UOL

São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ÁREA SOCIAL

Ministro contabiliza ações de 15 pastas para minimizar redução de seu orçamento de R$ 1,7 bi para R$ 400 mi

Graziano infla Fome Zero com verba alheia

GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro José Graziano (Segurança Alimentar) apresentou números ontem que inflam o orçamento do Fome Zero dos R$ 400 milhões que haviam sido anunciados no mês passado pela equipe econômica para R$ 15 bilhões.
Essa multiplicação só ocorreu graças a uma transferência virtual feita nos documentos apresentados pelo ministro das 58 ações desenvolvidas por 15 ministérios para a marca do principal programa social do governo federal.
Ao apresentar, ontem, o que chamou de orçamento do Fome Zero para 2004, Graziano contabilizou ações desenvolvidas por 15 ministérios. Nessa conta entraram, por exemplo, todos os recursos previstos para a unificação dos programas sociais: R$ 5,1 bilhões. Só que essa verba é resultado da conjunção de pelo menos quatro programas: o Cartão-Alimentação, o Bolsa-Escola, o Bolsa-Alimentação e o Vale-Gás.
Também entraram nessa conta recursos previstos para programas de educação e de saúde. Até o programa de erradicação do analfabetismo, o Brasil Alfabetizado, lançado anteontem, foi considerado uma ação do Fome Zero.
O Programa de Saúde da Família, do Ministério da Saúde, também entrou nessa contabilidade. Ou seja: todos os investimentos relacionados à área social, mesmo os de outros ministérios, entraram na grife do Fome Zero.
Em agosto, quando o Orçamento para 2004 foi divulgado, a pior notícia foi reservada para Graziano. O volume de verbas destinado para sua pasta foi de cerca de R$ 1,7 bilhão para R$ 400 milhões.
Hoje dono do terceiro maior orçamento da área social, o pai do Fome Zero ficará atrás de outros seis ministros no ano que vem. A vitrine do programa, o pagamento de R$ 50 por mês a famílias pobres do semi-árido por meio do Cartão-Alimentação, ficará a cargo do Ministério da Saúde.
Para Graziano sobraram ações "complementares" de combate à fome, como a compra de alimentos, informou o ministro Guido Mantega (Planejamento). No orçamento do ministério, estão previstas ainda, de forma genérica, ações de melhoria das condições socioeconômicas de famílias.
Até programas que não têm relação direta com o combate à fome e à pobreza entraram na lista, caso das ações de qualificação profissional do SUS (Sistema Único de Saúde). A assessoria do Mesa (Ministério da Segurança Alimentar) informou que a execução do Fome Zero é função de todo o governo e não apenas da Segurança Alimentar.
O Fome Zero, informou Graziano, antecipou o cumprimento das metas de atendimento. Em agosto, 298.592 famílias receberam os R$ 50 do cartão-alimentação. Esse número vai aumentar para 758.870 já em setembro, beneficiando 4 milhões de pessoas.
Graziano classificou de "calúnia" a informação de que agentes do Fome Zero estejam fazendo campanha para filiação ao PT.
No domingo, a Folha publicou reportagem mostrando que a coordenadora do programa no Piauí, Rosângela Sousa, estimulou a criação do partido na cidade, reunindo-se com simpatizantes e recém-filiados, o que ela admitiu.
A campanha de filiação é feita, entre outros, pelo membro do comitê gestor local do Fome Zero Carlos Ferreira. "Reconhecemos o direito de um voluntário de se filiar [ao PT ou a qualquer partido]. Não proibimos filiação porque faz parte do processo democrático", afirmou. Ele disse que todos podem participar do programa: "Não pedimos carteirinha para participar do Fome Zero".


Texto Anterior: No PSB, irmã de Marisa nunca votou em Lula
Próximo Texto: Programa tem ações estruturais e emergenciais
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.