São Paulo, domingo, 10 de julho de 2005

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ESCANDÂLO DO "MENSALÃO"/ MALA SUSPEITA

Para ministro da CGU, petista pego com R$ 437 mil levanta suspeita de irregularidades; tucanos Serra e Alckmin cobram apuração

Prisão de assessor do irmão de Genoino é "caso sério", diz Pires

EM SÃO PAULO

DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos encarregados no governo de combater a corrupção, o ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, Waldir Pires, disse ontem que a prisão do assessor petista José Adalberto Vieira da Silva com R$ 437 mil em notas de real e dólar é fato sério, que levanta suspeitas de irregularidades.
"Um cara transportando R$ 200 mil [numa bolsa] e US$ 100 mil na cueca, evidentemente não deve ser coisa boa", declarou Pires, ao chegar para a reunião do Diretório Nacional do PT, em São Paulo.
A prisão de Adalberto acabou levando à queda de José Genoino como presidente do partido. No lugar dele, assumiu ontem o ministro da Educação, Tarso Genro.
Adalberto, que embarcava no aeroporto de Congonhas rumo a Fortaleza, em um vôo com escala em Brasília, foi preso por violar a legislação relativa aos crimes contra o sistema financeiro e contra a ordem tributária.
Ele carregava uma valise com R$ 200 mil em dinheiro e mais US$ 100 mil presos ao corpo, na cueca. Adalberto teria justificado a origem do dinheiro como proveniente de pagamento de verduras que havia vendido na Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo), pois era agricultor. Segundo "Jornal Nacional", da TV Globo, divulgou ontem à noite, Adalberto não trabalharia com agricultura. Mantinha apenas atividades políticas.
Para Waldir Pires, a prisão do assessor "é um caso sério que deve ser investigado e punido". "O PT está sofrendo muito e tem de investigar, auditar, sem nenhuma interrupção nesse processo".
O deputado estadual José Nobre Guimarães (PT-CE), irmão do ex-presidente do PT José Genoino, divulgou nota ontem à tarde exonerando o assessor parlamentar José Adalberto Vieira da Silva e isentando-se de qualquer relação com o dinheiro apreendido pela Polícia Federal, anteontem.
Nobre Guimarães afirmou que vai se afastar do Diretório Nacional do partido, do qual é membro, e reiterou que não tinha conhecimento de que o assessor estava em São Paulo anteontem nem de suas atividades fora do gabinete. "Ele [Adalberto] exercia apenas funções políticas", afirmou.
A presidente do PT do Ceará, Sônia Braga, marcou uma reunião para amanhã a fim de discutir o futuro de Adalberto no partido. Ele deverá ser desligado da função de secretário de organização. Ontem, ele passou o dia sob a custódia da PF, em São Paulo.
O deputado José Geraldo (PA), membro do Diretório Nacional do PT, revelou à Folha que houve uma interpretação de que a prisão de Adalberto poderia ser um fato armado, que cumpriria o papel de desestabilizar Genoino.

Tucanos
Os tucanos Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, e José Serra, prefeito da capital paulista, afirmaram ontem que é necessária uma apuração rigorosa.
"Tem de ser apurado e punido exemplarmente", disse Alckmin, durante a celebração dos 73 anos do início da Revolução Constitucionalista de 1932.
"Não é possível que não se descubra o que esse homem estava fazendo com tanto dinheiro, como se levasse uma revista", afirmou Serra.
O ministro Waldir Pires também disse que "há sinais claros" de irregularidades em contratos nos Correios. "Estou apresentando resultados consistentes de nossas auditorias à CPI [dos Correios]. Há sinais claros de que houve corrupção, mas não envolve o partido, envolve órgãos públicos", afirmou.
O ministro também deu certa credibilidade às acusações de "mensalão", esquema de compra de deputados denunciado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), destoando da linha oficial do governo de desqualificar completamente as denúncias.
"Não estou surpreso. Isso vem se praticando há muitos anos."

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