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Ex-tesoureiro acusa PT de caixa 2
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
Um ex-tesoureiro do PT no Maranhão, Robert Lobato, 35, acusa
a Secretaria de Finanças do Diretório Nacional do partido, comandada até o início desta semana por Delúbio Soares, de fazer
depósitos em contas bancárias
particulares de pessoas ligadas ao
Campo Majoritário (tendência
ideológica que comanda o PT nacional), e não nas contas oficiais
dos diretórios estaduais e municipais do PT, para fugir das prestações de contas e esconder a arrecadação extra-oficial de recursos.
Segundo ele, a prática é comum
não só no Maranhão, como no
resto do país.
"São comuns depósitos em conta particular de companheiros.
Na verdade, trata-se de um artifício do Campo Majoritário, para
ajudar apenas os seus candidatos.
Esses recursos, dessa forma, não
passam pelo partido, assim não
constam da prestação de contas
oficial", disse ele à Folha.
Um inquérito na Polícia Federal
investiga se o PT maranhense recebeu dinheiro de forma irregular
do Diretório Nacional do partido
na eleição passada, quantia que
teria chegado em malas, como teria afirmado o atual tesoureiro do
partido, Luís Henrique Soares,
em uma reunião do Diretório Estadual. Tais recursos, R$ 327 mil,
não constam na prestação de contas entregue à Justiça Eleitoral.
Soares nega a denúncia.
Desfiliação
Lobato passou 12 anos filiado ao
PT, de 1992 a 2004, e em 2000 foi
eleito tesoureiro na mesma chapa
do atual presidente estadual do
partido, Washington Luís Oliveira, há seis anos no cargo. Ficou só
um ano na função, quando percebeu, segundo ele, que havia muitas "coisas erradas".
"Saio porque cansei de tanta
desfaçatez, dos discursos hipócritas de um partido que faz pior do
que o governo anterior e, mesmo
assim, ainda tem o cinismo de
afirmar que está mudando o país.
Mudando para quem? Para os
"Delúbios" da vida?", afirmou ele
na carta em que anunciou sua
desfiliação. Lobato está sem partido e trabalha como gerente do
Sesc no município de Itapecuru
Mirim (120 km de São Luís).
O ex-tesoureiro afirmou que a
origem do dinheiro enviado às
contas particulares de petistas era
de contribuições extra-oficiais,
que não poderiam entrar em uma
prestação de contas de verdade.
"Assim que o dinheiro entrava,
o companheiro que tinha recebido o depósito fazia o saque e repassava à cúpula do partido", disse. "Não há controle dos recursos
extra-oficiais, digamos assim. A
coisa acontece num obscurantismo total, sem transparência."
A informação de que são comuns depósitos do Diretório Nacional do partido em contas bancárias de pessoas físicas se repete
em um documento interno, ao
qual a Folha teve acesso, assinado
pelo ex-coordenador de fiscalização do PT no Maranhão, Saulo
Costa Arcangeli.
Em uma carta enviada à Executiva Estadual do partido, logo
após a campanha eleitoral de
2002, ele solicitou que fossem informados "todos os recursos utilizados para a campanha no Estado, quem recebeu e como foram
utilizados" e relacionou valores
que teriam sido depositados em
contas de integrantes do partido.
Questionado sobre a carta pela reportagem, Arcangeli disse: "Na
ocasião, não cheguei a confirmar
as informações, apenas disse na
carta o que sabia". Ele deixou o PT
logo em seguida e está no PSOL.
Lobato diz que nas prestações
de contas do PT maranhense, só
entram como receita os recursos
do fundo partidário.
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