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GOVERNO EM DISPUTA
Aldo Rebelo iria para o lugar de José Viegas, na Defesa
PT pressiona Lula a devolver articulação política a Dirceu
KENNEDY ALENCAR
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O PT pressiona Luiz Inácio Lula
da Silva a devolver ao ministro da
Casa Civil, José Dirceu, a articulação política do governo e deslocar
o ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política) para o lugar de José Viegas (Defesa).
Em conversas reservadas ao
longo do dia de ontem, o presidente deu demonstrações de que
deve ceder ao PT, para preservar
Dirceu. Avalia, porém, a possibilidade de tirar a parte do gerenciamento de governo do ministro da
Casa Civil e dá-la a uma pessoa
com perfil executivo.
Em conversa com o presidente
anteontem, Dirceu desabafou.
Disse que estava sendo "sacaneado" dentro do próprio governo e
que não admitiria isso. Lula lhe
disse para ter calma. Dirceu afirmou que iria esfriar a cabeça em
Buenos Aires no feriado que começa hoje e que no retorno voltariam a conversar.
Lula pediu a alguns ministros
que ficassem em Brasília durante
o feriado. Deve ter conversas políticas e fazer costuras. Ao mesmo
tempo, caciques do PT, como o
presidente do partido, José Genoino, e o presidente da Câmara,
João Paulo Cunha (SP), entraram
em campo para pressionar Lula.
O estopim da "crise Dirceu" foram reportagens do final de semana mostrando que ele perdera
espaço para o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, por
conta do crescimento do PIB
(Produto Interno Bruto) no primeiro trimestre. De quebra, algumas reportagens mencionaram
parceria entre Palocci e Aldo na
aprovação do salário mínimo de
R$ 260 na Câmara.
O ministro da Casa Civil reagiu
muito mal ao noticiário. Viu uma
conspiração para tirá-lo do governo e partiu para o ataque. Na impossibilidade de brigar com Palocci, Dirceu e aliados miraram
em Aldo, um estranho no ninho
que tem divergido do ministro da
Casa Civil e de petistas graúdos.
A interlocutores, Dirceu disse
ontem, antes de embarcar para
Buenos Aires: "Não estou brigado
com o Antonio Palocci. Com o
resto, é guerra".
Crise antiga
Desde a reforma ministerial do
final de janeiro, quando Lula tirou
de Dirceu as atribuições de coordenador político e as transferiu
para Aldo, o clima entre os dois
não é bom. Nos últimos tempos,
Aldo sentiu-se mais livre para
ocupar espaço, o que desagradou
a Dirceu. Apesar de gostar de Aldo, Lula não quer comprar briga
com Dirceu, que teve papel decisivo em sua eleição em 2002, cumprindo missões difíceis, seja na articulação política e eleitoral, seja
nas missões para cuidar da infra-estrutura da campanha. Não poderia simplesmente abandoná-lo.
Viegas está desgastado com os
comandantes militares por conta
do que consideram má condução
das negociações por reajustes salariais das Forças Armadas e dentro do governo por conta de supostos deslizes éticos -como
uma viagem particular que fez ao
Pantanal em avião da FAB.
Assim, deslocar Aldo (que é do
pequeno PC do B) para a Defesa
seria uma alteração menos complicada e custosa politicamente.
O presidente gostaria que Dirceu fosse presidir a Câmara a partir de fevereiro de 2005. Mas não
deseja que ele vá para lá contrariado. Nesse caso, prefere tê-lo no
governo. Como a especialidade de
Dirceu é a articulação política, essa tarefa lhe seria devolvida.
O preço, porém, pode ser a perda das atribuições de gerenciamento de governo. Isso se daria
com a desidratação da Casa Civil,
que ficaria apenas com a parte política, ou com a ida de Dirceu para
a pasta de Aldo.
Nessa operação, Lula poderia
buscar um quadro no próprio governo ou fora dele para cuidar do
gerenciamento. Os detalhes desse
rearranjo ainda estavam em curso
ontem à noite, inclusive com um
previsto encontro entre o presidente Lula e Aldo Rebelo.
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