 16 de excomungar políticos mexicanos é um exemplo de intolerância. "Defendo o Estado laico. A Igreja tem de ser tolerante com os que têm opinião divergente a seus preceitos", disse o deputado.

México
A aprovação, na Cidade do México, de uma lei que descriminaliza a prática do aborto até a 12ª semana de gestação foi motivo de um embate entre a Igreja Católica do país e os legisladores da capital mexicana no fim do mês passado.
A lei acabou sendo aprovada pela Assembléia Legislativa da capital federal no dia 24 de abril, mas não antes de uma intervenção direta de Bento 16 na contenda e da ameaça de excomunhão dos legisladores.
O papa enviou em abril carta à Conferência do Episcopado Mexicano apoiando a condenação dos bispos do país à lei.
A condenação teve expressões mais viscerais, como a do bispo-auxiliar da Arquidiocese do México, Marcelino Hernández. Ele declarou que os legisladores que votassem a favor da lei seriam "automaticamente excomungados" assim que ocorresse a primeira interrupção de gravidez.
Já o bispo de San Cristóbal de las Casas, Felipe Arizmandi, comparou os parlamentares pró-aborto aos nazistas.


Colaboraram a Redação e LEILA SUWWAN e FÁBIO ZANINI, da Sucursal de Brasília

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