São Paulo, sábado, 10 de maio de 2008

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Paulinho e seu advogado se contradizem sobre depósito

Deputado afirma que R$ 37,5 mil foram para pagar dívidas; seu defensor nega

Recursos foram depositados por consultor preso pela PF na conta da ONG presidida pela mulher do deputado e dirigente da Força Sindical


RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, entrou ontem em contradição com seu advogado, Antonio Rosella, ao explicar um depósito de R$ 37,5 mil feito pelo consultor da Força Sindical João Pedro de Moura, preso pela Operação Santa Tereza, da Polícia Federal, na conta da organização não-governamental Meu Guri, presidida pela mulher do deputado, a também sindicalista Elza de Fátima Costa Pereira.
Em entrevista coletiva, o parlamentar reconheceu que Moura é consultor da direção estadual da Força Sindical de São Paulo, por meio de contrato com uma empresa cujo nome ele disse não saber.
Paulinho, Elza, Rosella e o sindicalista Eleno José Pereira, do sindicato dos metalúrgicos de São Paulo, convocaram ontem uma entrevista coletiva na sede do Meu Guri, na região serrana de Mairiporã (35 km de São Paulo). O projeto atende cerca de 40 crianças e adolescentes. Elza anunciou que, por meio de um ofício a ser enviado à 2ª Vara Federal, abrirá mão do sigilo bancário da entidade.
O depósito de Moura para a ONG foi feito no último dia 1º de abril e descoberto pela Polícia Federal durante a operação de busca e apreensão realizada no último dia 24.
Segundo a versão apresentada à imprensa pelo advogado do parlamentar, Antônio Rosella, Moura assinou em 2004 uma procuração pela qual concedeu a Elza o direito de vender um apartamento pertencente a ele no Jardim Aclimação, avaliado em R$ 100 mil. Moura, segundo Rosella, queria que o valor da venda fosse revertido para a ONG. Entre 2004 e 2008, o apartamento não foi vendido e acabou gerando dívidas de R$ 37 mil com impostos e taxas de condomínio.
Quando o advogado falava, Paulinho o interrompeu: "Os [R$] 37 mil, tem que ficar claro, foirampara pagar as dívidas do apartamento". Mais à frente, o parlamentar insistiu: "Até porque a dívida ficou com o Meu Guri. Não é justo que a gente tire dinheiro das crianças. É que a dívida é nossa. A dívida ficou com o projeto".
Na versão do parlamentar, Moura teria feito um pagamento para a ONG com o fim exclusivo de pagar uma dívida. Mas a defesa apresentada pelo advogado é que o dinheiro ficou na conta do projeto, tratando-se de uma doação direta, sem relação com as dívidas.
O advogado corrigiu pelo menos duas vezes o deputado, ao afirmar que, na verdade, as dívidas do apartamento não foram pagas pelo Meu Guri.
Indagado por um jornalista se Moura fez uma doação à ONG, Paulinho antecipou-se: "Não doou". Em seguida seu advogado corrigiu: "Doou. Veja bem. O apartamento (...) teve uma dívida de IPTU, de condomínio. Então ele [Moura] depositou R$ 37 mil na conta do Meu Guri. Foi desfeita a doação". Mais à frente, disse que "o Meu Guri não está pagando nada. A doação do imóvel se transformou numa doação em dinheiro".
O parlamentar passou a afirmar que "o dinheiro está na conta [da ONG] e, para tirar todas as dúvidas, a Elza está quebrando o sigilo bancário" da entidade. As dívidas do imóvel não foram pagas pela ONG. "Isso é problema dele [Moura]", disse Rosella.


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