São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2008

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Senadores vão à tribuna criticar operação

Defesa solitária de Pedro Simon provoca bate-boca; congressistas do PSDB, do DEM, do PMDB e do PT atacam "espetacularização"

"Corremos o risco de sermos mal interpretados pela imprensa, de parecermos estar defendendo tubarões", disse o tucano Jereissati

ADRIANO CEOLIN
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de um dia de espanto diante das prisões do banqueiro Daniel Dantas, do megainvestidor Naji Nahas e do ex-prefeito paulistano Celso Pitta, os senadores resolveram abordar o tema de forma mais direta, o que provocou bate-boca no início da sessão de ontem. Sete senadores criticaram a atuação da Polícia Federal. Um elogiou.
A confusão começou quando Pedro Simon (PMDB-RS) defendeu a PF após congressistas de PSDB, DEM, PMDB e PT criticarem o que chamaram de "show" e "espetacularização" o modo como ocorreram as ações da Operação Satiagraha.
"O que a gente sente é a sociedade revoltada no sentido de que uma elite não é atingida nunca e o povão só conhece a cadeia. [A PF] está agindo com uma competência real", disse Simon. "A gente soube o trabalho desse cidadão [Dantas], a bancada que ele tinha, a multidão de fatos relativos a ele. E, na Justiça brasileira, o que a gente conhece é exatamente isto: nada acontece", completou.
Simon discursou depois dos tucanos Arthur Vírgilio (AM) e Tasso Jereissati (CE). Os dois exaltaram as declarações do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Gilmar Mendes, que criticou a divulgação de imagens com Pitta, Dantas e Najas algemados.
"Corremos o risco de sermos mal interpretados pela imprensa, de parecermos estar defendendo tubarões", disse Jereissati. "Evidentemente, a televisão foi chamada para fazer aquela cena, para fazer uma humilhação, para fazer um verdadeiro estupro ao direito de defesa do cidadão", completou.
O presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), disse que estranhou "o comportamento da PF". "Que está agindo com desenvoltura nessas operações, mas que está extrapolando no que toca ao uso de algemas", disse. O momento mais tenso ocorreu quando Simon discursava. Irritado, Virgílio subiu à tribuna sem autorização do presidente. Depois, mais calmo, voltou à tribuna e eles fizeram as pazes.
Dizendo-se cansado de ser chamado de "amigo de Daniel Dantas", o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) afirmou que "renuncia o mandato se aparecer uma conta, uma aplicação em qualquer paraíso fiscal".
"E a partir de hoje, se quiserem dizer que eu sou amigo do sr. Daniel Dantas, vou aceitar. Isso me fará menos mal do que se disserem que eu sou amigo do Waldomiro [Diniz, ex-braço direito de José Dirceu] ou de quem carrega dólar na cueca", afirmou, referindo-se a escândalos ligados ao PT.
No Congresso, há um clima de temor com a possibilidade de as investigações sobre Dantas, banqueiro com relações próximas a tucanos, democratas e até petistas, revelarem operações que possam trazer dor de cabeça a congressistas.
O PT tenta usar o episódio para demonstrar que partiu da sigla a denúncia de envolvimento de Dantas no esquema do mensalão na CPI dos Correios. Sobre a participação do ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) como advogado do banqueiro, os petistas não escondem o constrangimento, ainda mais porque o ex-deputado ajudou na elaboração do voto em separado que pediu o indiciamento de Dantas.
Dantas e Nahas podem ser convocados a depor na CPI dos Grampos. O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) apresentou ontem requerimento nesse sentido. Dantas é acusado de ter contratado a Kroll para espionar adversários. A empresa é investigada pela CPI.


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