São Paulo, quinta-feira, 10 de maio de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pontífice destaca a "alma cristã" da América Latina

Papa defende os valores "dos povos indígenas"

RAFAEL CARIELLO
MARIO CESAR CARVALHO
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

Em seu primeiro pronunciamento no Brasil, o papa Bento 16 fez uma defesa enfática da vida "desde a sua concepção".
"Sei que a alma deste povo, bem como o de toda a América Latina, conserva valores cristãos que jamais serão cancelados. E estou certo que em Aparecida, durante a Conferência Geral do Episcopado, será reforçada tal identidade, ao promover o respeito pela vida, desde a sua concepção até o seu natural declínio", disse o papa.
A defesa foi uma referência clara às políticas contra o aborto e contra a eutanásia defendidas pelo Vaticano. Foi também uma estocada indireta à defesa que o presidente Lula fez do aborto na véspera da visita.
Bento 16 desembarcou em Guarulhos às 16h23 de ontem em um Boeing 777-200 da Alitalia fretado pelo Vaticano. Desceu do avião a passos rápidos, de mocassim vermelho (não vestia o modelo Prada), e foi recebido por Lula e sua mulher, Marisa Letícia.
Acompanhados do núncio apostólico no Brasil, d. Lorenzo Baldisseri, se dirigiram ao hangar onde fariam os discursos. Diferentemente de João Paulo 2º, ele não beijou o solo do país.
À esquerda do palco ficaram as autoridades eclesiais -bispos e cardeais. Estavam presentes d. Geraldo Majella, arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, d. Geraldo Lyrio Rocha, presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), d. Cláudio Hummes, prefeito da Congregação para o Clero, e d. Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo.
À direita dos púlpitos ficaram políticos e militares. Estavam presentes os ministros Luiz Dulci, Patrus Ananias, Luiz Marinho; o procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza; os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP); o governador paulista José Serra (PSDB) e o prefeito de Guarulhos, Elói Pietá (PT). O senador José Sarney (PMDB-AP) era o convidado de honra de Lula na condição de ex-presidente.
Em seu discurso, o papa afirmou que a conferência de Aparecida (SP) "fará também da promoção da pessoa humana o eixo da solidariedade, especialmente com os pobres".
Defendeu os "valores subjacentes em todos os segmentos da sociedade, especialmente dos povos indígenas" -mas não havia índios na cerimônia.
Bento 16 disse que a conferência de Aparecida será "essencialmente missionária". E falou sobre o país: "O Brasil ocupa um lugar muito especial no coração do papa não somente porque nasceu cristão e possui hoje o mais alto número de católicos, mas sobretudo porque é uma nação rica de potencialidades com uma presença eclesial que é motivo de alegria e esperança para toda a igreja".
Enquanto o papa foi direto ao ponto na controvérsia sobre o aborto, Lula adotou um tom conciliatório. Ressaltou valores e programas que aproximam sua gestão do Vaticano. Falou do programa de combate à fome, da questão da família e da educação. Dizendo-se "cristão", frisou: "O avanço da sociedade brasileira no rumo da justiça passa necessariamente pela revitalização dos laços familiares". Ao final dos discursos, ele abraçou d. Cláudio Hummes com entusiasmo.


Texto Anterior: Para ministro, fala de religioso foi "descabida"
Próximo Texto: A visita do papa: Igreja precisa reagir às "seitas", diz papa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.