São Paulo, quinta-feira, 10 de maio de 2007

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A visita do papa

Papa aparece por 4 minutos para 15 mil

Reunido em frente ao mosteiro de São Bento, onde o pontífice se hospeda, público recebeu-o com "olê, olê, olá, Bentô, Bentô"

No final da saudação, papa escorrega no português e se despede da multidão em espanhol, com "buenas noches" e "muy obrigado"


LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Das 18h às 18h04 -quatro minutos. Esse foi o tempo que a multidão concentrada no largo do mosteiro de São Bento, região central de São Paulo, teve para ver o papa Bento 16, em seu primeiro compromisso de massas em solo brasileiro. A Polícia Militar calculou em 15 mil o número de pessoas presentes nesse encontro.
"É uma igreja em festa! De todos os cantos do mundo estão rezando pelos frutos desta viagem, a primeira viagem pastoral ao Brasil e à América Latina que a Providência me permite realizar como sucessor de Pedro", disse Bento 16 no discurso de 97 palavras (o tamanho de 2,5 ave-marias), proferido por detrás de proteção blindada, na sacada do mosteiro.
Foi em bom português que o papa se expressou -ele leu o breve discurso. Depois de abençoar a multidão com o "em nome do pai, do filho e do Espírito Santo" em latim, entretanto, veio a escorregada para o espanhol: "Muy obrigado" e "buenas noches".

"Bentôôô, Bentôôô"
Bento 16 ainda não tem um hit como o "João de Deus", que acompanhava o papa João Paulo 2º em seus compromissos. O jeito, então, foi improvisar: "Olê, olê, olê, olá, Bentôôô, Bentôôô", cantou o povo à moda das torcidas de futebol. O outro grito era mais simples: "Viva o papa, viva o papa".
Teve gente, como o auxiliar administrativo Edimar Fernandes, 28, de São Paulo, que reclamou quando Bento 16 saiu do púlpito blindado para dentro do mosteiro, onde ficará hospedado durante a visita a São Paulo. "Pô, foi tudo tão rápido, quando eu ia começar a ouvir, já tinha acabado".
Os fiéis começaram a chegar logo pela manhã, mas foi a partir das 16h que o local se encheu. Várias delegações latino-americanas identificavam-se por suas bandeiras nacionais.
A estudante de psicologia Alejandra Fernandez, 19, chegou ao Brasil anteontem com um grupo de 140 garotas organizadas pelo Opus Dei do Chile.
As jovens pretendem acompanhar todos os compromissos de Bento 16 e voltar ao seu país na segunda-feira.
Lucia Peña, 15, veio da Argentina com um grupo de 90 adolescentes. Para ela, o papa é "um modelo de vida". Lucia acredita nos valores da igreja. "Os jovens devem esperar até o casamento para manter relações sexuais."
"Esta acolhida tão calorosa comove o papa! Obrigado por terem querido aguardar-me.
Estes dias para todos vocês e para a igreja estarão cheios de emoções e de alegrias", disse Bento 16.
À distância de 15 metros do prédio do mosteiro -o cordão de isolamento era guardado por homens do Exército e das polícias civil, militar e federal, além da Guarda Civil Metropolitana-, a multidão agitava bandeirinhas distribuídas pelos organizadores 15 minutos antes da chegada do papa.
Camelôs vendiam -a R$ 5- lenços brancos para serem agitados. Calendários saíam por R$ 2. Camisetas, por R$ 20. E até um insólito diploma "eu vi o papa" era oferecido a R$ 5.
Mas nada saiu tanto quanto as capas de chuva, vendidas a R$ 20 (o preço normal é R$ 5).
Garoou durante todo o dia de ontem sobre São Paulo.
Era um público católico especial. Formado em sua maioria por praticantes dos preceitos religiosos, por militantes de movimentos organizados e por sacerdotes e freiras, o pessoal que esperava o papa é antiaborto e vai com freqüência à missa.
Mesmo assim, havia quem divergisse um pouco. A doméstica Nilda dos Santos, 57, levou seis netas para ver o papa. Nilda conta que teve nove filhos. "Na minha época, ninguém usava camisinha." Ela ressalta que não é contrária ao uso, nem ao sexo antes do casamento. "Cada um faz o que quer", diz.
O estudante Kleison dos Santos, 18, concorda: "Sexo antes do casamento, união homossexual e o uso da camisinha são opções pessoais."


Com CLARA FAGUNDES e MARIANA BENEVIDES, colaboração para a Folha, e GUILHERME CAMPOS, da Folha Ribeirão, em São Paulo

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