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ÁREA SOCIAL
Ministro contabiliza ações de 15 pastas para minimizar redução de seu orçamento de R$ 1,7 bi para R$ 400 mi
Graziano infla Fome Zero com verba alheia
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro José Graziano (Segurança Alimentar) apresentou números ontem que inflam o orçamento do Fome Zero dos R$ 400
milhões que haviam sido anunciados no mês passado pela equipe econômica para R$ 15 bilhões.
Essa multiplicação só ocorreu
graças a uma transferência virtual
feita nos documentos apresentados pelo ministro das 58 ações desenvolvidas por 15 ministérios para a marca do principal programa
social do governo federal.
Ao apresentar, ontem, o que
chamou de orçamento do Fome
Zero para 2004, Graziano contabilizou ações desenvolvidas por
15 ministérios. Nessa conta entraram, por exemplo, todos os recursos previstos para a unificação
dos programas sociais: R$ 5,1 bilhões. Só que essa verba é resultado da conjunção de pelo menos
quatro programas: o Cartão-Alimentação, o Bolsa-Escola, o Bolsa-Alimentação e o Vale-Gás.
Também entraram nessa conta
recursos previstos para programas de educação e de saúde. Até o
programa de erradicação do analfabetismo, o Brasil Alfabetizado,
lançado anteontem, foi considerado uma ação do Fome Zero.
O Programa de Saúde da Família, do Ministério da Saúde, também entrou nessa contabilidade.
Ou seja: todos os investimentos
relacionados à área social, mesmo
os de outros ministérios, entraram na grife do Fome Zero.
Em agosto, quando o Orçamento para 2004 foi divulgado, a pior
notícia foi reservada para Graziano. O volume de verbas destinado
para sua pasta foi de cerca de R$
1,7 bilhão para R$ 400 milhões.
Hoje dono do terceiro maior orçamento da área social, o pai do
Fome Zero ficará atrás de outros
seis ministros no ano que vem. A
vitrine do programa, o pagamento de R$ 50 por mês a famílias pobres do semi-árido por meio do
Cartão-Alimentação, ficará a cargo do Ministério da Saúde.
Para Graziano sobraram ações
"complementares" de combate à
fome, como a compra de alimentos, informou o ministro Guido
Mantega (Planejamento). No orçamento do ministério, estão previstas ainda, de forma genérica,
ações de melhoria das condições
socioeconômicas de famílias.
Até programas que não têm relação direta com o combate à fome e à pobreza entraram na lista,
caso das ações de qualificação
profissional do SUS (Sistema Único de Saúde). A assessoria do Mesa (Ministério da Segurança Alimentar) informou que a execução
do Fome Zero é função de todo o
governo e não apenas da Segurança Alimentar.
O Fome Zero, informou Graziano, antecipou o cumprimento das
metas de atendimento. Em agosto, 298.592 famílias receberam os
R$ 50 do cartão-alimentação. Esse
número vai aumentar para
758.870 já em setembro, beneficiando 4 milhões de pessoas.
Graziano classificou de "calúnia" a informação de que agentes
do Fome Zero estejam fazendo
campanha para filiação ao PT.
No domingo, a Folha publicou
reportagem mostrando que a
coordenadora do programa no
Piauí, Rosângela Sousa, estimulou a criação do partido na cidade,
reunindo-se com simpatizantes e
recém-filiados, o que ela admitiu.
A campanha de filiação é feita,
entre outros, pelo membro do comitê gestor local do Fome Zero
Carlos Ferreira. "Reconhecemos
o direito de um voluntário de se
filiar [ao PT ou a qualquer partido]. Não proibimos filiação porque faz parte do processo democrático", afirmou. Ele disse que
todos podem participar do programa: "Não pedimos carteirinha
para participar do Fome Zero".
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