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INVESTIGAÇÃO
Membros de comissão apuram ligação entre ex-presidente do TRT-SP e ex-secretário-geral da Presidência
Nicolau ligou 26 vezes para Eduardo Jorge
LUCIO VAZ
FLÁVIA DE LEON
da Sucursal de Brasília
O ex-presidente do Tribunal Regional do
Trabalho de São
Paulo Nicolau
dos Santos Neto,
acusado de enriquecimento ilícito e de desvio de verbas públicas,
telefonou 26 vezes, nos anos de
1997 e 98, para o ex-secretário-geral da Presidência da República
Eduardo Jorge Caldas Pereira.
Em 1997, 17 telefonemas foram
feitos para o gabinete de Eduardo
Jorge na Presidência. Em 98, quando Eduardo Jorge afastou-se do
governo para comandar a campanha pela reeleição do presidente
Fernando Henrique Cardoso, Santos Neto ligou oito vezes para seu
escritório particular e uma vez para sua casa.
A maioria das chamadas feitas
para o Palácio do Planalto dura
apenas um minuto. Mas há uma
cuja duração foi de 41 minutos e
outra, de 13 minutos.
O telefonema dado para a casa do
ex-secretário-geral durou 10 minutos. Para o escritório, a menor
chamada tem 10 minutos e a
maior, 18 minutos. O extrato da
Telefônica diz que as durações estão "sujeitas a correção".
Santos Neto, que quando deixou
a presidência do TRT-SP passou a
comandar a Comissão de Obras do
tribunal, disse em seu depoimento
na CPI do Judiciário que havia
conversado com Eduardo Jorge
pessoalmente, no Planalto, sobre
nomeações de juízes classistas.
Os juízes Délvio Buffulin e José
Victório Moro, que sucederam
Santos Neto na presidência do
TRT, afirmaram na CPI que o
mantiveram à frente da Comissão
de Obras porque ele dizia ter influência em Brasília para liberar
verbas para a construção do Fórum Trabalhista de São Paulo.
Cabe ao Executivo liberar as verbas que constam do Orçamento
Geral da União aprovado pelo
Congresso Nacional anualmente.
A obra, que começou na gestão
de Santos Neto, está inacabada e
foi abandonada pela Ikal Construções no ano passado, um mês após
Santos Neto ser afastado da presidência da comissão.
A Ikal pertence ao empresário
Fábio Monteiro de Barros Filho,
que ganhou a obra para sua outra
empresa, a Incal, sem ter participado da licitação.
Até o momento, foram gastos R$
230 milhões de recursos públicos
na construção. Segundo a CPI do
Judiciário, R$ 130 milhões foram
desviados. Monteiro de Barros e
Santos Neto são os suspeitos.
A Folha tentou encontrar Eduardo Jorge ontem, em seu escritório
em Brasília. Uma secretária, de nome Camila, disse que ele estava no
exterior. Ela foi informada do assunto e, até o fechamento desta
edição, não ligou de volta.
No mês passado, em conversa informal com a Folha, Eduardo Jorge disse ter-se encontrado com
Santos Neto "umas quatro ou cinco vezes", sempre para tratar de
classistas.
A CPI do Judiciário descobriu
que Santos Neto e Monteiro de
Barros ligaram de seus telefones
celulares para números usados pelo senador e empresário Luiz Estevão (PMDB-DF).
A comissão está investigando as
ligações de Estevão com Santos
Neto e Monteiro de Barros. Estevão participou da licitação para a
construção do Fórum em consórcio com a empresa Augusto Veloso. Sua proposta perdeu por poucos pontos e ele recorreu apenas à
Comissão de Obras.
Santos Neto telefonou seis vezes,
em outubro de 1996 e dezembro de
1997, de um de seus celulares para
Estevão. Em agosto de 96, ele fez
duas ligações para o mesmo número e, em novembro desse ano, outras duas chamadas.
Já o extrato do celular de Monteiro de Barros registra 99 telefonemas para os celulares e para a casa
do senador. As durações das chamadas não foram divulgadas.
O senador afirmou presumir que
as ligações de Santos Neto eram
tentativas. Sobre as chamadas de
Monteiro de Barros, afirmou que
seria estranho se não existissem,
pois são amigos pessoais.
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