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Pontífice destaca a "alma cristã" da América Latina
Papa defende os valores "dos povos indígenas"
RAFAEL CARIELLO
MARIO CESAR CARVALHO
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
Em seu primeiro pronunciamento no Brasil, o papa Bento
16 fez uma defesa enfática da
vida "desde a sua concepção".
"Sei que a alma deste povo,
bem como o de toda a América
Latina, conserva valores cristãos que jamais serão cancelados. E estou certo que em Aparecida, durante a Conferência
Geral do Episcopado, será reforçada tal identidade, ao promover o respeito pela vida, desde a sua concepção até o seu natural declínio", disse o papa.
A defesa foi uma referência
clara às políticas contra o aborto e contra a eutanásia defendidas pelo Vaticano. Foi também
uma estocada indireta à defesa
que o presidente Lula fez do
aborto na véspera da visita.
Bento 16 desembarcou em
Guarulhos às 16h23 de ontem
em um Boeing 777-200 da Alitalia fretado pelo Vaticano.
Desceu do avião a passos rápidos, de mocassim vermelho
(não vestia o modelo Prada), e
foi recebido por Lula e sua mulher, Marisa Letícia.
Acompanhados do núncio
apostólico no Brasil, d. Lorenzo
Baldisseri, se dirigiram ao hangar onde fariam os discursos.
Diferentemente de João Paulo
2º, ele não beijou o solo do país.
À esquerda do palco ficaram
as autoridades eclesiais -bispos e cardeais. Estavam presentes d. Geraldo Majella, arcebispo de Salvador e primaz do
Brasil, d. Geraldo Lyrio Rocha,
presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil), d. Cláudio Hummes,
prefeito da Congregação para o
Clero, e d. Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo.
À direita dos púlpitos ficaram políticos e militares. Estavam presentes os ministros
Luiz Dulci, Patrus Ananias,
Luiz Marinho; o procurador-geral da República, Antonio
Fernando Souza; os presidentes do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), e da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP); o governador paulista José Serra
(PSDB) e o prefeito de Guarulhos, Elói Pietá (PT). O senador
José Sarney (PMDB-AP) era o
convidado de honra de Lula na
condição de ex-presidente.
Em seu discurso, o papa afirmou que a conferência de Aparecida (SP) "fará também da
promoção da pessoa humana o
eixo da solidariedade, especialmente com os pobres".
Defendeu os "valores subjacentes em todos os segmentos
da sociedade, especialmente
dos povos indígenas" -mas
não havia índios na cerimônia.
Bento 16 disse que a conferência de Aparecida será "essencialmente missionária". E
falou sobre o país: "O Brasil
ocupa um lugar muito especial
no coração do papa não somente porque nasceu cristão e possui hoje o mais alto número de
católicos, mas sobretudo porque é uma nação rica de potencialidades com uma presença
eclesial que é motivo de alegria
e esperança para toda a igreja".
Enquanto o papa foi direto ao
ponto na controvérsia sobre o
aborto, Lula adotou um tom
conciliatório. Ressaltou valores
e programas que aproximam
sua gestão do Vaticano. Falou
do programa de combate à fome, da questão da família e da
educação. Dizendo-se "cristão", frisou: "O avanço da sociedade brasileira no rumo da justiça passa necessariamente pela revitalização dos laços familiares". Ao final dos discursos,
ele abraçou d. Cláudio Hummes com entusiasmo.
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