São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / ESTADOS

De olho em 2010, Aécio refaz projeto de Tancredo

Para criar unidade política em torno da reeleição, chapa agregou dez partidos

Escolha de vice com perfil técnico pretende impedir as disputas pelo governo quando tucano deixar cargo para concorrer à Presidência

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), 46, refaz o projeto do seu avô em busca da Presidência da República, em 2010, quando se comemorará o centenário de nascimento de Tancredo Neves -morto em 1985. A união mineira é o primeiro passo do projeto, tal como fez Tancredo ao ser eleito governador, em 1982.
Tancredo dizia que sem a unidade política de Minas seria muito mais difícil viabilizar sua candidatura presidencial. E com isso concorda seu neto.
Essa unidade vem sendo construída por Aécio desde que ele chegou ao governo mineiro, em 2003. Além de unir as diversas siglas em torno do seu projeto, ele se move pensando na manutenção dessa unidade, em que pesem os interesses de cada uma das forças políticas heterogêneas que o cercam.
No "chapão" que montou para a reeleição, dada como certa no núcleo tucano, Aécio juntou dez partidos. Vai do PFL ao PPS e PSB, além de ter o apoio informal de outras legendas, como o PDT, e segmentos de outros partidos, como os aliados do ex-presidente Itamar Franco, que não se viabilizou candidato ao Senado e deixou o PMDB.
Não ter o PMDB ao seu lado foi uma derrota para Aécio. É o partido de maior capilaridade no Estado e importante especialmente nos grotões, tão valorizados por Tancredo.
Embora o PMDB participe do governo ocupando cargos, a sigla cedeu aos apelos do presidente Lula e aliou-se ao PT do candidato Nilmário Miranda na disputa contra o tucano.
O PMDB se aliou ao PT especialmente porque acha que elegerá mais deputados. Mas, após a eleição, Aécio espera tê-lo outra vez ao seu lado. O ex-governador Newton Cardoso, que mostrou força no PMDB ao bater Itamar com 70% dos votos, já admite isso: "Aécio, se pretende estar na vida pública no futuro próximo, está ouvindo as lições de Tancredo de união de Minas. Ele precisa absorver essas candidaturas [contrárias a ele] e pensar no futuro."
Aécio envolve nesse projeto até os que apóiam Lula: o vice-presidente José Alencar (PRB), o ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia (PTB), e o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT).

Sem políticos
Para manter a aliança, o tucano escolheu como vice Antonio Augusto Anastasia (PSDB), um técnico. Afastou da chapa os políticos e resistiu às pressões, em especial do PFL e do PL do atual vice-governador, Clésio Andrade.
Anastasia comandou até abril passado as áreas de planejamento, administração e segurança pública.
Especialista em administração pública e advogado, foi secretário-executivo dos ministérios do Trabalho e da Justiça no governo FHC. Está na equipe que elabora o programa de governo de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência.
Sua presença como vice tem a intenção de impedir que, ao se desincompatibilizar do governo em abril de 2010 para tentar a Presidência, Aécio corra riscos de a aliança ruir por disputas pelo Palácio da Liberdade.
Ter um substituto "sem pretensões eleitorais de natureza pessoal" no palácio, conforme dito por um tucano à Folha, é condição fundamental.
Com Anastasia, Aécio ficaria ainda livre para percorrer o país repetindo a pregação de uma federação forte, com descentralização dos recursos para Estados e Municípios, como pregou seu avô.


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