São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 2008

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JANIO DE FREITAS

O partido da PF


Deduz-se haver um serviço secreto e que não figura no mapa de atribuições da PF: é o serviço de influências eleitorais

ATÉ A EXISTÊNCIA de um serviço secreto da Polícia Federal voltado para si mesma consta do seu organograma conhecido, mas deduz-se haver por lá um serviço secreto mesmo, ativo há anos sem, no entanto, figurar no mapa de atribuições da PF: é o serviço de influências eleitorais.
Eleições à vista? O SIE, que os desconfiados também podem chamar de Sine, até para homenagear a nossa multidão de cineastas passivos e alguns ativos, não espera o início da campanha para oferecer os primeiros sinais de outra participação sua.
A primeira das participações foi aquela operação em São Luís, quando a então governadora Roseana Sarney despontava como favorita em uma eleição presidencial que tinha José Serra, ministro da Saúde, como pretendente. A concorrente mais forte, à época, foi alijada pelo irrompimento da PF, em um fim de semana, no cofre com recheio cuja origem o seu marido, Jorge Murad, não pôde ou não quis explicar.
Logo depois a PM maranhense estourava, a pretexto de fins suspeitos, um "aparelho" em que fez várias prisões: os suspeitos identificaram-se como policiais federais, vindos de outras regiões para uma operação secreta dada como de caça a grandes exportadores de drogas. A tal quadrilha, pelo visto, continuou exportando por outros lugares. A PF não prendeu Murad nem comprovou a procedência corrupta que atribuía ao dinheiro do cofre. O diretor-geral da PF, Agílio Monteiro Filho, ganhou do PSDB uma vaga para candidatar-se a deputado em Minas, naquelas mesmas eleições de 2002. Mas apenas para ver, com seus companheiros de partido, que o eleito presidente foi Lula.
Ainda no nível das operações mais gritantes, seguiu-se a de São Paulo em 2006, quando Aloizio Mercadante era considerado, na disputa para governador, o adversário perigoso de José Serra, que deixava a prefeitura. Então apareceram outro invólucro e outro recheio, desta vez sob a forma de mala e dólares, ambos também descobertos e apreendidos pela sagacidade da PF. Agora, em hotel paulistano.
Para assegurar o escândalo tão eficiente quanto possível, houve até a participação de delegado que nem estava em serviço, mas proporcionou aos repórteres, em operação pretensamente sigilosa, fotos que fez dos dólares em maior volume do que a mala que os contivera. Esse delegado esteve afastado e voltou agora à atividade.
As investigações foram espetaculares, com promessas freqüentes de descobertas fantásticas e muito originais, porque conduzidas lá de Mato Grosso pelo delegado da PF Diógenes Curado e pelo procurador Mário Lúcio Avelar. Os citados na tal investigação foram muitos e, entre os da primeira linha, um certo Hamilton Lacerda. Quem era? Assessor de Aloizio Mercadante. De quebra, lá estavam dois ou três próximos de Lula. Da procedência dos dólares, da razão da mala, do uso previsto para o dinheiro, do possível beneficiário -bem, isso foi motivo de muito palavrório da PF e sobretudo do procurador de Mato Grosso para o Brasil e o mundo, e pronto.
Sábios foram os amigos de Paulinho, o deputado Paulo Pereira da Silva, que armaram por conta própria o seu escândalo, e à PF das eleições deixaram, até agora, o frustrante papel de ser só polícia. Ao Sine, porém, não faltam oportunidades, como prova o noticiário produzido agora no Rio.
As acusações ao deputado estadual Álvaro Lins de liderar, quando chefe de Polícia Civil do Estado do Rio, um bando de policiais corruptos são velhas por um motivo: as investigações e suas conclusões são antigas. Não têm a autoria da PF, como agora noticiado. Foram feitas por um serviço de informações voltado para o alto tráfico, mas também para as polícias fluminenses. Funcionou, em paralelo com a Secretaria de Segurança, ao longo dos dois últimos governos. Muitos dos acusados de agora já estiveram até presos sob as mesmas acusações do escândalo atual (Álvaro Lins não foi preso, mas já ocupava o centro do escândalo anterior).
O intervalo, daquela primeira etapa até esta altura, só tem uma explicação à vista: eleições. Explicação também aplicável ao fato de que a PF, não sendo a origem das investigações e conclusões sobre a ação criminosa, deu-lhes agora uma face política e eleitoral. Sem comprovações, sem ao menos indícios convincentes e, pior, sem que estejam claros, por ora, os objetivos em um quadro eleitoral que leva a confrontos religiosos, a disputas duras de predomínio político-partidário e a interesses que não podem abrir o seu jogo.


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