São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 2005

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Lula estuda ir à TV assumir erros e responder à imprensa e à oposição

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prepara um discurso de mea-culpa e autocrítica em relação à mais grave crise política de seu governo e do PT. O tom tem sido discutido cuidadosamente para que não assuma um erro que possa ser considerado crime.
Nos últimos dias, Lula debateu com auxiliares a realização de um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV no qual faria pela primeira vez uma abordagem longa e direta da crise política, assumindo erros que ele e membros petistas de seu governo teriam cometido. Não há data marcada para o pronunciamento, mas, no Planalto, avalia-se que deva acontecer em uma semana.
Uma das intenções de Lula é dar uma satisfação à população sobre a crise política numa tentativa de diminuir a sua gravidade na hora em que espera novos resultados positivos na economia -queda da inflação e do desemprego, redução de juros, aumento da produção industrial e manutenção do forte ritmo exportador.
Outro objetivo é responder a críticas da oposição e da imprensa de que se comporta como se não tivesse responsabilidade pela crise. Lula pretende admitir algum tipo de responsabilidade, desde que não possa ser traduzida juridicamente em crime.
Ministros e auxiliares têm a preocupação de que os recentes discursos de Lula em inaugurações alimentem a idéia de um viés "chavista" -ancorar-se na popularidade entre os mais pobres e menos escolarizados para se manter no poder.
Ou seja, Lula faria um aceno às chamadas classes médias urbanas, aos formadores de opinião e à própria oposição -esta voltou a subir o tom desde que Fernando Henrique escreveu um artigo no último final de semana, no qual admitiu a possibilidade de eventual impeachment de Lula.
Ministros como Antonio Palocci Filho (Fazenda), Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Jaques Wagner (Relações Institucionais) acham importante Lula evitar confrontos com a oposição. Eles prevêem que a campanha eleitoral no ano que vem será acirrada e que seria um erro antecipá-la mais do que já está antecipada.
O expediente de corrigir um discurso inflamado de palanque em pronunciamento de rádio e TV foi usado no final de junho, quando Lula adotou na TV um tom conciliador depois de ter dito que a crise se devia à preocupação da oposição com sua reeleição.

Humor e reeleição
Após um período de tristeza e depressão que deixou alarmados auxiliares, o presidente voltou das viagens ao Nordeste na semana passada com humor diferente. Sentiu-se revigorado pelos eventos em clima de comício e deu a entender que não pensa mais em desistir da reeleição em 2006.
Nas conversas mais recentes, Lula disse que não se candidatar poderia ser a confissão de fracasso de seu governo. Repetiu que não aceita a tese de que o eventual abrandamento da crise deva ocorrer em torno do compromisso de que estará fora do páreo em 2006. Apesar de ferido, ele continua a ser o político com mais chance de vencer nova eleição presidencial, revelam pesquisas.


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