São Paulo, domingo, 10 de setembro de 2006

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Apesar de incomodar PT, Suplicy é convocado a socorrer Mercadante

Dirigentes da sigla acusam senador de individualismo, mas pedem seu apoio

Tuca Vieira - 4.set.06/Folha Imagem
O senador Eduardo Suplicy durante jantar de arrecadação para a sua campanha, em São Paulo


FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Já passava das 16h da última quinta-feira quando estacionou abruptamente a caminhonete que transportava o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) em uma carreta em São Miguel Paulista, zona leste de SP. Dois candidatos a deputado pelo PT que o acompanhavam descem, após decidirem não seguir até o próximo bairro. Suplicy também deixa o veículo, mas segue com o seu motorista e assessoras para o evento seguinte.
Meia dúzia de militantes e moradores recebe o senador. Assessores reclamam da ausência de solidariedade dos deputados. Descobrem que naquele reduto o PT já não é bem-visto há algum tempo.
Os organizadores desesperam-se, tentam chamar alguém pelo celular. "Vocês sabem o que é a renda básica de cidadania?", pergunta Suplicy. "Uma utopia!", berra um rapaz. Suplicy não pára, apesar do constrangimento, da platéia minúscula. É mais um vôo solo.
Nestas eleições, Suplicy concorre ao terceiro mandato para o Senado. Se vencer, pode completar 24 anos de Casa. Segundo o mais recente Datafolha, o petista tem 40% das intenções de voto contra 11% do pefelista Guilherme Afif.
No PT, o senador recebeu as pechas de individualista e inconveniente. "Ele tem feito tudo muito voltado aos seus princípios, que às vezes conflitam com orientações partidárias", diz Paulo Fiorillo, presidente do PT do município de SP.
Na semana passada, Fiorillo ainda tentava conciliar a agenda do senador com a de seu colega Aloizio Mercadante. "Há um mês, ele [Suplicy] se colocou à disposição, mas, talvez por problema burocrático, ainda precisa sintonizar."
Para petistas, há episódios protagonizados por Suplicy que exemplificam a mescla de constrangimento e individualismo, como o ocorrido na gestão Luiza Erundina (1989-1992). Ele levou o irmão -autor de declarações contra judeus- a evento da comunidade israelita para que se justificasse. Erundina, presente na cerimônia, ficou desesperada. A comunidade judaica, enfurecida.
Já na separação de Marta Suplicy (PT), o senador provocou a ira do núcleo duro da prefeita porque teria se feito de vítima frente às câmeras -Valdemir Garreta, ex-secretário do Abastecimento na gestão da petista, o culpou pela derrota de Marta na busca pela reeleição.
Suplicy também assinou em maio do ano passado o requerimento pela CPI dos Correios, à revelia da orientação da bancada. Mas depois levou o apoio de outros senadores petistas. Agora divulga aos quatro ventos conselhos para o presidente Lula, como ir ao Congresso explicar o escândalo do mensalão, ir aos debates. Não pára de falar sobre as mortes dos prefeitos petistas Celso Daniel (Santo André) e Toninho (Campinas).
Por outro lado, não deixou de prestar serviços ao PT, como quando quis que o depoimento de Francenildo Costa, o caseiro que derrubou Antônio Palocci do Ministério da Fazenda, ocorresse em sessão reservada da CPI dos Bingos.
Talvez resultado de sua peculiar situação no PT, seu jantar de arrecadação na semana passada estava vazio de lideranças petistas. Só Paulo Frateschi, presidente estadual, apareceu. Suplicy usou o esforço concentrado do Congresso para explicar a ausência de figurões.
Até agora, o senador arrecadou para sua campanha R$ 514,5 mil, sendo que R$ 330 mil referem-se a doações de empresas. A maior foi a do Banco Itaú (R$ 150 mil) e a segunda, da Embraer (R$ 100 mil).
O senador, que pretende não gastar mais de R$ 1,5 milhão na campanha, mantém a prestação de contas em seu site (www.suplicy131.com.br).
"Ele está acima do partido. Mais fácil ele trazer gente para o PT do que o PT para ele", diz o marqueteiro Chico Malfitani.


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