|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ IMAGENS DO PODER
Arthur Washeck, mentor da fita dos Correios, também afirma estar arrependido
Cachoeira diz se arrepender de ter gravado Waldomiro
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Responsável pela fita de vídeo
que gerou a primeira grande crise
no governo Lula, em fevereiro do
ano passado, o empresário de jogos Carlos Augusto de Almeida
Ramos, o Carlinhos Cachoeira,
diz-se arrepender da gravação em
que o ex-assessor da Casa Civil
Waldomiro Diniz aparece pedindo propina e contribuições para
campanhas eleitorais em 2002.
Cachoeira foi convocado para
depor na próxima quarta-feira na
CPI do Bingos no Senado. Waldomiro, também chamado, não tem
data para prestar depoimento.
O empresário de jogos afirma
que não esperava a detonação de
uma crise política. Seus interesses,
na época da gravação, seriam apenas comerciais. A fita foi gravada
em 2002. Waldomiro era então
presidente da Loterj (Loterias do
Estado do Rio de Janeiro) e teria
pedido propina em troca de favorecimento em licitação.
Personagem da segunda crise
causada por fita de vídeo, a dos
Correios, o empresário Arthur
Washeck Neto, que afirma ter
mandado gravar o então chefe de
departamento Maurício Marinho
pedindo propina, também diz-se
arrepender. A intenção também
seria negociar licitação.
"Se tem uma coisa da qual me
arrependo, quero fazer uma confissão, foi ter entregue isso aí [o vídeo] ao Jairo [Martins de Souza,
ex-agente da Abin]. Se eu tivesse
editado essa fita, o escândalo não
aconteceria", disse Washeck à
CPI dos Correios. Essa crise acabou por tirar José Dirceu, ex-chefe de Waldomiro, da Casa Civil.
Souza também preparou equipamentos para Cachoeira fazer
gravações em que o deputado André Luiz, que acabou cassado,
aparecia pedindo propina.
À Folha Cachoeira nunca esclareceu por que a fita, com a conversa com Waldomiro, só foi divulgada quase dois anos depois de
gravada. Trechos do vídeo saíram
em reportagem da revista "Época". Waldomiro deixou o cargo.
A CPI foi criada para apurar
"utilização das casas de bingo para prática de crimes de lavagem".
Porém a comissão precisará apurar o esquema de corrupção de
Waldomiro no governo, diz o
presidente da Associação Brasileiros dos Bingos, Olavo Sales.
Segundo ele, no Brasil funcionam atualmente 600 bingos que
empregam perto de 80 mil pessoas. "Não podemos ser boi de piranha. A comissão deve apurar
quem estava por trás do esquema
de Waldomiro", afirmou Sales.
O relator da CPI, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN),
afirma que os bingos são usados
para lavar dinheiro do narcotráfico, porém admite que o esquema
pode incluir dinheiro de corrupção política.
Waldomiro responde na Justiça
a uma ação por improbidade administrativa que tramita na 7ª Vara Federal há um ano. A acusação
é a de que ele intermediou negociação entre a empresa GTech do
Brasil e a Caixa Econômica Federal para renovação de contrato,
em prejuízo da estatal. A GTech
fornece o sistema de informática
das lotéricas.
Cachoeira participou dos encontros. Um desentendimento entre
os dois pode ter levado à divulgação da fita.
O empresário de jogos nega. Em
maio passado, o ex-assessor da
Casa Civil, em defesa enviada à
Justiça, também se disse inocente.
Afirmou ser vítima de "linchamento moral". Disse que era vítima de extorsão de Cachoeira.
A reportagem procurou Waldomiro na casa dele, mas o porteiro
disse que não poderia nem sequer
telefonar para o apartamento avisando a presença de reportagem.
Texto Anterior: Elio Gaspari: O jabá na prefeitura de Palocci Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/ estatais: Diretores do IRB se reuniram com petistas Índice
|