São Paulo, domingo, 10 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ IMAGENS DO PODER

Arthur Washeck, mentor da fita dos Correios, também afirma estar arrependido

Cachoeira diz se arrepender de ter gravado Waldomiro

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

Responsável pela fita de vídeo que gerou a primeira grande crise no governo Lula, em fevereiro do ano passado, o empresário de jogos Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, diz-se arrepender da gravação em que o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz aparece pedindo propina e contribuições para campanhas eleitorais em 2002.
Cachoeira foi convocado para depor na próxima quarta-feira na CPI do Bingos no Senado. Waldomiro, também chamado, não tem data para prestar depoimento.
O empresário de jogos afirma que não esperava a detonação de uma crise política. Seus interesses, na época da gravação, seriam apenas comerciais. A fita foi gravada em 2002. Waldomiro era então presidente da Loterj (Loterias do Estado do Rio de Janeiro) e teria pedido propina em troca de favorecimento em licitação.
Personagem da segunda crise causada por fita de vídeo, a dos Correios, o empresário Arthur Washeck Neto, que afirma ter mandado gravar o então chefe de departamento Maurício Marinho pedindo propina, também diz-se arrepender. A intenção também seria negociar licitação.
"Se tem uma coisa da qual me arrependo, quero fazer uma confissão, foi ter entregue isso aí [o vídeo] ao Jairo [Martins de Souza, ex-agente da Abin]. Se eu tivesse editado essa fita, o escândalo não aconteceria", disse Washeck à CPI dos Correios. Essa crise acabou por tirar José Dirceu, ex-chefe de Waldomiro, da Casa Civil.
Souza também preparou equipamentos para Cachoeira fazer gravações em que o deputado André Luiz, que acabou cassado, aparecia pedindo propina.
À Folha Cachoeira nunca esclareceu por que a fita, com a conversa com Waldomiro, só foi divulgada quase dois anos depois de gravada. Trechos do vídeo saíram em reportagem da revista "Época". Waldomiro deixou o cargo.
A CPI foi criada para apurar "utilização das casas de bingo para prática de crimes de lavagem". Porém a comissão precisará apurar o esquema de corrupção de Waldomiro no governo, diz o presidente da Associação Brasileiros dos Bingos, Olavo Sales.
Segundo ele, no Brasil funcionam atualmente 600 bingos que empregam perto de 80 mil pessoas. "Não podemos ser boi de piranha. A comissão deve apurar quem estava por trás do esquema de Waldomiro", afirmou Sales.
O relator da CPI, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), afirma que os bingos são usados para lavar dinheiro do narcotráfico, porém admite que o esquema pode incluir dinheiro de corrupção política.
Waldomiro responde na Justiça a uma ação por improbidade administrativa que tramita na 7ª Vara Federal há um ano. A acusação é a de que ele intermediou negociação entre a empresa GTech do Brasil e a Caixa Econômica Federal para renovação de contrato, em prejuízo da estatal. A GTech fornece o sistema de informática das lotéricas.
Cachoeira participou dos encontros. Um desentendimento entre os dois pode ter levado à divulgação da fita.
O empresário de jogos nega. Em maio passado, o ex-assessor da Casa Civil, em defesa enviada à Justiça, também se disse inocente. Afirmou ser vítima de "linchamento moral". Disse que era vítima de extorsão de Cachoeira.
A reportagem procurou Waldomiro na casa dele, mas o porteiro disse que não poderia nem sequer telefonar para o apartamento avisando a presença de reportagem.

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