|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIO GASPARI
O filme da pizza
queimada
Márcio Thomaz Bastos é
um fantástico criminalista. Seu objetivo é absolver o
cliente. Tudo bem. André Cayatte (1909-1989), depois de ter
feito carreira como advogado,
foi um fantástico diretor do cinema francês.
O ministro Thomaz Bastos defende o governo de Lula na melhor técnica da negativa da autoria. Não havia "mensalão". A
cueca do assessor do irmão de
José Genoino tinha a ver com
"recursos não contabilizados".
As meninas da Jeany eram sobras de campanha.
E Cayatte? Ele dirigiu um filme chamado "Dois são Culpados" ("Le Glaive et la Balance",
1963). É a história do seqüestro e
assassinato de um garoto. Testemunhas incriminam três homens que vestiam roupas idênticas (Anthony Perkins, Renato
Salvatori e Jean Claude Brialy).
Não há espaço para dúvida:
dois eram os culpados, mas um
era inocente. Qual?
Lula e aquilo que resta do seu
comissariado fortificaram-se na
tese da negativa da autoria. O
"mensalão" é fantasia, alguns
companheiros delinqüiram,
mas é só. Delúbio, esse ingrato.
Para um jurado do filme de
Cayatte, seria difícil acreditar
que um sindicalista do PT de
barba grisalha e cabelo colorido
pudesse ser responsável por tantas traficâncias. Se Delúbio foi
aquilo que se gostaria que tenha
sido, o companheiro tornou-se
caso único na história mundial.
Noves fora um carro e uma terrinha para os pais, ninguém o
acusa de ter amealhado muito
mais que o preço do deslumbramento. Então, foi o José Dirceu.
Examinam-se as malas e verifica-se que uma tomou o rumo do
Rio Grande do Sul. Outra desceu em Pernambuco, muitas
nunca saíram de São Paulo. Cadê a casa de Dirceu numa bonita praia de Alagoas, como a de
PC Farias, ou as dos tucanos
balneários em Porto de Galinhas e no litoral paulista?
Meia dúzia de comissários e
sindicalistas refinados com charutos cubanos e garotas vindas
de São Paulo são bodes magros
para o esquema de poder praticado por Lula e seu PT. Faz dois
anos que o melhor crítico dessa
fraude é o professor Cesar Benjamin e, no último domingo, publicou na Folha um artigo intitulado "O Mito do Paraíso Perdido". Nele, diz o seguinte:
"Lula sempre compartilhou
da intimidade do grupo e foi o
principal beneficiário de suas
ações. Garante, porém, que nada sabia. Respeito quem acredita nisso, assim como respeito
quem acredita em duendes."
Quem acredita em duendes
(sem ganhar nada com isso) repele a associação. A diferença
entre Lula e Eremildo, o Idiota,
está no fato de que, por idiota,
Eremildo nunca conseguiu
apresentar um projeto de seu filho à Telemar. Aliás, para consolo dos contribuintes (e da Telemar), Eremildo não tem filhos.
Também é duvidoso que o PT
emprestasse R$ 29 mil a um
idiota mas, mesmo admitindo-se que isso tivesse acontecido, ele
seria capaz de dizer, imediatamente, como saldou o compromisso.
A tese de negativa da autoria
do doutor Márcio é perfeita para um tribunal de júri, mas resulta temerária para uma sociedade. Os advogados de defesa
do filme de Cayatte sustentaram que o crime tinha sido cometido pelos outros dois acusados. Cada um mostrou que seu
cliente nada tinha a ver com a
história. Os jurados convenceram-se disso e entenderam que
cada um deles poderia ser inocente. Donde, todos podiam ser
inocentes. Absolveram os três.
Cayatte termina seu filme
mostrando a trinca enquanto
deixava o tribunal, protegida
num camburão. A choldra estava na rua. Tacou fogo no carro e
assou os três.
Pelo simbolismo e pela qualidade da obra, Lula e o doutor
Márcio deveriam procurar uma
cópia desse filme.
O artigo de Cesar Benjamin foi publicado na Folha de 7 de agosto. Para
quem não tem acesso ao seu arquivo,
ele pode ser encontrado no endereço:
http://www.italcam.com.br/index.php?url=noticias/
noticia.php&id=1548
Texto Anterior: DNA recebe R$ 390 mi do BB em cinco anos Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/Hora das provas: CPI convoca Gushiken, mas não fixa data Índice
|