São Paulo, quinta-feira, 10 de agosto de 2006

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Grampos da PF ligam Cassol a suspeitos

Gravações telefônicas mostram que o governador de Rondônia negociou nomeações no Tribunal de Contas do Estado

Nomeado conselheiro do TCE foi preso na semana passada na Operação Dominó; Cassol nega ter participado de articulações


JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA ,EM PORTO VELHO

Grampos telefônicos feitos pela Polícia Federal, em novembro de 2005 e em abril deste ano, mostram que o presidente da Assembléia Legislativa de Rondônia, Carlão de Oliveira (PSL), e o governador Ivo Cassol (PPS) se articularam para nomeações para o TCE (Tribunal de Contas do Estado).
Por meio de sua assessoria, Cassol negou ontem participação nas negociações. Segundo ele, as vagas eram da Assembléia e seu único papel foi assinar as nomeações.
As gravações mostram, no entanto, que Cassol foi incumbido de convencer o conselheiro do TCE Amadeu Machado a se aposentar, abrindo vaga para a nomeação de Edilson de Souza Silva, na época advogado de Carlão de Oliveira.
Silva e Carlão foram presos na semana passada pela Polícia Federal, durante a Operação Dominó, por suspeita de participação num esquema de desvio de recursos públicos.
Além dos já citados, as articulações de novembro envolveram também o ex-governador Osvaldo Piana Filho, o candidato ao Senado Expedito Júnior (PPS), o então chefe da Casa Civil, Carlos Magno Ramos, e o então auditor do TCE Valdivino Crispim de Souza.
A nomeação de Silva aconteceu em 17 de novembro. No dia 16 à noite, Carlão e Silva conversaram ao telefone durante sete minutos. Silva estava à espera da impressão do "Diário Oficial" com sua nomeação e agradeceu o "presente" dado por Carlão. Na conversa, eles detalham a participação do governador nas negociações.
" O que será que o Ivo [Cassol] prometeu pra ele?", perguntou Carlão. Silva respondeu que não sabia e acrescentou: "Lá na minha frente, nada não. [...] Mas foi assim, foi muito tranqüilo. E ele [governador] falou pro dr. Amadeu [...], isso aqui foi um acordo que foi feito, né? Que você depois concordou, entre eu Carlão, né? Que o Carlão cumpriu a parte dele e agora gostaria de cumprir a minha parte. Eu estava no interior eu vim aqui só pra isso, só pra assinar o decreto do Edilson e o seu decreto de aposentadoria".
Em outro trecho, Silva comentou ter conversado com o ex-governador Piana Filho, um dos articuladores de sua nomeação. "O Piana tá encantado, feliz também com você. "
Com Silva já conselheiro do TCE, ele e Carlão se articularam, em abril deste ano, pela nomeação do auditor Valdivino Crispim de Souza para o cargo de conselheiro. Juntos na articulação, segundo a investigação da PF, aparecem Cassol, Magno Ramos, Expedito Júnior e o auditor que pleiteia o cargo.
As articulações fazem com que Crispim de Souza seja eleito com 19 votos para o TCE. No dia 18 de abril, em telefonema de Edilson Silva para Cassol, eles comentam a eleição do novo conselheiro. Em um trecho do diálogo, o governador pergunta sobre a eleição: "Já aprovou tudo aí?". Silva responde: "Eu tô indo aí colher sua assinatura e levar o mais fresco conselheiro de Rondônia".
Cassol disse que, na época da nomeação de Silva, não existia nada que o desabonasse. Sobre as gravações, afirma que não se responsabiliza por citações de seu nome. A Folha não localizou Piana, Expedito e os advogados dos outros citados.


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