São Paulo, quinta-feira, 10 de junho de 2004

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GOVERNO EM DISPUTA

Aldo Rebelo iria para o lugar de José Viegas, na Defesa

PT pressiona Lula a devolver articulação política a Dirceu

KENNEDY ALENCAR
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PT pressiona Luiz Inácio Lula da Silva a devolver ao ministro da Casa Civil, José Dirceu, a articulação política do governo e deslocar o ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política) para o lugar de José Viegas (Defesa).
Em conversas reservadas ao longo do dia de ontem, o presidente deu demonstrações de que deve ceder ao PT, para preservar Dirceu. Avalia, porém, a possibilidade de tirar a parte do gerenciamento de governo do ministro da Casa Civil e dá-la a uma pessoa com perfil executivo.
Em conversa com o presidente anteontem, Dirceu desabafou. Disse que estava sendo "sacaneado" dentro do próprio governo e que não admitiria isso. Lula lhe disse para ter calma. Dirceu afirmou que iria esfriar a cabeça em Buenos Aires no feriado que começa hoje e que no retorno voltariam a conversar.
Lula pediu a alguns ministros que ficassem em Brasília durante o feriado. Deve ter conversas políticas e fazer costuras. Ao mesmo tempo, caciques do PT, como o presidente do partido, José Genoino, e o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (SP), entraram em campo para pressionar Lula.
O estopim da "crise Dirceu" foram reportagens do final de semana mostrando que ele perdera espaço para o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, por conta do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) no primeiro trimestre. De quebra, algumas reportagens mencionaram parceria entre Palocci e Aldo na aprovação do salário mínimo de R$ 260 na Câmara.
O ministro da Casa Civil reagiu muito mal ao noticiário. Viu uma conspiração para tirá-lo do governo e partiu para o ataque. Na impossibilidade de brigar com Palocci, Dirceu e aliados miraram em Aldo, um estranho no ninho que tem divergido do ministro da Casa Civil e de petistas graúdos.
A interlocutores, Dirceu disse ontem, antes de embarcar para Buenos Aires: "Não estou brigado com o Antonio Palocci. Com o resto, é guerra".

Crise antiga
Desde a reforma ministerial do final de janeiro, quando Lula tirou de Dirceu as atribuições de coordenador político e as transferiu para Aldo, o clima entre os dois não é bom. Nos últimos tempos, Aldo sentiu-se mais livre para ocupar espaço, o que desagradou a Dirceu. Apesar de gostar de Aldo, Lula não quer comprar briga com Dirceu, que teve papel decisivo em sua eleição em 2002, cumprindo missões difíceis, seja na articulação política e eleitoral, seja nas missões para cuidar da infra-estrutura da campanha. Não poderia simplesmente abandoná-lo.
Viegas está desgastado com os comandantes militares por conta do que consideram má condução das negociações por reajustes salariais das Forças Armadas e dentro do governo por conta de supostos deslizes éticos -como uma viagem particular que fez ao Pantanal em avião da FAB.
Assim, deslocar Aldo (que é do pequeno PC do B) para a Defesa seria uma alteração menos complicada e custosa politicamente.
O presidente gostaria que Dirceu fosse presidir a Câmara a partir de fevereiro de 2005. Mas não deseja que ele vá para lá contrariado. Nesse caso, prefere tê-lo no governo. Como a especialidade de Dirceu é a articulação política, essa tarefa lhe seria devolvida.
O preço, porém, pode ser a perda das atribuições de gerenciamento de governo. Isso se daria com a desidratação da Casa Civil, que ficaria apenas com a parte política, ou com a ida de Dirceu para a pasta de Aldo.
Nessa operação, Lula poderia buscar um quadro no próprio governo ou fora dele para cuidar do gerenciamento. Os detalhes desse rearranjo ainda estavam em curso ontem à noite, inclusive com um previsto encontro entre o presidente Lula e Aldo Rebelo.


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