São Paulo, domingo, 10 de julho de 2005

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Ex-tesoureiro acusa PT de caixa 2

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Um ex-tesoureiro do PT no Maranhão, Robert Lobato, 35, acusa a Secretaria de Finanças do Diretório Nacional do partido, comandada até o início desta semana por Delúbio Soares, de fazer depósitos em contas bancárias particulares de pessoas ligadas ao Campo Majoritário (tendência ideológica que comanda o PT nacional), e não nas contas oficiais dos diretórios estaduais e municipais do PT, para fugir das prestações de contas e esconder a arrecadação extra-oficial de recursos. Segundo ele, a prática é comum não só no Maranhão, como no resto do país.
"São comuns depósitos em conta particular de companheiros. Na verdade, trata-se de um artifício do Campo Majoritário, para ajudar apenas os seus candidatos. Esses recursos, dessa forma, não passam pelo partido, assim não constam da prestação de contas oficial", disse ele à Folha.
Um inquérito na Polícia Federal investiga se o PT maranhense recebeu dinheiro de forma irregular do Diretório Nacional do partido na eleição passada, quantia que teria chegado em malas, como teria afirmado o atual tesoureiro do partido, Luís Henrique Soares, em uma reunião do Diretório Estadual. Tais recursos, R$ 327 mil, não constam na prestação de contas entregue à Justiça Eleitoral. Soares nega a denúncia.

Desfiliação
Lobato passou 12 anos filiado ao PT, de 1992 a 2004, e em 2000 foi eleito tesoureiro na mesma chapa do atual presidente estadual do partido, Washington Luís Oliveira, há seis anos no cargo. Ficou só um ano na função, quando percebeu, segundo ele, que havia muitas "coisas erradas".
"Saio porque cansei de tanta desfaçatez, dos discursos hipócritas de um partido que faz pior do que o governo anterior e, mesmo assim, ainda tem o cinismo de afirmar que está mudando o país. Mudando para quem? Para os "Delúbios" da vida?", afirmou ele na carta em que anunciou sua desfiliação. Lobato está sem partido e trabalha como gerente do Sesc no município de Itapecuru Mirim (120 km de São Luís).
O ex-tesoureiro afirmou que a origem do dinheiro enviado às contas particulares de petistas era de contribuições extra-oficiais, que não poderiam entrar em uma prestação de contas de verdade.
"Assim que o dinheiro entrava, o companheiro que tinha recebido o depósito fazia o saque e repassava à cúpula do partido", disse. "Não há controle dos recursos extra-oficiais, digamos assim. A coisa acontece num obscurantismo total, sem transparência."
A informação de que são comuns depósitos do Diretório Nacional do partido em contas bancárias de pessoas físicas se repete em um documento interno, ao qual a Folha teve acesso, assinado pelo ex-coordenador de fiscalização do PT no Maranhão, Saulo Costa Arcangeli.
Em uma carta enviada à Executiva Estadual do partido, logo após a campanha eleitoral de 2002, ele solicitou que fossem informados "todos os recursos utilizados para a campanha no Estado, quem recebeu e como foram utilizados" e relacionou valores que teriam sido depositados em contas de integrantes do partido. Questionado sobre a carta pela reportagem, Arcangeli disse: "Na ocasião, não cheguei a confirmar as informações, apenas disse na carta o que sabia". Ele deixou o PT logo em seguida e está no PSOL.
Lobato diz que nas prestações de contas do PT maranhense, só entram como receita os recursos do fundo partidário.

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