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Para ministro, fala de religioso foi "descabida"
VINICIUS ABBATE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Saúde, José
Gomes Temporão, afirmou ontem que parece "descabido" o
apoio dado ontem pelo papa
Bento 16 aos bispos mexicanos
que desejam excomungar políticos que votaram a favor da legalização do aborto na Cidade
do México, no mês de abril.
"É uma expressão. Cada um
se manifesta como... Você não
pode apenas prescrever dogmas e preceitos de determinada religião para um conjunto da
sociedade. Me parece descabido", comentou o ministro, ao
comparecer à Comissão de Assuntos Sociais do Senado.
Procurado para falar novamente sobre o assunto, ao deixar o Senado, Temporão disse
ter "formação católica sólida".
"Cada um professa sua fé, e o
Brasil conseguiu garantir o direito à liberdade religiosa. Mas
sobre esse comentário [do papa
Bento 16], não gostaria de falar", respondeu o ministro.
Temporão também disse que
a discussão sobre o aborto passa por um "viés machista".
"Acho que as mulheres têm
que falar, têm que ser ouvidas
nesse processo, não só os homens. São as mulheres que sofrem, mas o julgamento e as leis
são feitos pelos homens", afirmou. "Infelizmente os homens
não engravidam. Se engravidassem a questão estaria resolvida há muito tempo."
Temporão tem sofrido ataques de setores da sociedade, a
Igreja Católica entre eles, por
querer trazer ao debate público
o tema do aborto.
"O que vamos fazer, como sociedade, como governo, como
Estado? As discussões no campo da ética, da religião, são legitimas, mas temos que focar na
saúde pública", afirmou ele.
O deputado José Genoino
(PT-SP), autor de um projeto
que dá o direito à mulher de decidir sobre abortar ou não, disse que a ameaça do papa Bento
16 de excomungar políticos
mexicanos é um exemplo de intolerância. "Defendo o Estado
laico. A Igreja tem de ser tolerante com os que têm opinião
divergente a seus preceitos",
disse o deputado.
México
A aprovação, na Cidade do
México, de uma lei que descriminaliza a prática do aborto até
a 12ª semana de gestação foi
motivo de um embate entre a
Igreja Católica do país e os legisladores da capital mexicana
no fim do mês passado.
A lei acabou sendo aprovada
pela Assembléia Legislativa da
capital federal no dia 24 de
abril, mas não antes de uma intervenção direta de Bento 16 na
contenda e da ameaça de excomunhão dos legisladores.
O papa enviou em abril carta
à Conferência do Episcopado
Mexicano apoiando a condenação dos bispos do país à lei.
A condenação teve expressões mais viscerais, como a do
bispo-auxiliar da Arquidiocese
do México, Marcelino Hernández. Ele declarou que os legisladores que votassem a favor da
lei seriam "automaticamente
excomungados" assim que
ocorresse a primeira interrupção de gravidez.
Já o bispo de San Cristóbal de
las Casas, Felipe Arizmandi,
comparou os parlamentares
pró-aborto aos nazistas.
Colaboraram a Redação e LEILA SUWWAN e FÁBIO ZANINI, da Sucursal de Brasília
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