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Primo de Renan agiu como testa-de-ferro dos Calheiros
Fazenda negociada com senador e deputado foi registrada no nome de Tito Uchôa
Presidente do Senado
é suspeito de ter utilizado
laranjas e de registrar
crescimento patrimonial
incompatível com sua renda
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Documentos obtidos pela
Folha e entrevistas concedidas
por dois ex-proprietários de
terras em Alagoas apontam
Idelfonso Tito Uchôa, primo de
Renan Calheiros (PMDB-AL),
como testa-de-ferro da família
do presidente do Senado.
Renan é acusado em três representações ao Conselho de
Ética do Senado de omitir bens,
usar laranjas e ter um crescimento patrimonial que seria
incompatível com sua renda.
Jorge Florentino dos Santos
contou à Folha que vendeu, em
1995, a Fazenda Sítio Lagoa 3
ao senador e seu irmão deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), mas que o responsável pelos pagamentos e pela assinatura da escritura foi Uchôa.
"Vendi para ele [Renan] e para o irmão dele, o Olavo. A assinatura, inclusive, não foi dos
dois. Foi o Tito Uchôa o responsável pelos pagamentos.
Foi o interlocutor da transação, sabe?", disse Santos.
A certidão de propriedade do
imóvel, registrada no município de Flexeira (AL), continuava até maio deste ano no nome
de Tito Uchôa. "Na época foi
por uns R$ 120 mil. Eu recebi
duas salas aqui no chamado
edifício Rui Palmeira e um cheque do banco Itaú. Se não tô
enganado, uma parte foi em dinheiro vivo", afirmou Santos.
Ele disse ter quase certeza de
que as salas estavam no nome
de Olavo, mas ressaltou que teria de achar os documentos da
transação. Olavo declarou no
Imposto de Renda de 1998 ter
dado baixa em 1996 em duas
salas comerciais exatamente
no edifício Rui Palmeiras, o que
indica que de fato ele estava envolvido na compra da fazenda.
Já Benedito Vieira da Silva
disse ter vendido a Fazenda
Alagoas para Uchôa por R$ 600
mil em 1998. Seis anos depois,
Renan declarou à Receita ter
comprado a mesma fazenda de
seu primo por R$ 400 mil. Assim como no caso da Lagoa 3,
até maio deste ano a Alagoas
estava no nome de Uchôa.
"Eu vendi para o senhor Tito
Uchôa. Na época foi R$ 600
mil. Pagou com negócios, dinheiro, um bocado de coisas",
disse Benedito. Em 1998 Uchôa
era funcionário da Delegacia
Regional do Trabalho de Alagoas, com salário de R$ 1.390.
Benedito ressaltou que tratou sempre com Uchôa, mas
deu a seguinte resposta ao ser
questionado como o primo dos
Calheiros soube que sua propriedade estava à venda: "As
propriedades eram vizinhas
das terras do senador, e eu tinha para vender, né?".
Benedito contou que vendeu
somente as terras, tendo negociado o gado com outros fazendeiros. As fazendas na região
de Flexeiras tiveram grande
valorização nos últimos anos.
Em 1999, Olavo declarou ao
Incra que a terra nua da Fazenda Boa Vista, suspeita de ter sido grilada pelo deputado, valia
R$ 260 mil. Em 2003, o Banco
do Nordeste avaliou a terra nua
da Boa Vista por R$ 1 milhão.
Ou seja, uma valorização de
283%, o que contrasta com a
redução de preço informada
por Renan ao declarar a compra da Fazenda Alagoas.
A certidão da Alagoas revela
que a propriedade teve origem
na Fazenda Lagoa 2, colada à
Lagoa 3, que Jorge Florentino
diz ter vendido aos irmãos Calheiros por meio de Uchôa.
Os negócios de Uchôa e dos
Calheiros se confundem. O primo é sócio de Renan Calheiros
Filho em uma gráfica (capital
inicial de R$ 1,05 milhão) e
duas empresas de radiodifusão
que detêm sete concessões de
rádio em Alagoas, avaliadas hoje em cerca de R$ 3,5 milhões.
Segundo a revista "Veja", as rádios são na verdade de Renan.
O advogado de Renan,
Eduardo Ferrão, disse na semana passada que Uchôa é o
responsável pela contabilidade
das fazendas do senador, incluindo as vendas de gado por
meio de um esquema fraudulento a empresas fantasmas.
Em sua tentativa de provar
possuir renda suficiente para
cobrir as despesas com a filha
que teve com a jornalista Mônica Veloso, de R$ 12 mil mensais, o senador apresentou documentos de venda de gado.
Parte dos bois veio de fazendas
da mãe do senador, Ivanilda, e
de outro irmão, Remi.
A terceira fazenda de Renan,
a Novo Largo, foi adquirida de
seu primo e irmão de criação
Dimário Calheiros. Em 2005,
Dimário denunciou ao Ministério Público Federal que Renan o teria usado como laranja.
Ele descobriu que seu nome
figurava como dono da Fazenda Cocal, incluída na lista de indenizações do Ibama a propriedades localizadas na reserva
ecológica de Murici. Dimário
afirmou que a fazenda nunca
pertenceu a ele.
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