São Paulo, Quinta-feira, 10 de Junho de 1999
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INVESTIGAÇÃO
Membros de comissão apuram ligação entre ex-presidente do TRT-SP e ex-secretário-geral da Presidência
Nicolau ligou 26 vezes para Eduardo Jorge

LUCIO VAZ
FLÁVIA DE LEON
da Sucursal de Brasília


O ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo Nicolau dos Santos Neto, acusado de enriquecimento ilícito e de desvio de verbas públicas, telefonou 26 vezes, nos anos de 1997 e 98, para o ex-secretário-geral da Presidência da República Eduardo Jorge Caldas Pereira.
Em 1997, 17 telefonemas foram feitos para o gabinete de Eduardo Jorge na Presidência. Em 98, quando Eduardo Jorge afastou-se do governo para comandar a campanha pela reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, Santos Neto ligou oito vezes para seu escritório particular e uma vez para sua casa.
A maioria das chamadas feitas para o Palácio do Planalto dura apenas um minuto. Mas há uma cuja duração foi de 41 minutos e outra, de 13 minutos.
O telefonema dado para a casa do ex-secretário-geral durou 10 minutos. Para o escritório, a menor chamada tem 10 minutos e a maior, 18 minutos. O extrato da Telefônica diz que as durações estão "sujeitas a correção".
Santos Neto, que quando deixou a presidência do TRT-SP passou a comandar a Comissão de Obras do tribunal, disse em seu depoimento na CPI do Judiciário que havia conversado com Eduardo Jorge pessoalmente, no Planalto, sobre nomeações de juízes classistas.
Os juízes Délvio Buffulin e José Victório Moro, que sucederam Santos Neto na presidência do TRT, afirmaram na CPI que o mantiveram à frente da Comissão de Obras porque ele dizia ter influência em Brasília para liberar verbas para a construção do Fórum Trabalhista de São Paulo.
Cabe ao Executivo liberar as verbas que constam do Orçamento Geral da União aprovado pelo Congresso Nacional anualmente.
A obra, que começou na gestão de Santos Neto, está inacabada e foi abandonada pela Ikal Construções no ano passado, um mês após Santos Neto ser afastado da presidência da comissão.
A Ikal pertence ao empresário Fábio Monteiro de Barros Filho, que ganhou a obra para sua outra empresa, a Incal, sem ter participado da licitação.
Até o momento, foram gastos R$ 230 milhões de recursos públicos na construção. Segundo a CPI do Judiciário, R$ 130 milhões foram desviados. Monteiro de Barros e Santos Neto são os suspeitos.
A Folha tentou encontrar Eduardo Jorge ontem, em seu escritório em Brasília. Uma secretária, de nome Camila, disse que ele estava no exterior. Ela foi informada do assunto e, até o fechamento desta edição, não ligou de volta.
No mês passado, em conversa informal com a Folha, Eduardo Jorge disse ter-se encontrado com Santos Neto "umas quatro ou cinco vezes", sempre para tratar de classistas.
A CPI do Judiciário descobriu que Santos Neto e Monteiro de Barros ligaram de seus telefones celulares para números usados pelo senador e empresário Luiz Estevão (PMDB-DF).
A comissão está investigando as ligações de Estevão com Santos Neto e Monteiro de Barros. Estevão participou da licitação para a construção do Fórum em consórcio com a empresa Augusto Veloso. Sua proposta perdeu por poucos pontos e ele recorreu apenas à Comissão de Obras.
Santos Neto telefonou seis vezes, em outubro de 1996 e dezembro de 1997, de um de seus celulares para Estevão. Em agosto de 96, ele fez duas ligações para o mesmo número e, em novembro desse ano, outras duas chamadas.
Já o extrato do celular de Monteiro de Barros registra 99 telefonemas para os celulares e para a casa do senador. As durações das chamadas não foram divulgadas.
O senador afirmou presumir que as ligações de Santos Neto eram tentativas. Sobre as chamadas de Monteiro de Barros, afirmou que seria estranho se não existissem, pois são amigos pessoais.


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