São Paulo, Quinta-feira, 10 de Junho de 1999
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Professor diz ter sido torturado

PAULO MOTA
da Agência Folha, em Fortaleza

O professor universitário José Antônio Monteiro, 59, acusa o novo diretor-geral da Polícia Federal, João Batista Campelo, de ter participado de uma sessão de tortura, ocorrida na década de 70, no Maranhão.
Monteiro diz que Campelo ajudou a colocá-lo no pau-de-arara e o interrogou enquanto ele apanhava. Naquela época, durante o regime militar, Campelo era o diretor da Polícia Federal no Maranhão.
Campelo sempre negou as denúncia. Ontem, informou que só se pronuncia após assumir o cargo (leia texto ao lado). O grupo Tortura Nunca Mais informou ontem no Rio não ter dados sobre a suposta atuação de Campelo.
Leia a seguir trechos de uma entrevista feita por telefone, ontem, de Maceió, onde Monteiro mora atualmente:

Agência Folha - Como o senhor analisa a nomeação do delegado João Batista Campelo para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal?
José Antônio Monteiro -
Achei péssimo. Fiquei indignado por causa dos precedentes e da formação desse senhor. Ele é um nazista e foi um torturador. Eu mesmo fui vítima da sanha dele, quando ele era chefe da PF em São Luís (MA).

Agência Folha - Como foi o episódio da sua prisão?
Monteiro -
Campelo foi me prender em Urbano Santos (município maranhense), onde eu trabalhava em 1970. Eu estava em São Luís fazendo um curso, porque era diretor de uma escola.
Soube que a Polícia Federal tinha ido à minha casa e arrombado. Eu voltei para casa e à noite ele me prendeu.

Agência Folha - O senhor chegou a ser torturado pelo próprio Campelo?
Monteiro -
Propriamente pelas mãos dele, não. Mas teve uma vez que ele ajudou a me colocar no pau-de-arara. Eu ficava no pau-de-arara por várias horas, os soldados me batiam e ele comandava o interrogatório.

Agência Folha - A que tipo de torturas o senhor foi submetido?
Monteiro -
De vários tipos. Eu levei choque elétrico, puxaram os meus cabelos, diziam impropérios, batiam no meu corpo, chutavam e ficavam irritados porque eu não respondia às perguntas.

Agência Folha - Quais eram as perguntas?
Monteiro -
Nomes de pessoas. Perguntavam o que é que nós queríamos com as organizações que ajudávamos. Nós adotávamos o método Paulo Freire (de educação) na escola e eles entendiam que isso era um centro de formação de guerrilheiros, de subversivos, essas coisas.

Agência Folha - Que tipos de sequelas as torturas deixaram no senhor?
Monteiro -
A gente fica com aquela sensação de que não é homem, inseguro. De imediato, tive que abandonar o país e fui para o Canadá. Eu ficava paranóico quando via um militar.

Agência Folha - O senhor mora em Maceió há bastante tempo. O senhor conhece o ministro da Justiça, Renan Calheiros?
Monteiro -
Sim, eu fiz campanha para ele quando ele era do MDB. Acompanhei a trajetória de esquerda dele. Estranho muito que ele tenha nomeado esse sujeito. Ele devia ter pesquisado a vida desse torturador antes de nomeá-lo para um cargo tão importante.


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