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JANIO DE FREITAS
A direção da maré
Se a carta pública de Fernando Henrique lançou
a crise no PSDB, a crise
reencontra a sua origem
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SE A CARTA PÚBLICA de Fernando
Henrique Cardoso, de cobranças aos seus companheiros e
ataques a Lula, levou o PSDB a mal
disfarçada crise, as declarações que
proporcionou, como sobremesa para o veneno, equivalem à chamada
pá-de-cal na campanha de Geraldo
Alckmin. "Se fosse José Serra, não
quer dizer que...mesmo que fosse
José Serra...", dando fim às reticências com o melhor desalento:
"Quando a maré está de um lado, é
muito difícil".
As reticências não esconderam o
que Fernando Henrique não quis
completar. Mas, formalmente completa ou não, a idéia exposta implica
um subterfúgio.
Quando Fernando Henrique e
Tasso Jereissati conduziram a escolha do candidato peessedebista, a
maré não estava do lado em que está. Lula oscilava, entre um e outro
instituto de pesquisa, de 30 a 35%
das preferências.
Eram freqüentes, então, as afirmações de que estava no seu teto
tradicional, constituído pelos lulistas/petistas inabaláveis, com as possibilidades de crescimento muito
enfraquecidas pelos escândalos.
A maré não virou de lado por si.
Foi virada. Por ação conjunta dos
dois lados. Lula valeu-se dos meios e
dos pretextos do governo e antecipou campanha intensa pelo país todo, recebendo como um horário
eleitoral particular, e primeiras páginas idem, uma promoção diária,
farta, intromissiva: promoção literalmente espetacular.
Não é que os cardeais do PSDB
nos tenham negado um espetáculo,
é claro, à sua maneira. Pudemos vê-los, aos três ou quatro, à volta de garrafas de vinho que, já disse aqui, Fernando Henrique pede e Tasso Jereissati paga, em restaurantes do
melhor padrão paulistano. Faziam a
longa escolha do candidato de seu
partido. O coronelismo recomposto
e, em conformidade com os tempos,
saído do interior para a modernidade urbana.
Na ocasião, tanto foi dito que Serra preferia concorrer ao Estado, como dito que temera a disposição de
Alckmin de "ir até o fim" na disputa
pela indicação partidária.
Serra é o perseguido eterno, ninguém se queixou mais de jornalistas
do que ele. Se não for adulado, eis o
sinal de que é perseguido.
Nunca se saberá, então, o quanto
certos fatores influíram para que a
Serra, naquelas mesas, fossem oferecidos menos estímulos eleitorais
do que enológicos.
Mas é notória a precariedade das
relações políticas e pessoais entre
Serra e Jereissati. Assim como as variadas razões da disputa, já longeva,
entre Fernando Henrique e Serra.
Apesar disso, não é difícil admitir
que quem se dispõe a relegar a prefeitura paulistana ainda no princípio do mandato - ato de ética tão
mais questionável, em relação aos
eleitores, quanto o substituto não
era ou é isento de restrições -, não
precisaria de muito mais para pretender a Presidência, e não o governo estadual.
Sobretudo, vale relembrar, quando Lula era visto "no seu teto" e, ao
imenso eleitorado de Serra em
2002, em 2006 tenderia a somar-se
boa parte da massa de decepcionados com o presidente e seu governo.
Se a carta de Fernando Henrique
lançou a crise no PSDB, a crise reencontra a sua origem. Estava erradamente atribuída a Alckmin. Falta,
agora, uma carta de Jereissati.
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