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ELIO GASPARI
O jabá na prefeitura de Palocci
Sem a teatralidade com
que Roberto Jefferson estourou o "mensalão" e até mesmo
sem o tom de denúncia, Augusto
Pereira Filho, um ex-diretor da
empresa municipal Coderp
(Companhia de Desenvolvimento
Econômico de Ribeirão Preto)
contou no ano passado ao repórter Rogério Pagnan que entre
2001 e 2002, durante nove meses,
recebeu um total de R$ 24.750 da
empreiteira CVP. Tinha um salário de R$ 2.250 e o "complemento", repassado em dinheiro vivo,
era de R$ 2.750 mensais. Na sua
explicação: "o município achou
uma forma de me pagar mais".
O Ministério Público Estadual
investiga irregularidades porventura cometidas na Prefeitura de
Ribeirão Preto e, no ano passado,
tomou um depoimento de Pereira
Filho. Ao repórter ele contou que
o acerto foi negociado pelo superintendente da Coderp, Juscelino
Dourado, atual chefe-de-gabinete
do ministro da Fazenda, Antonio
Palocci, então prefeito do município. Pereira Filho é um técnico
que passou também pelas prefeituras petistas de Franca e Jaboticabal.
O abono salarial é uma praga.
Em Buenos Aires foi sucesso de
vendas com o livro "Maquiavel
Não Conheceu os Argentinos", de
Enrique N'Haux, um doutor da
ekipekonômica do ministro Domingo Cavallo (1991-1996 e 2001).
No México, a corrupção do aparelho partidário deu um grande
filme. Chama-se "A Lei de Herodes" e conta a metamorfose de
um honesto zelador depois de ter
chegado à prefeitura de sua cidade, com a força do partido.
A degenerescência petista não é
um fenômeno da militância, é do
aparelho. Ela não surgiu com a
chegada de Lula à Presidência da
República. Vem lá de trás com incestos municipais que promiscuíram as relações dos quadros com
os administradores e de ambos
com fornecedores e empreiteiros.
A promiscuidade fortaleceu o
aparelho e o aparelho fortaleceu a
promiscuidade. A crise que Lula
atribui ao aparelhamento é uma
crise da promiscuidade. Dela ele
sempre soube. Neste ano completam-se dez anos da primeira denúncia formal dessas práticas, feita pelo ex-secretário de Finanças
de São José dos Campos Paulo de
Tarso Venceslau. Pelo aspecto
pessoal que suas acusações adquiriram, está na lista das pessoas
que Lula tem raiva, "vontade de
esganar mesmo".
A complementação salarial
contada por Pereira Filho federalizou-se. Foi usada como argumento para seduzir um convidado para cargo público. No caso de
Ribeirão Preto houve uma paridade entre o abono e o salário. O
jabaculê federal pode ser estimado em duas ou três vezes o salário
do freguês.
A justificativa do abono parte
da premissa da honorabilidade
do beneficiado. Seria o caso de se
ajudar quem está perdendo dinheiro por trabalhar em Brasília.
Esse argumento é falso. Trata-se
de uma defesa astuciosa do "caixa dois" e do poder que ela concede a quem a alcança.
No caso de Pereira Filho, o prefeito Palocci ou seu colaborador
Dourado poderiam dar R$ 2.750
ao diretor da Coderp tirando o dinheiro de seus bolsos. Admita-se
que não o tivessem. Poderiam
passar uma lista no PT, fazer
uma rifa. Diriam para quem iria
o dinheiro e responderiam à principal pergunta: de onde ele veio?
Quando se usa a imagem do burocrata frugal pretende-se transformar em filantropos os fregueses da Viúva que alimentam os
"caixa dois".
O ervanário das complementações também não tem nada a ver
com caixa de campanha. Admita-se que a lei da paridade eleitoral está certa: para cada real declarado pelo candidato, há outro
que passa por baixo da mesa.
A última campanha presidencial custou cerca de R$ 50 milhões
a cada um dos dois principais
partidos. Durante os quatro anos
de um mandato, cem amigos com
um abono de R$ 10 mil mensais
comem um "caixa dois" de R$ 48
milhões, ou dez malas do Delúbio. A campanha não arrecada
dinheiro suficiente para pagar essa conta.
A previdência partidária precisa de fluxo de caixa.
Ave Meirelles
Fica no saldo do doutor
Henrique Meirelles: durante
sua presidência no Banco
Central as conexões do tesoureiro Delúbio Soares e
do aspergente Marcos Valério foram poucas para transformar R$ 10 bilhões de papéis podres dos falecidos
bancos Econômico e Mercantil de Pernambuco em
dinheiro bom. Delúbio e
Angelo Calmon de Sá, dono
do Econômico, se conheceram em 2003 numa pescaria
(de peixes) com Duda Mendonça. Bem feito.
Ponto queimado
Confusão em Washington.
"The New York Times" revelou que um dos grandes
lobistas da cidade, Jack
Abramoff, usava o restaurante Signatures, do qual se
tornou sócio, para patrocinar bocas-livres de políticos.
A casa cobra US$ 70 por um
pedaço de carne e US$ 140
pelo menu de degustação.
Pegaram uma mensagem de
Abramoff para a caixa informando que o líder do governo, Tom DeLay, ia jantar
com a mulher e quatro convidados e estava dispensado
da conta. Coisa de meio
mensalão.
Pegou pesado
Crise política afeta os nervos, mas se Lula fizer com
outros colaboradores o que
fez com o comissário Luiz
Gushiken, acabará conversando com as plantas do
Planalto. O que ele fez? Recriminou-o diante de pessoas estranhas à intimidade
dos dois.
Retucano
Se deixarem, Henrique Meirelles volta para o PSDB. Estava com tudo acertado para
se filiar ao PTB.
Falta de educação
O presidente da Câmara dos
Deputados, Severino Cavalcanti, cometeu uma grosseria
com a patuléia que lhe que paga seu salário. Convidado para
uma conversa com Lula, disse
que tinha mais o que fazer.
Quando um cidadão é chamado pelo presidente da República, tem a obrigação de comparecer, sem perguntar o assunto. Durante o governo de Bill
Clinton, o deputado Newt Gingrich, poderoso presidente da
Câmara, começou a virar farelo quando não atendeu um telefonema da Casa Branca.
Memória
Em 1965, o marechal Castello
Branco leu no jornal que um
de seus irmãos, funcionário da
Receita Federal, ganhara em
cerimônia pública um automóvel Aero-Willys. Era o agradecimento de sua classe pela
ajuda que dera na elaboração
de uma lei que organizava a
carreira. Paulo Castello Branco, filho do presidente, costumava contar que o marechal
telefonou para o irmão, dizendo-lhe que deveria devolver o
carro. Ele argumentou que se
cada fiscal da Receita tivesse
presenteado uma gravata, o
valor seria muito maior. Castello interrompeu-o:
- Você não entendeu. Afastado
do cargo você já está. Estamos
decidindo agora se você vai
preso ou não.
Urucubaca
Os companheiros da Volkswagen alemã, sempre mostrados
como exemplo da maturidade
nas relações entre uma empresa e um sindicato, estão sem
sorte. O diário Süddeutsche
Zeitung revelou que a direção
da empresa manda membros
do seu conselho de trabalhadores ao Brasil para observações e conversas de alto nível.
Elas incluíam os serviços de
prostitutas, no mensalão da
empresa.
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