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Lula estuda ir à TV assumir erros e responder à imprensa e à oposição
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva prepara um discurso de
mea-culpa e autocrítica em relação à mais grave crise política de
seu governo e do PT. O tom tem
sido discutido cuidadosamente
para que não assuma um erro que
possa ser considerado crime.
Nos últimos dias, Lula debateu
com auxiliares a realização de um
pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV no qual faria
pela primeira vez uma abordagem longa e direta da crise política, assumindo erros que ele e
membros petistas de seu governo
teriam cometido. Não há data
marcada para o pronunciamento,
mas, no Planalto, avalia-se que
deva acontecer em uma semana.
Uma das intenções de Lula é dar
uma satisfação à população sobre
a crise política numa tentativa de
diminuir a sua gravidade na hora
em que espera novos resultados
positivos na economia -queda
da inflação e do desemprego, redução de juros, aumento da produção industrial e manutenção
do forte ritmo exportador.
Outro objetivo é responder a
críticas da oposição e da imprensa
de que se comporta como se não
tivesse responsabilidade pela crise. Lula pretende admitir algum
tipo de responsabilidade, desde
que não possa ser traduzida juridicamente em crime.
Ministros e auxiliares têm a
preocupação de que os recentes
discursos de Lula em inaugurações alimentem a idéia de um viés
"chavista" -ancorar-se na popularidade entre os mais pobres e
menos escolarizados para se
manter no poder.
Ou seja, Lula faria um aceno às
chamadas classes médias urbanas, aos formadores de opinião e
à própria oposição -esta voltou
a subir o tom desde que Fernando
Henrique escreveu um artigo no
último final de semana, no qual
admitiu a possibilidade de eventual impeachment de Lula.
Ministros como Antonio Palocci Filho (Fazenda), Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Jaques
Wagner (Relações Institucionais)
acham importante Lula evitar
confrontos com a oposição. Eles
prevêem que a campanha eleitoral no ano que vem será acirrada e
que seria um erro antecipá-la
mais do que já está antecipada.
O expediente de corrigir um
discurso inflamado de palanque
em pronunciamento de rádio e
TV foi usado no final de junho,
quando Lula adotou na TV um
tom conciliador depois de ter dito
que a crise se devia à preocupação
da oposição com sua reeleição.
Humor e reeleição
Após um período de tristeza e
depressão que deixou alarmados
auxiliares, o presidente voltou das
viagens ao Nordeste na semana
passada com humor diferente.
Sentiu-se revigorado pelos eventos em clima de comício e deu a
entender que não pensa mais em
desistir da reeleição em 2006.
Nas conversas mais recentes,
Lula disse que não se candidatar
poderia ser a confissão de fracasso de seu governo. Repetiu que
não aceita a tese de que o eventual
abrandamento da crise deva
ocorrer em torno do compromisso de que estará fora do páreo em
2006. Apesar de ferido, ele continua a ser o político com mais
chance de vencer nova eleição
presidencial, revelam pesquisas.
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