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ELEIÇÕES 2006 / ESTADOS
De olho em 2010, Aécio refaz projeto de Tancredo
Para criar unidade política em torno da reeleição, chapa agregou dez partidos
Escolha de vice com perfil
técnico pretende impedir
as disputas pelo governo
quando tucano deixar cargo
para concorrer à Presidência
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO
HORIZONTE
O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), 46,
refaz o projeto do seu avô em
busca da Presidência da República, em 2010, quando se comemorará o centenário de nascimento de Tancredo Neves
-morto em 1985. A união mineira é o primeiro passo do projeto, tal como fez Tancredo ao
ser eleito governador, em 1982.
Tancredo dizia que sem a
unidade política de Minas seria
muito mais difícil viabilizar sua
candidatura presidencial. E
com isso concorda seu neto.
Essa unidade vem sendo
construída por Aécio desde que
ele chegou ao governo mineiro,
em 2003. Além de unir as diversas siglas em torno do seu
projeto, ele se move pensando
na manutenção dessa unidade,
em que pesem os interesses de
cada uma das forças políticas
heterogêneas que o cercam.
No "chapão" que montou para a reeleição, dada como certa
no núcleo tucano, Aécio juntou
dez partidos. Vai do PFL ao PPS
e PSB, além de ter o apoio informal de outras legendas, como o
PDT, e segmentos de outros
partidos, como os aliados do ex-presidente Itamar Franco, que
não se viabilizou candidato ao
Senado e deixou o PMDB.
Não ter o PMDB ao seu lado
foi uma derrota para Aécio. É o
partido de maior capilaridade
no Estado e importante especialmente nos grotões, tão valorizados por Tancredo.
Embora o PMDB participe
do governo ocupando cargos, a
sigla cedeu aos apelos do presidente Lula e aliou-se ao PT do
candidato Nilmário Miranda
na disputa contra o tucano.
O PMDB se aliou ao PT especialmente porque acha que elegerá mais deputados. Mas, após
a eleição, Aécio espera tê-lo outra vez ao seu lado. O ex-governador Newton Cardoso, que
mostrou força no PMDB ao bater Itamar com 70% dos votos,
já admite isso: "Aécio, se pretende estar na vida pública no
futuro próximo, está ouvindo
as lições de Tancredo de união
de Minas. Ele precisa absorver
essas candidaturas [contrárias
a ele] e pensar no futuro."
Aécio envolve nesse projeto
até os que apóiam Lula: o vice-presidente José Alencar (PRB),
o ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia (PTB), e o
prefeito de Belo Horizonte,
Fernando Pimentel (PT).
Sem políticos
Para manter a aliança, o tucano escolheu como vice Antonio
Augusto Anastasia (PSDB), um
técnico. Afastou da chapa os
políticos e resistiu às pressões,
em especial do PFL e do PL do
atual vice-governador, Clésio
Andrade.
Anastasia comandou até
abril passado as áreas de planejamento, administração e segurança pública.
Especialista em administração pública e advogado, foi secretário-executivo dos ministérios do Trabalho e da Justiça
no governo FHC. Está na equipe que elabora o programa de
governo de Geraldo Alckmin
(PSDB) à Presidência.
Sua presença como vice tem
a intenção de impedir que, ao se
desincompatibilizar do governo em abril de 2010 para tentar
a Presidência, Aécio corra riscos de a aliança ruir por disputas pelo Palácio da Liberdade.
Ter um substituto "sem pretensões eleitorais de natureza
pessoal" no palácio, conforme
dito por um tucano à Folha, é
condição fundamental.
Com Anastasia, Aécio ficaria
ainda livre para percorrer o
país repetindo a pregação de
uma federação forte, com descentralização dos recursos para Estados e Municípios, como
pregou seu avô.
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