|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
O partido da PF
Deduz-se haver um serviço secreto e que não figura
no mapa de atribuições da PF: é o serviço de influências eleitorais
|
ATÉ A EXISTÊNCIA de um serviço secreto da Polícia Federal
voltado para si mesma consta
do seu organograma conhecido, mas
deduz-se haver por lá um serviço secreto mesmo, ativo há anos sem, no
entanto, figurar no mapa de atribuições da PF: é o serviço de influências
eleitorais.
Eleições à vista? O SIE, que os desconfiados também podem chamar
de Sine, até para homenagear a nossa multidão de cineastas passivos e
alguns ativos, não espera o início da
campanha para oferecer os primeiros sinais de outra participação sua.
A primeira das participações foi
aquela operação em São Luís, quando a então governadora Roseana
Sarney despontava como favorita
em uma eleição presidencial que tinha José Serra, ministro da Saúde,
como pretendente. A concorrente
mais forte, à época, foi alijada pelo
irrompimento da PF, em um fim de
semana, no cofre com recheio cuja
origem o seu marido, Jorge Murad,
não pôde ou não quis explicar.
Logo depois a PM maranhense estourava, a pretexto de fins suspeitos,
um "aparelho" em que fez várias prisões: os suspeitos identificaram-se
como policiais federais, vindos de
outras regiões para uma operação
secreta dada como de caça a grandes
exportadores de drogas. A tal quadrilha, pelo visto, continuou exportando por outros lugares. A PF não
prendeu Murad nem comprovou a
procedência corrupta que atribuía
ao dinheiro do cofre. O diretor-geral
da PF, Agílio Monteiro Filho, ganhou do PSDB uma vaga para candidatar-se a deputado em Minas, naquelas mesmas eleições de 2002.
Mas apenas para ver, com seus companheiros de partido, que o eleito
presidente foi Lula.
Ainda no nível das operações mais
gritantes, seguiu-se a de São Paulo
em 2006, quando Aloizio Mercadante era considerado, na disputa
para governador, o adversário perigoso de José Serra, que deixava a
prefeitura. Então apareceram outro
invólucro e outro recheio, desta vez
sob a forma de mala e dólares, ambos também descobertos e apreendidos pela sagacidade da PF. Agora,
em hotel paulistano.
Para assegurar o escândalo tão eficiente quanto possível, houve até a
participação de delegado que nem
estava em serviço, mas proporcionou aos repórteres, em operação
pretensamente sigilosa, fotos que
fez dos dólares em maior volume do
que a mala que os contivera. Esse
delegado esteve afastado e voltou
agora à atividade.
As investigações foram espetaculares, com promessas freqüentes de
descobertas fantásticas e muito originais, porque conduzidas lá de Mato Grosso pelo delegado da PF Diógenes Curado e pelo procurador
Mário Lúcio Avelar. Os citados na tal
investigação foram muitos e, entre
os da primeira linha, um certo Hamilton Lacerda. Quem era? Assessor de Aloizio Mercadante. De quebra, lá estavam dois ou três próximos de Lula. Da procedência dos dólares, da razão da mala, do uso previsto para o dinheiro, do possível beneficiário -bem, isso foi motivo de
muito palavrório da PF e sobretudo
do procurador de Mato Grosso para
o Brasil e o mundo, e pronto.
Sábios foram os amigos de Paulinho, o deputado Paulo Pereira da
Silva, que armaram por conta própria o seu escândalo, e à PF das eleições deixaram, até agora, o frustrante papel de ser só polícia. Ao Sine,
porém, não faltam oportunidades,
como prova o noticiário produzido
agora no Rio.
As acusações ao deputado estadual Álvaro Lins de liderar, quando
chefe de Polícia Civil do Estado do
Rio, um bando de policiais corruptos são velhas por um motivo: as investigações e suas conclusões são
antigas. Não têm a autoria da PF, como agora noticiado. Foram feitas
por um serviço de informações voltado para o alto tráfico, mas também
para as polícias fluminenses. Funcionou, em paralelo com a Secretaria de Segurança, ao longo dos dois
últimos governos. Muitos dos acusados de agora já estiveram até presos sob as mesmas acusações do escândalo atual (Álvaro Lins não foi
preso, mas já ocupava o centro do
escândalo anterior).
O intervalo, daquela primeira etapa até esta altura, só tem uma explicação à vista: eleições. Explicação
também aplicável ao fato de que a
PF, não sendo a origem das investigações e conclusões sobre a ação criminosa, deu-lhes agora uma face política e eleitoral. Sem comprovações,
sem ao menos indícios convincentes e, pior, sem que estejam claros,
por ora, os objetivos em um quadro
eleitoral que leva a confrontos religiosos, a disputas duras de predomínio político-partidário e a interesses que não podem abrir o seu jogo.
Texto Anterior: Saiba mais: Prefeituras de aliados foram beneficiadas Próximo Texto: Justiça condena Valério por crime de falsidade Índice
|