São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS PROVAS

Relator mantém decisão de produzir relatório parcial recomendando a cassação de deputados ao Conselho de Ética da Câmara

CPI convoca Gushiken, mas não fixa data

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CPI dos Correios aprovou ontem, em votação simbólica, a convocação de Luiz Gushiken (ex-ministro da Secretaria de Comunicação de Governo e atual chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência) para explicar sua atuação na gestão dos contratos de publicidade federais com as empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza, envolvido no escândalo do suposto "mensalão".
A data do depoimento não foi marcada. Também foram aprovadas as convocações de Marcus Vinícius di Flora e Expedito Carlos Barsotti. Ambos foram secretários de Gushiken na Secom.
Gushiken, que perdeu o status de ministro pelo desgaste relativo a acusações de que a empresa da qual foi sócio teria ampliado a receita de contratos com fundos de pensão, foi acusado pelo deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) de atuar no suposto esquema de corrupção federal ao lado do ex-ministro da Casa Civil, deputado José Dirceu (PT-SP).
Os outros oito convocados ontem são: Emerson Palmieri (tesoureiro informal do PTB e ex-diretor da Embratur), Kátia Rabelo (presidente do Banco Rural), Rogério Tolentino (sócio de Marcos Valério), Marcelo Sereno (ex-secretário de Comunicação do PT), Ivan Guimarães (ex-presidente do Banco Popular), José Carlos Batista (dono da Guaranhuns Empreendimentos), Solange Pereira de Oliveira (ex-secretária de Delúbio Soares) e Egydio Bianchi (ex-presidente dos Correios).
Todos os requerimentos foram votados por acordo. Diante do esvaziamento causado pelo depoimento de Marcos Valério na CPI do Mensalão, os integrantes debateram o destino dos trabalhos.
Sem prejuízo do que já foi investigado sobre os beneficiários de verbas ilícitas, o foco deve ficar na "origem", isto é, os focos de corrupção no governo federal que supostamente alimentavam o chamado "valerioduto".
"Estamos voltando nosso foco para investigar a origem do dinheiro", disse o relator Osmar Serraglio (PMDB-PR). Hoje, as duas CPIs farão sua primeira sessão conjunta para ouvir o sócio de Marcos Valério na SMPB, Cristiano Paz. Amanhã, deve ser ouvida a sócia do publicitário Duda Mendonça, Zilmar Silveira.
Governistas, com a estratégia de aprofundar o envolvimento do PSDB no suposto valerioduto com o caso do caixa dois do senador Eduardo Azeredo na campanha para o governo de Minas Gerais, convocaram o tesoureiro tucano à época, Claudio Mourão. Também foram pedidos dados sobre contratos de publicidade do Estado a partir de 1995.
Outra vitória dos governistas: conseguiram transformar em pedido de explicações a convocação de Aristides Junqueira, ex-procurador-geral da República e advogado do PT que se afastou da defesa do ex-tesoureiro Delúbio Soares. Marcos Valério disse ontem que pagou R$ 185 mil a Junqueira para atuar no caso do assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel. Foram ignorados os apelos do deputado Pompeu de Mattos (PDT-RS) para convocar o empresário Daniel Dantas, do grupo Opportunity.

Relatório
Apesar do descontentamento dos líderes da base aliada, Serraglio manteve ontem a decisão de produzir um relatório parcial até a próxima semana recomendando a cassação de deputados ao Conselho de Ética da Câmara. Ele tem o apoio da oposição.
Em reunião ontem, os líderes aliados na Câmara e no Senado fecharam posição de defesa do envio dessa lista de parlamentares à CPI do Mensalão, que ouviria os acusados. O líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), ficou de conversar com o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS).
A pressão gerou insatisfações na CPI: "É uma verdadeira coação. Os líderes têm legitimidade para vir aqui e derrubar o relatório no voto, mas não para fazer pressão", disse o senador Jefferson Péres (PDT-AM). O argumento dos líderes é que, antes de recomendar a cassação dos deputados, a CPI dos Correios teria de ouvi-los.


Colaborou FERNANDA KRAKOVICS, da Sucursal de Brasília


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